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Mulheres em Ação de Jequiá da Praia (Alagoas); Associação Comunitária dos Produtores Panelinhenses (ASCOPPA) de Miravania (Minas Gerais) e Associação das Mulheres da Terra (ASMUTER) de Terrenos, de Mato Grosso. Esses são os grupos vencedores do Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece, entregue quinta-feira, 28, na embaixada da Espanha em Brasília.
A iniciativa do prêmio é da embaixada da Espanha, como reconhecimento ao trabalho das mulheres rurais, sua importância no desenvolvimento da economia e na coesão social. Foram inscritas 482 experiências de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal. Além dos três grupos vencedores, outros sete ganharam certificado e curso a distância sobre empoderamento econômico das mulheres rurais.
Feminismo e justiça social
O embaixador da Espanha, Fernando García Casas, afirmou que reconhecer essas iniciativas é uma maneira de dar apoio à liderança dessas mulheres e de aumentar o alcance dos benefícios econômicos dos projetos para suas comunidades locais. “O prêmio visibiliza o importante trabalho desenvolvido pelas mulheres rurais que atuam de modo inovadora, solidária e cooperativa”, comentou.
O diplomata comentou que “somente a liderança feminina e a participação das mulheres em igualdade de condições na vida política, econômica e social alcançarão a verdadeira transformação de nossos países”. A seu ver, a maior semente transformadora do campo é a igualdade; e feminismo, paz e justiça social são inseparáveis.
Segundo Fernando García Casas, a Espanha e a União Europeia não estão alheias aos problemas enfrentados pelas mulheres no mundo rural; e um olhar atento revela a força invisível do trabalho da mulher nas zonas rurais brasileiras. “Há muitas ações femininas que associam biodiversidade com economia circular para gerar renda de forma resiliente e sustentável, e à proteção da biodiversidade”, comentou.
Dificuldade de crédito
De acordo com o embaixador, as mulheres produzem cerca da metade de alimentos no mundo e correspondem a 43% da mão-de-obra agrícola mundial, “mas ainda têm seu papel e importância negligenciados e estão fora dos principais espaços de decisão”. A seu ver, de um modo geral, as mulheres têm mais dificuldade de acesso ao crédito, à terra e a cadeias de alto valor.
Elisa Barahona, conselheira de agricultura, pesca e alimentação da embaixada da Espanha, falou sobre o Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece, que visibiliza as experiências mais relevantes lideradas por mulheres rurais, como produtoras, empreendedoras, indígenas e quilombolas. Experiências realizadas de forma coletiva nas comunidades dessas mulheres. “São iniciativas que fortalecem os sistemas alimentares rurais que contribuem para a geração de renda, cuidado com a preservação da biodiversidade e fomento ao desenvolvimento rural sustentável”, disse.
Para a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya, “as mulheres rurais têm um papel central para a agricultura mundial e ainda sim possuem acesso limitado a terras, água e renda, o que é uma violação dos seus direitos humanos básicos”.
“Na América Latina, estima-se que cerca de 40% das mulheres que vivem no campo não têm renda própria. No caso dos homens, são 14% nesta situação. Além disso, menos de um terço das mulheres rurais possuem a titularidade da terra em que elas moram”, disse Gabriel Delgado, representante do IICA no Brasil. A seu ver, as mulheres do campo são público-chave na construção de uma agricultura mais sustentável, produtiva, solidária e inclusiva.
Reconhecimento internacional
O Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece foi lançado em 15 de outubro de 2021, Dia Internacional da Mulher Rural. Os três projetos vencedores receberam R$ 20mil, R$ 10 mil e R$ 5 mil, respectivamente, além de assistência técnica da Asbraer, Rural Commerce, um curso EaD sobre empoderamento das mulheres rurais, um notebook, um ano de uso da plataforma rural e-commerce, publicações técnicas e um Certificado de Reconhecimento Internacional.
Sete grupos finalistas do prêmio receberam menção especial e terão direito a um curso, na modalidade ensino à distância, voltado para o empoderamento pessoal e econômico das mulheres rurais – por parte da OEI. Também ganharam certificado de reconhecimento internacional e publicações técnicas das instituições promotoras relacionadas às questões de gênero.
Os grupos são: Rede Mães do Mangue (PA), Guardiãs do Cacau (PA), Sacolas Camponesas (PR), Mulheres do GAU – Agricultura e Culinária Orgânica (SP), Empório da Chaya (RJ) Mulheres quilombolas: luta e resistência no Quilombo Peropava (SP), Produção Artesanal de Azeite de Babaçu: Grupo de Mulheres e Extrativistas de Centro do Coroatá (MA).
Parcerias
A cerimônia de premiação contou com a moderação da jornalista e militante feminista Mara Régia, indicada ao Nobel da Paz em 2005. Ela é produtora e apresentadora do tradicional programa Viva Maria, da Rádio Nacional, transmitido há 40 anos para nove estados da Amazônia Legal.
O primeiro prêmio foi entregue pelo embaixador da Espanha, Fernando García Casas. O segundo e o terceiro lugar foram entregues por Anastasia Dimiskaya da ONU-Mulheres, Gabriel Delgado do IICA e Gustavo Chianca da FAO. Da cerimônia participaram também parlamentares e autoridades nacionais e internacionais, diretores das empresas espanholas patrocinadoras da premiação e líderes dos grupos de mulheres participantes e ganhadoras do prêmio.
O concurso contou com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA), do Serviço Social do Comércio (Sesc) e da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer) e da Rural Commerce. O patrocínio é das empresas espanholas Indra, Mapfre, Acciona, Josep Llorens e CMR Fruits.
Grupos vencedores – 1º Lugar – Mulheres em Ação de Jequiá da Praia – AL. São mais de 50 mulheres envolvidas no projeto que articula um empreendimento sustentável voltado para a melhoria da qualidade de vida de pescadoras, marisqueiras e artesãs nas comunidades ribeirinhas. Uma de suas atividades é o reaproveitamento do resíduo do siri, fonte de renda e referência no município. O projeto contribui para despoluir a lagoa de Jequiá por meio da coleta dos resíduos.
2º Lugar – Associação Comunitária dos Produtores Panelinhenses (ASCOPPA) – Miravania – MG. Participam cerca de 10 mulheres, com a colheita de frutas e produção artesanal de sucos, queijo e doces. A associação fortalece a economia local e contribui para reduzir a insegurança alimentar de dezenas de famílias. O empreendimento gera renda, promove a mudança de hábitos alimentares e práticas sustentáveis no reaproveitamento das sementes das frutas.
3º Lugar – Associação das Mulheres da Terra (ASMUTER) – Terrenos – MT. Cerca de 30 mulheres participam do grupo, que evita o desperdício de frutas, legumes e verduras e transforma a atividade em oportunidades. A iniciativa é fonte e de renda para as mulheres engajadas no projeto e conta com a participação de famílias que trabalham para o reaproveitamento de alimentos.
*Com informações do IICA