O retomada do poder pelo Talibã no Afeganistão gerou uma crise migratória de preocupação internacional. As imagens divulgadas pela imprensa do aeroporto de Cabul mostram como essa é uma situação dramática. A maioria dos afegãos saiu do país em aviões militares dos Estados Unidos e aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), sem saber ao certo para onde seriam levados.
Há registro de centenas de pessoas tentando fugir por via terrestre para países vizinhos, como Uzbequistão, Irã e Paquistão. Os dois últimos já absorveram cerca de 90% dos dois milhões e meio de afegãos desde 2001, quando começou a guerra. Não há um número oficial sobre quantos cidadãos estão querendo sair do Afeganistão agora. Segundo a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), mais de 550 mil foram forçados a deixar suas casas por causa da guerra, desde o início do ano.
A agência explica que os afegãos são a segunda maior população refugiada no mundo (atrás da Síria) e a primeira da Ásia, com aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. Disse ainda que cerca de 80% dos que buscam asilo em outros países são mulheres e crianças.
Diversas nações afirmaram que oferecerão asilo aos refugiados afegãos, mas os números aceitos por eles são bem tímidos considerando o tamanho da crise humanitária. O jornal inglês The Independent fez um apanhado das declarações oficiais sobre essa questão até o momento:
EUA – O presidente, Joe Biden anunciou na semana passada que os Estados Unidos disponibilizarão mais US$ 500 milhões para cuidar dos refugiados, mas a Casa Branca não especificou quantos refugiados irá acolher. Por enquanto, os afegãos que trabalharam de alguma maneira com o governo americano ao longo dos 20 anos da guerra foram retirados do país, mas levados para centros no Qatar, Alemanha, Kuwait, Espanha e Colômbia.
O governo norte-americano explicou que varia uma “verificação de antecedentes” antes de conceder um Visto de Imigrante Especial Afegão (SIV, na sigla em inglês). A expectativa é que seja entregue a pelo menos 30 mil refugiados este ano.
Reino Unido – O primeiro-ministro Boris Johnson anunciou que irá receber 20 mil refugiados afegãos, num programa de asilo emergencial. A prioridade é para mulheres, crianças e membros de minorias religiosas. Contudo, será aceitos apenas cinco mil este ano, com os demais entrando gradativamente ao longo dos próximos anos.
União Europeia – Há posicionamentos distintos no países do bloco, embora lideranças tenham feito um apelo por fronteiras abertas. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, disse que seu país poderá receber 30 mil afegãos. A Hungria declarou que acolherá apenas famílias que auxiliaram seus militares em missão no Afeganistão, mas não pretende abrir suas fronteiras. O presidente da França, Emmanuel Macron, não falou sobre números. Apenas comprometeu-se a proteger “aqueles em maior perigo”, mas frisou que a prioridade seriam defensores de direitos humanos, jornalistas e ativistas.
Albânia, Kosovo e Macedônia do Norte – Os países dos Bálcãs anunciaram que podem receber afegãos que saíram em busca de nova oportunidade na Europa, mas não detalharam quantos refugiados serão acolhidos por eles.
Austrália – O primeiro-ministro, Scott Morrison, declarou que seu país oferecerá refúgio a três mil afegãos, em um programa de ajuda humanitária já existente,
Uganda – O país africano abriu a possibilidade de permitir a entrada de 2.000 afegãos, mas não forneceu detalhes sobre como isso será feito.
Canadá – O governo canadense ofereceu asilo a 20 mil refugiados, também priorizando mulheres, minorias e ex-funcionários do governo afegão.
Tajiquistão, – País que faz fronteira com o Afeganistão, desde o início do ano centenas de afegãos já tentaram migrar para lá. Ainda em julho, o governo do Tajiquistão dizia que estava se preparando para acolher até 100.000 refugiados. Porém, há relatos que várias pessoas que atravessaram a fronteira ilegalmente foram enviadas de volta ao Afeganistão.
Uzbequistão – De acordo com o governo, cerca de 1.500 afegãos já cruzaram a fronteira e foram acolhidos. Até o momento não houve anúncio oficial de quantos mais serão recebidos.
Irã – Outro país vizinho que já hospeda refugiados afegãos há anos. No momento são 780.000 refugiados afegãos registrados. O governo iraniano criou campos com tendas de emergência em três de suas províncias. O Ministério do Interior disse na semana passada que “uma vez que as condições melhorassem, os migrantes serem repatriadas”.
Turquia – O presidente Recep Erdogan disse no domingo que seu governo trabalharia com o Paquistão para evitar um êxodo de refugiados do Afeganistão. Nos últimos dias, as autoridades intensificaram a construção de um muro na fronteira com o Irã para impedir a entrada.
Paquistão – Destino mais comum para os afegãos nos últimos 20 anos, o Paquistão já recebeu cerca de 3 milhões de refugiados. Agora fortificou sua fronteira para evitar um êxodo maciço. “Nossa economia não é estável o suficiente para receber mais e, ao mesmo tempo, a situação da covid-19 não nos permite abrir fronteiras”, justificou o Ministro da Informação Fawad Chaudhry.
Países que não aceitarão refugiados afegãos
Grécia – O governo grego já avisou que não tem a intenção de recebe refugiados e construiu um muro de 40 km na fronteira com a Turquia para evitar entradas ilegais.
Suíça – Em comunicado oficial, disse que não aceitará grandes grupos de refugiados.
Áustria – Recusou-se a receber refugiados afegãos. O chanceler Sebastian Kurz disse que era “contra” a entrada de refugiados.
Rússia – Não receberá nenhum refugiado afegão. O presidente Vladimir Putin justificou que não quer lidar com “extremistas” que se aproveitam para requerer asilo. Em vez de aceitar refugiados, ressaltou que fará “todo o possível” para melhorar a situação no Afeganistão.
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