Getting your Trinity Audio player ready...
|
Atual presidente da Italcam São Paulo, Graziano Messana, assumiu no ano passado, em meio à pandemia que paralisou grande parte dos negócios do planeta. Agora, com o fim das restrições em muitos países da Europa, e a retomada do comércio exterior, ele vê grande potencial para as empresas italianas.
Os dois países têm uma longa história, com os italianos tendo grande influência na história do Brasil. Em entrevista ao Diplomacia Business, Messana fala sobre o trabalho da Italcam, que completa 120 anos este mês, e as possibilidades de estreitamento do comércio e das relações bilaterais.
Diplomacia Business: Como surgiu a Câmara de Comércio Italiana de São Paulo – Italcam?
Graziano Messana – A Câmara de Comércio Italiana de São Paulo – Italcam foi criada em março de 1902, por um grupo de banqueiros, comerciantes e industriais italianos, com a finalidade de estreitar as relações comerciais entre empresas brasileiras e italianas.
Com o passar do tempo foi estreitando suas relações com entidades relevantes dos dois países, ganhando notoriedade institucional e corporativa, além de reconhecimento pelos governos italiano e brasileiro.
Há alguns anos, a Câmara integra o Sistema Itália no Brasil, é membro da Assocamerestero (Associação ligada ao Governo Italiano que rege a atuação das Câmaras Italianas no exterior), onde ocupa lugar de destaque entre as 81 câmaras italianas no mundo. Participa também do grupo Eurocâmaras, formado pelos países da União Europeia que possuem câmaras oficiais no Brasil. A Italcam é reconhecida como uma importante associação sem fins lucrativos, que reúne pequenas, médias e grandes empresas italianas e brasileiras, e oferece aos seus associados a melhor assessoria em negócios, proporcionando aos italianos todo o apoio para o desenvolvimento de atividades no Brasil, e aos empresários brasileiros as melhores oportunidades de negócios no intercâmbio com a Itália.
Como o senhor avalia as relações bilaterais Brasil-Itália atualmente?
Historicamente, Brasil e Itália mantêm relações próximas e cordiais. E, no momento, não é diferente. Acompanho as agendas diplomáticas e empresariais, e o momento é bastante positivo nos dois ambientes. Do ponto de vista comercial, a desvalorização do Real gera oportunidades para as empresas estrangeiras que buscam parcerias comerciais no Brasil. Assim, quando a matriz enxerga a chance de crescimento no território brasileiro e investe em euro, o câmbio favorável potencializa essas oportunidades. Alguns setores como a mecânica instrumental, acessórios para automóveis e tratores, agricultura de precisão, máquinas para fabricação de embalagens, insumos médicos e setor financeiro estão crescendo aqui. Naturalmente, todos sofreram com o impacto da pandemia, mas alguns segmentos souberam transformar isso em vantagem competitiva. Diversas empresas italianas estão investindo no Brasil nestes setores e colhendo ótimos resultados.
De um modo geral, os europeus têm dificuldade de entender o Brasil. Tem vários aspectos legais que geram alguma complexidade para investimentos em economias mais estáveis, mas com um olhar mais minucioso e na companhia de parceiros corretos, o Brasil é certamente um mercado potencial para empresas italianas crescerem. Sem contar com a receptividade dos brasileiros, formada também por uma grande parcela de oriundos italianos.
O senhor assumiu a presidência no meio de uma crise sanitária global, onde o fluxo de comércio exterior foi afetado. Como a Itália vê a retomada das relações no período pós-pandemia?
Sim, inclusive assumi a presidência numa assembleia digital, pois em respeito aos protocolos de segurança, não pudemos nos reunir presencialmente. A Câmara conseguiu crescer muito, mesmo durante esse período da pandemia, e se modernizou de forma rápida e coerente com a situação.
Estamos totalmente preparados para a retomada das relações com a Itália. O Embaixador Francesco Azzarello é muito ativo e dinâmico. Ele nunca mediu esforços, mesmo diante das dificuldades durante a pandemia, para fomentar e incentivar as relações comerciais e, assim, realizamos muitos eventos online junto com a Embaixada.
Numa análise mais abrangente, as relações com a China são um pouco complicadas e com o governo Biden também não são idílicas. Já com a Europa, a Itália tem um papel muito importante, com quase 1.000 empresas italianas sediadas no Brasil e cerca de 32 milhões de descendentes italianos.
Quais são os produtos que a Itália mais compra e mais vende no comércio com o Brasil? Quais são as áreas com mais possibilidade de crescimento nos próximos anos?
A Itália exporta medicamentos, inclusive para uso veterinário, máquinas e produtos industriais e mecânicos, produtos farmacêuticos, peças automotivas e acessórios acabados, peças elétricas e equipamentos tecnológicos em geral. O Brasil ainda tem muito “apetite” por tecnologia e compra bastante da Itália.
Já o Brasil tem exportado para a Itália principalmente commodities, como celulose, metais e seus derivados, couro e pele, carne, café e óleos derivados do petróleo. A Itália é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da Alemanha.
Em dezembro de 2021, Brasil e Itália assinaram uma carta de intenções para fortalecer a cooperação na área de segurança. Este ano, empresas italianas fecharam acordo com o Rio de Janeiro para fornecimento de soluções tecnológicas para cidades inteligentes. A relação comercial dos países está evoluindo para além do agronegócio, que ainda é a principal área nas exportações?
A tecnologia vem ganhando cada vez mais atenção, porque abrange um pouco todas as áreas de excelência das empresas italianas. No que se refere aos maquinários e também aos produtos acabados, são sempre produtos com alto valor agregado. Algo que fica difícil produzir no Brasil. Para projetar cidades inteligentes, é necessário utilizar muita tecnologia – hardware e software, com capacidade de integrar tudo numa plataforma que funcione de forma amigável. É o caso da carta de intenção assinada entre três marcas italianas: TIM, Enel e a Leonardo. Todas estão presentes no Brasil.
O Brasil está acostumado com grandes empresas italianas oferecendo bens e serviços aos brasileiros, como Fiat e TIM. Há previsão de novos investimentos italianos em território nacional no curto prazo?
Além destas grandes empresas citadas, destacaria Enel, Pirelli, Leonardo e Ferrero que estão mantendo os planos de investimento no Brasil. A Enel consolidou-se como o primeiro investidor e operador no setor elétrico. Tem muitas empresas de tamanho médio que estão investindo nesse momento no Brasil, aproveitando o câmbio favorável e não estão reticentes com o ano eleitoral. São empresas que acreditam em um Brasil de longo prazo.