Por Dina Ezzat*
Na primeira visita oficial de alto nível ao Egito desde 2017, Antonio Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, esteve três dias no Cairo no final de setembro. Ele foi recebido pelo presidente Abdel-Fattah Al-Sisi e realizou conversas com altos funcionários egípcios, incluindo o primeiro-ministro Mustafa Madbouli, para discutir maneiras de impulsionar as relações bilaterais nos próximos anos.
“Esta visita e as reuniões que o vice-presidente Mourão do Brasil realizou no Cairo, além do fato de ele ter sido recebido pelo presidente Al-Sisi certamente darão impulso às relações bilaterais em todas as frentes”, disse Wael Abul-Magd, embaixador do Egito no Brasil .
Apesar da distância geográfica que separa os dois países, tanto Egito quanto Brasil desejam se engajar e avançar ainda mais em suas relações bilaterais, acrescentou Abul-Magd.
Em declarações ao jornal Al-Ahram por telefone, desde Brasília, Abul-Magd destacou que a cooperação econômica, comercial e cultural estão entre os principais objetivos para a expansão das relações bilaterais entre os dois países.
Segundo destacou, o Egito é um dos principais destinos das exportações brasileiras entre os países árabes. No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileiras para o país africano somaram cerca de US$ 768 milhões. No mesmo período, as importações brasileiras do Egito ficaram em torno de US$ 315 milhões.
As exportações brasileiras para o Egito nos primeiros seis meses do ano caíram 14%, mas as importações brasileiras do Egito tiveram um aumento de 215%.
No entanto, de acordo com o embaixador, esses números não refletem o potencial real das relações comerciais entre duas economias emergentes do porte do Egito e do Brasil, que também podem servir uma à outra como porta de entrada para seus respectivos regiões e mercados.
O Egito tem um acordo de livre comércio com o Mercosul, assinado em 2017. Desde que esse acordo entrou em vigor, as exportações egípcias para os quatro membros do grupo, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, aumentaram cerca de 115%.
“O potencial de expansão do comércio com o Mercosul é muito alto. Fizemos conversas sobre comércio entre Egito e Mercosul no início deste mês para avaliar o progresso e identificar quaisquer impedimentos potenciais para nos beneficiarmos plenamente deste importante acordo ”, disse o embaixador do Egito no Brasil.
Abul-Magd acrescentou que apesar de ver com satisfação o crescimento gradual do comércio entre os dois países, está trabalhando duro para “expandir as relações econômicas além da importação e exportação de bens e produtos, incluindo os domínios de investimentos mútuos, joint ventures, intercâmbio de conhecimentos e cooperação em áreas mais amplas, como tecnologia da informação, produtos farmacêuticos e muito mais”, de acordo com as capacidades de ambos os países.
“Também precisamos fazer mais para familiarizar as empresas de ambos os lados com as oportunidades disponíveis nos dois países para investimentos mútuos, especialmente nas zonas de livre comércio e nas zonas industriais”, acrescentou.
Ele acredita que os voos diretos entre Cairo e Brasília, que devem ter início em breve, seriam uma virada de jogo nas relações bilaterais, facilitando a interação de alto nível mais frequente, contatos mais fáceis entre comunidades de negócios de ambos os lados, bem como mais interação pessoal por meio do aumento turismo e intercâmbio cultural. Os detalhes do lançamento destes voos, estão sendo discutidos entre os órgãos competentes das duas capitais.
“Estou esperançoso de que as coisas avançarão com os voos diretos mais cedo ou mais tarde”, disse ele, sem falar sobre datas específicas.
O embaixador Abul-Magd disse ainda que a abertura de um escritório regional da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, paralelamente à visita de Mourão ao Cairo, “certamente nos ajudará a avançar”.
A Câmara é formada por empresas brasileiras que têm interesses e investimentos em vários países árabes, por isso valorizam os ganhos potenciais com a presença no Egito. “Estou confiante de que eles desempenharão um papel central na construção de pontes e na conexão de empresas de ambos os lados, bem como no fornecimento de informações e dados relevantes em relação a potenciais oportunidades de comércio e investimento no Brasil e no Egito”, avalia Abul-Magd.
Cooperação Cultural
Ele acrescentou que os dois países, “com suas duas culturas muito ricas”, têm muito mais trabalho a fazer para expandir sua cooperação cultural. “Estou realmente inspirado e impressionado com o interesse que os brasileiros têm pela cultura e civilização do Egito Antigo e tenho certeza de que eles ficarão igualmente fascinados por outros aspectos de nossa herança civilizacional, seja ela cristã copta, greco-romana ou islâmica, e estou confiante de que, assim que os voos diretos estiverem operando, o volume de turismo entre os dois países aumentará drasticamente.”
Estatísticas do governo indicam que a média anual de turistas do Brasil para o Egito durante os últimos cinco anos não passou de meio milhão. Em 2017, com a assinatura do acordo de livre comércio com o Mercosul, o Ministério do Turismo pretendia dobrar esse valor. No entanto, as coisas não melhoraram.
Abul-Magd atribui isso parcialmente aos efeitos da pandemia Covid-19 na indústria global de viagens e turismo, bem como a consequente desaceleração econômica em todo o mundo, que afetou o volume geral do turismo internacional. Ele disse que “à medida que nos recuperarmos gradualmente dos efeitos da pandemia e quando os voos diretos começarem a operar, a situação melhorará”.
No plano político, acredjta que a visita do vice-presidente ao Egito também foi uma oportunidade para atualizá-lo sobre os mais recentes desenvolvimentos em questões regionais, especialmente porque o Brasil está prestes a assumir um assento não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas a partir de 2022.
“Estamos em constante consulta com autoridades em Brasília. Nós os mantemos atualizados e confiamos que o Brasil continuará mantendo suas posições tradicionais baseadas no respeito ao Direito Internacional e na solução pacífica de controvérsias ”, ressalta o diplomata egípcio.
Em Nova York, à margem das reuniões da Assembleia Geral da ONU há algumas semanas, o chanceler Sameh Shoukri reuniu-se com seu homólogo brasileiro Carlos Franca. As conversas ocorreram pouco antes da visita do vice-presidente do Brasil ao Egito. “Esperamos que esses compromissos de alto nível dêem início a uma cooperação ampliada em todas as frentes”, finalizou o embaixador.
* Material publicado originalmente no Ahram Online.
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