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Por Carlos Alvarado Quesada, Jacinda Ardern, Stefan Löfven, Cyril Ramaphosa, Macky Sall e Pedro Sánchez *
No ano passado, as Nações Unidas realizaram uma consulta mundial envolvendo mais de um milhão de pessoas de 193 países. As respostas apontaram para alguns fatos importantes. E a Assembleia Geral da ONU deste ano deve responder reforçando o multilateralismo baseado em regras.
Para começar, a consulta descobriu que as expectativas e esperanças das mulheres, homens, meninas e meninos do mundo são surpreendentemente semelhantes. As pessoas querem melhor acesso a cuidados básicos de saúde, saneamento e educação. Também desejam ver mais solidariedade com os mais afetados pela pandemia e com os que vivem na pobreza. A principal preocupação das pessoas, no longo prazo, é a crise dupla da mudança climática e da acelerada perda de biodiversidade. Quase 90% dos participantes concordam que a cooperação global é vital para lidar com os desafios de hoje, e a maioria acredita que a pandemia tornou a cooperação internacional ainda mais urgente. Parece especialmente encorajador o fato de os jovens em todo o mundo claramente desejarem mais cooperação internacional.
A consulta do ano passado foi um apelo à ação. Agora, o secretário-geral da ONU, António Guterres, divulgou o desafio da “Nossa Agenda Comum”, que segue a Declaração Política dos 75 anos das Nações Unidas, adotada por todos os chefes de Estado e de Governo membros da ONU há um ano. A nova agenda apresenta um plano ousado de como podemos enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.
A ameaça de colapso deve ser vista como uma oportunidade de avanço. É por isso que estamos nos comprometendo a aumentar o apoio de nossos países aos esforços do secretário-geral para transformar a ambiciosa agenda da ONU em realidade.
A pandemia COVID-19, que ainda combatemos em nível global, reforçou a mensagem de que vivemos em um mundo interconectado e interdependente. Além disso, nos últimos meses, vimos um número recorde de pessoas afetadas por ondas de calor, inundações devastadoras e alguns dos maiores incêndios florestais da história recente. Tudo isso confirmou mais uma vez a ameaça sem paralelo representada pelas mudanças bruscas de nosso clima.
A ONU é o coração do sistema internacional. É extraordinário que o mundo tenha se unido há 76 anos para criar uma organização visando “alcançar a cooperação internacional na solução de problemas internacionais”. Sendo ainda mais impressionante que esta organização, apesar de seus desafios e deficiências, tenha resistido por tanto tempo. Isso mostra que o caminho para um futuro melhor, mais pacífico e sustentável é pavimentado com cooperação e não com competição.
No entanto, as organizações internacionais mundiais foram construídas principalmente para resolver desafios interestaduais, não problemas que transcendem fronteiras, como crises financeiras, pandemias, terrorismo, redes de crime, ameaças aos oceanos ou mudanças climáticas. Portanto, devemos modernizar nossas instituições multilaterais, tornando-as adequadas para o propósito comum e mais bem equipadas para lidar com os desafios globais e entre gerações que enfrentamos.
Tendo observado as diferenças marcantes entre o mundo em que vivia a geração fundadora da ONU e o mundo de hoje, decidimos reavivar o debate sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU, continuar o trabalho de revitalizar a Assembleia Geral e fortalecer a Política Econômica e o Conselho Social. Em consonância com a Declaração Conjunta que assinamos em 10 de novembro de 2020, em Madri, vemos três áreas de ação que devem ser enfatizadas a fim de fazer avançar nosso objetivo comum de fortalecer o multilateralismo.
Primeiramente, precisamos de um compromisso renovado com a cooperação internacional. As organizações multilaterais devem ter o compromisso de fazer a diferença e receber os meios para isso. A cooperação entre a ONU, organizações regionais e instituições financeiras internacionais deve melhorar tanto no nível político quanto no operacional. O sistema multilateral precisa ser mais aberto e inclusivo para dar aos jovens, à sociedade civil, ao setor privado, à academia e a outros um lugar na mesa.
Já estamos colocando isso em prática. À margem da Assembleia Geral deste ano, organizamos o evento virtual “Cumprindo a Agenda Comum da ONU: Ação para Alcançar Igualdade e Inclusão” em colaboração com a iniciativa Desbravadores para Sociedades Pacíficas, Justas e Inclusivas. Pretendemos garantir que todas as vozes sejam ouvidas.
Em segundo lugar, devemos agir de acordo com a agenda do Secretário-Geral, com medidas ousadas para reviver e fortalecer nossa capacidade de enfrentar a pobreza e a desigualdade; garantir inclusão, participação igualitária e justiça; enfrentar a crise climática e acelerar a perda de biodiversidade; e nos equiparmos para futuras ameaças de pandemias.
Aprendemos com a crise sanitária causada pela COVID-19 que precisamos fortalecer nossa habilidade coletiva de antecipar, prevenir e gerenciar riscos complexos, como surtos de doenças, novas guerras, ataques cibernéticos massivos, desastres ambientais ou outros eventos imprevistos. Portanto, acolhemos com satisfação as sugestões do secretário-geral sobre como fortalecer a capacidade de previsão e gestão de risco global, incluindo a proposta de uma nova “Plataforma de Emergência” global.
Por último, acolhemos com satisfação a proposta de realizar uma “Cúpula do Futuro”, em 2023. Devemos aproveitar essa oportunidade para intensificar nossos esforços de fortalecimento da cooperação internacional. No mundo de hoje, com tantos problemas reverberando além das fronteiras e gerações, devemos aproveitar este momento para criar um sistema multilateral mais ágil, eficaz e responsável que atenda a todos os cidadãos e nos permita enfrentar os desafios globais que enfrentamos. Queremos estar na vanguarda desse empreendimento. Juntos, podemos e devemos revigorar o multilateralismo baseado em regras, com uma ONU mais forte e inclusiva em seu núcleo. Esta é a grande tarefa política de nossos tempos.
* Carlos Alvarado Quesada é presidente da Costa Rica. Jacinda Ardern é a primeira-ministra da Nova Zelândia. Stefan Lofven é o primeiro-ministro da Suécia. Cyril Ramaphosa é o presidente da África do Sul. Macky Sall é presidente do Senegal. Pedro Sanchez é o primeiro-ministro da Espanha.