“Pureza”, filme baseado em fatos reais protagonizado pela atriz Dira Paes e dirigido por Renato Barbieri, acaba de receber seu 26º prêmio. Agora, a premiação vem do El Festival Internacional de Cine da Colômbia, que selecionou a obra como o “melhor longa-metragem” na categoria Symbiosis 2021. O filme fala de trabalho escravo rural e contemporâneo no Brasil. Narra a jornada de Pureza Lopes Loyola, em busca de seu filho desaparecido no coração da Amazônia.
Com duração de 101 minutos, “Pureza” já foi exibido em 34 festivais. Ganhou 26 prêmios nacionais e internacionais em 17 países: Brasil, França, EUA, Guadalupe, Itália, Rússia, China, Alemanha, Panamá, Bolívia, Marrocos, Cuba, Reino Unido, México, Argentina, Colômbia e Líbano.
“Esses prêmios nos deixam felizes e realizados, porque temos conseguido nos comunicar com diferentes povos e culturas. O filme tem emocionado as pessoas”, comenta o diretor Renato Barbieri, em entrevista exclusiva ao Diplomacia Business. Ele elogia a atuação da Dira Paes, a intérprete da mãe de um trabalhador escravizado e ressalta que o trabalho escravo rural na Amazônia é um drama que persiste.
Operações caras
“As políticas de combate ao trabalho escravo foram feitas no Brasil de forma eficiente de 1995 até 2015. Isso mostramos no filme, o grupo móvel. Essas políticas viraram referência internacional, mas elas vêm sendo desmontadas”, afirma o cineasta, lembrando que Ministério do Trabalho foi extinto e os recursos para o setor – as operações são caras – estão minguando. “Tudo isso piora a situação para lá de dramática desses trabalhadores brasileiros”. Segundo a organização Walk Free – cita o diretor de “Pureza” – em 2018, estavam em condições de escravidão 369 mil brasileiros. “Acreditamos que esse número não diminuiu”.
“Nós estamos chamando a atenção para um drama brasileiro – prossegue o diretor – que também é mundial – do capitalismo selvagem e esse drama da Pureza é universal, de uma mãe que busca seu filho numa luta desesperada. Estamos orgulhosos de realizar um filme que está sendo percebido por muitos países”. Segundo Barbieri, a ideia era lançar o filme no início de 2020, mas devido à pandemia, aguarda-se o melhor momento. “Estamos com uma grande distribuidora, a Downtown Paris Filmes, que acredita muito no filme e prevê o lançamento em 2022”.
Servidão
Em paralelo à “Pureza”, Renato Barbieri dirigiu “Servidão”, longa-metragem que trata também de escravidão, e ganhou vários prêmios, o último em Trinidad e Tobago. Os dois filmes estão sendo divulgados em dezenas de países, sobretudo em festivais de cinema. Barbieri lança em outubro dois longas documentais sobre antologias musicais pelo Canal Curta: “Ventos que sopram Pará”, com sua direção e protagonizado por Felipe Cordeiro; e “Ventos que sopram Maranhão”, com direção de Neto Borges e tendo como mestre de cerimônia Zeca Baleiro.
Barbieri também está montando “Tesouro Natterer”, que ele filmou na Áustria e no Brasil, mostrando o trabalho de Johann Natterer, o naturalista integrante de uma expedição realizada há 200 anos. Natterer veio ao Brasil com a comitiva da imperatriz Leopoldina, primeira mulher de dom Pedro I e ficou 18 anos no país. Montou uma coleção de objetos naturais etnográficos, “coleção monumental de 55 mil peças, sendo 2.700 de 70 etnias indígenas, algumas já extintas. É considerado maior acervo etnográfico do Brasil e do mundo”. Barbieri ainda está produzindo o filme “De longe toda serra é azul”, com direção de Neto Borges, e a série de animação “Jeitos de mudar o mundo”, para crianças de seis a 11 anos.
Sinopse de Pureza
Nos anos 90, uma mãe, “Pureza”, sai a procura de seu filho desaparecido e encontra fazendas praticando o trabalho escravo no interior da Amazônia. Abel, o filho, desapareceu após partir para o garimpo. Em sua busca, a mãe encontra um sistema de aliciamento e cárcere de trabalhadores rurais. Pureza, se emprega numa fazenda, onde testemunha o tratamento brutal de trabalhadores e o desmatamento da floresta. Escapa e denuncia os fatos às autoridades Federais. Sem credibilidade, e lutando contra um sistema forte e perverso, ela retorna à floresta para registrar provas.
