A 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas foi encerrada nesta segunda-feira (27) suas atividades em Nova York. Alguns discursos deram o tom das relações internacionais e algumas ausências foram bastante sentidas nesta retomada da diplomacia pessoal, já que no ano passado, por causa da pandemia, a Assembleia foi realizada de modo virtual.
Em 2021 a opção foi pelo modelo híbrido, com cerca de 1/3 dos países membros preferindo enviar vídeos com os discursos das autoridades.
O discurso de encerramento do encontro diplomático mais importante do ano ficou a cargo do novo presidente da Assembleia Geral, Abdulla Shahid, que assumiu o posto este ano.
Ele destacou que a ONU “deu seu maior e mais ousado passo até agora para sair da pandemia. Devemos aproveitar este sucesso e continuar com o mesmo ímpeto”. Ao mesmo tempo, declaro que “nossa verdadeira medida de sucesso continua sendo nossa disposição e capacidade de dialogar e depositar nossa fé no sistema multilateral”.
Shahid fez um balanço da última semana, destacando que subiram ao icônico pódio de mármore verde 100 Chefes de Estado, 52 Chefes de Governo, três Vice-Presidentes e 34 Ministros. O Presidente da Assembleia comemorou que a cúpula foi “uma forte demonstração de nosso retorno à diplomacia pessoal”, destacando a importância dos encontros pessoais à margem do evento, que contribuem para o exercício diplomático.
No entanto, ele fez a ressalva que dos mais de 190 palestrantes deste ano, apenas 18 eram mulheres. “Já tive um debate dedicado com mulheres Chefes de Estado e de Governo, bem como com a União Europeia, sobre como promover a igualdade de gênero”, assegurou.
Embora muito tenha sido discutido na semana passada, os temas mais presentes foram a pandemia de Covid-19, as mudanças climáticas, conflitos armados e os riscos de instabilidade política. “O fato de cada uma dessas questões serem tão predominantes diz muito sobre o que o mundo deseja”, asseverou Shahid, acrescentando que a ONU deve agora abordar essas preocupações “de uma maneira que transforme cada desafio em uma oportunidade para fortalecer o multilateralismo e entregar resultados palpáveis”.
Em sua conclusão, apontou que o multilateralismo “está realmente vivo e bem”. Para ele, a realização desta Assembleia Geral foi “um sinal de um mundo que continua a acreditar no diálogo e na diplomacia, e que coloca sua fé em uma Organização das Nações Unidas sempre capaz e disposta”.
Entre os discursos do sexto e último dia, destaque para o novo primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, que teve encontros com os líderes do Bahrein e dos Emirados Árabes Unidos, fortalecendo os “Acordos de Abraão”, que completaram um ano.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores sírio, Faisal Mekdad, assegurou que “as portas da Síria estão abertas para o retorno seguro e voluntário de todos os refugiados ao seu país de origem. Todas as instituições relevantes na Síria estão trabalhando incansavelmente para esse objetivo”. Após mais de uma década de guerra civil, o êxodo em massa de sírios se estendeu por vários anos.
Outro discurso que chamou a atenção dos presentes foi de Kim Song, embaixador da Coreia do Norte, que reiterou as declarações do presidente do seu país, declarando que os norte-coreanos tem o direito de fazer testes de lançamentos de foguetes, pois isso é parte do sistema que lhes garante “paz e segurança”. A comunidade internacional observa atenta, após sucessivas ameaças de utilizar os foguetes para transportar ogivas nucleares.
Ausências
Entre as ausências mais notáveis este ano está a do presidente francês Emmanuel Macron, que foi representado pelo chefe da diplomacia. Jean-Yves Le Drian, que optou pelo envio de sua mensagem em vídeo pré-gravada, apesar de estar fisicamente presente na ONU por cinco dias.
Todos os 193 países que compõem a ONU tinham direito a usar a tribuna, mas nem Mianmar nem Afeganistão tiveram voz por conta da ausência de um representante do país.
O embaixador do Afeganistão, Ghulam Isaczai, foi nomeado pelo presidente deposto Ashraf Ghani. O governo do Talibã ainda não é reconhecido como legítimo por muitos países. Ghani optou por não se pronunciar e pediu que retirassem sem nome da lista de oradores. De fato, o pedido do novo governo afegão para que seu embaixador designado fizesse uso da palavra veio tarde demais, não havendo tempo hábil para deliberação sobre essa possibilidade.
O embaixador da Guiné, onde uma junta militar assumiu o poder após um golpe de Estado, também foi nomeado por Aly Diane, o presidente deposto. Porém, ele decidiu fazer uso da palavra. No caso de Mianmar, houve “um acordo entre Estados Unidos, Rússia e China” para que o embaixador do governo deposto, Kyaw Moe Tun, não fizesse intervenção, noticiou a imprensa que cobre o evento. Desde o golpe militar de 1º de fevereiro, Tun manteve seu cargo na ONU, com o apoio da comunidade internacional, embora a junta nomeou um ex-militar para substituí-lo, mas não recebeu autorização da ONU para viajar a Nova York.
Um dos últimos a falar no último dia do fórum multilateral foi o Ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, em representação do presidente Daniel Ortega, que fez um apelo em favor do acesso de todos às vacinas contra a Covid e a criação de um novo modelo econômico internacional. Ele deu garantias que as eleições programadas para novembro vão ocorrer conforme o previsto, embora parte da comunidade internacional tenha questionamentos sobre a lisura do processo.
* Com informações de UN News