“Pureza” mergulha na secular tradição escravagista brasileira. “Apresenta atores profissionais e não atores – trabalhadores reais, ex-escravizados – preparados em conjunto para que o filme alcançasse a densidade desejada”, explica o diretor. A protagonista Pureza é uma mulher simples, disposta a tudo para poder resgatar o filho Abel em uma fazenda de gado na Amazônia.
“Pureza” tem fotografia de Affonso Beato; música do compositor americano Kevin Riepl. Tem versões em português, espanhol, inglês e francês. “Urgente, emocionante”, afirmou o cineasta Fernando Meirelles sobre o filme. “Não podia ser mais atual”, comentou outro diretor, Cacá Diegues.
Prêmios recebidos pelo filme “Pureza”
- “Melhor Filme – Júri Popular” (Troféu Panavison) – 24º FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul;
- “Melhor Filme – Júri Popular” e “Menção Honrosa” – 22es Rencontres du Cinéma Sud-Américain – Marselha (França);
- “Menção Honrosa” – FilmFest DC – 34th Washington, DC International Film Festival (Estados Unidos),
- “Melhor Atriz/Ator” – Dira Paes – 12th Seattle Latino Film Festival (Estados Unidos),
- “Melhor Filme”, “Melhor Figurino” – Inês Salgado, “Melhor Atriz” – Dira Paes, e “Melhor Diretor de Arte” – Zé Luca – 3º Festival de Cinema de Jaraguá do Sul,
- “Melhor Atriz” – Dira Paes e “Melhor Diretor de Fotografia” – 24º Inffinito Brazilian Film Festival (Estados Unidos),
- Menção Honrosa” – 9º The Workers Unite Film Festival (Estados Unidos), “Melhor Filme – Júri Popular” e “Melhor Atriz” – Dira Paes – 27º Festival de Cinema de Vitória, “Spirit of Independents Awards” – 35th Fort Lauderdale International Film Festival (Estados Unidos),
- “Melhor Atriz” – Dira Paes – 17º Salento International Film Festival (Itália), “Melhor Filme – Júri Oficial” – “Melhor Diretor” – Renato Barbieri – “Melhor Ator” – Flávio Bauraqui – “Melhor Diretor de Fotografia” – Felipe Reinheimer – e “Melhor Filme – Júri Popular” – 15ª Edição do Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões,
- “Menção Honrosa” – 9º Festival Internacional de Cine y Memoria Común de Nador,
- “Melhor Filme – Júri Oficial” – 25º FEMI Festival – International Film Festival of Guadeloupe,
- “Melhor Filme – Júri Oficial” – 43rd Big Muddy Film Festival,
- “Melhor Longa-Metragem – Categoria Symbiosis” – Festival Internacional de Cine – El Cine Suma Paz.
Renato Barbieri mora em Brasília. É cineasta com carreira de quase 40 anos, iniciada na produtora paulista “Olhar Eletrônico”, onde realizou matérias especiais para revistas eletrônicas e premiados curtas como “Do outro lado da sua casa” e “Expiação”. Formado em Psicologia, com especialização em Comunicação e Semiótica, ambos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, foi professor dos cursos de Jornalismo da PUC/SP e de Cinema e Mídias Digitais do IESB, em Brasília. Dirigiu programas na TVs Band, Folha e Cultura.
Em 1992, fundou a produtora GAYA Filmes, onde realiza documentários de repercussão nacional e internacional, como Servidão, Cora Coralina – Todas as Vidas, Atlântico Negro – Na Rota dos Orixás, A Invenção de Brasília, Cidades Inventadas, Na Corda do Círio, Terra de Quilombo – Espaços de Liberdade, Moçambique, A Revolta dos Cabanos, A Liga da Língua, Malagrida, Félix Varela, Bianchetti e Mauricio de Sousa, dentre outros. Na ficção, realizou a série ambiental Coleção Viravolta e os longas “As Vidas de Maria” e “Pureza”, considerado o filme brasileiro mais premiado de 2020.
Barbieri já filmou em diferentes países e culturas: Brasil, Áustria, Itália, Espanha, Portugal, Benim, Moçambique, Estados Unidos, Cuba e Venezuela. Desenvolveu no Mali e no Burkina-Faso pesquisa de roteiro e locação para um novo longa de ficção.
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