Incentivar a integração entre o Peru e regiões fronteiriças ao Brasil é prioridade no trabalho do embaixador Rómulo Acurio. Ele primeiro deve conhecer a realidade dessas regiões e seus desafios. A primeira visita deve ser feita este ano a Rio Branco, capital do Acre, e de lá a Puerto Maldonado, no Peru. A seu ver, a rodovia Interoceânica na região tem muito potencial econômico e turístico, por exemplo.
“É uma estrada que liga todo o Oeste do Brasil com o Sul do Peru”, explicou o embaixador. Segundo ele, já há um bom fluxo de turistas viajando de carro por essa rodovia, conhecida como a Estrada do Pacífico. As obras para a construção da Interoceânica começaram em 2005 e foram concluídas em 2010. Rómulo Acurio tem interesse em conhecer e incentivar negócios na região Norte do Brasil e em especial nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, claro, sem menosprezar os eixos São Paulo e Rio.
“Programei a próxima viagem a Rio Branco, onde me encontrarei com autoridades públicas e privadas”, explicou o embaixador. Ele entende que as oportunidades de comércio e turismo passando pela rodovia Interoceânica podem melhorar. É uma estrada que liga todo o Oeste do Brasil com o Sul do Peru, que tem muito dinamismo econômico e atrações turísticas, incluindo Cusco e Machu Picchu. Em entrevista ao Diplomacia Business, o embaixador Rómulo Acurio fala também sobre as relações comerciais entre o Brasil e o Peru, turismo e gastronomia, dentre outros assuntos. Veja a entrevista.
Diplomacia Business – O Peru comemora sua data nacional dia 28 de julho. Como serão feitas as comemorações em Brasília e no Peru?
Embaixador do Peru, Rómulo Acurio – Por ocasião da data nacional, a embaixada peruana voltará à programação habitual que tinha antes da pandemia, com uma comemoração protocolar na embaixada. Depois, no dia 27 de agosto, com uma nova edição do Festival Peruano, um grande evento de promoção da gastronomia e cultura peruana, que este ano será realizado em homenagem ao Bicentenário da Independência do Brasil.
O sr. deve visitar o Acre. Quais as perspectivas do sr. com essa visita?
Embaixador Rómulo Acurio – Uma das prioridades da minha missão é incentivar a integração recíproca, o comércio e o turismo entre as regiões fronteiriças. Para o Peru, as regiões do Acre, Amazonas e Rondônia, como também Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, são regiões de especial atenção em termos econômicos e de diálogo institucional.
Por isso, programei a próxima viagem a Rio Branco, onde me encontrarei com autoridades públicas e privadas. De lá, viajarei por terra até a cidade de Puerto Maldonado, no lado peruano, para tentar entender os desafios e as oportunidades da rodovia interoceânica. É uma estrada que liga todo o Oeste do Brasil com o Sul do Peru, que tem muito dinamismo econômico e, como você sabe, atrações turísticas, incluindo Cusco e Machu Picchu.
Quais são os produtos peruanos mais consumidos no Brasil? Em quais áreas o comércio entre os dois países pode se ampliar?
Embaixador Rómulo Acurio – O comércio entre dois países – com 3 mil km de fronteiras – chegou a 4,25 trilhões de dólares, antes da pandemia, valor ainda limitado para os dois países vizinhos, que esperamos recuperar e superar em breve. Até agora, os produtos peruanos não tradicionais mais consumidos no Brasil são: azeitonas, orégano, aspargos, uvas, quinoa e peixes, entre outros. Mas também exportamos produtos de mineração, como cobre, prata e zinco, roupas de algodão, produtos químicos e metalúrgicos.
Neste momento, as autoridades peruanas estão renovando a lista de produtos prioritários a serem exportados para o Brasil, que incluirá produtos vegetais e animais, alimentos processados e produtos hidrobiológicos. Estamos em um momento especial, tentando aumentar a oferta de produtos peruanos.
Como está o turismo hoje no Peru? Além de Machu Picchu, o que não se pode deixar de conhecer no Peru?
Embaixador Rómulo Acurio – Os dados são positivos. Acho que o turista estrangeiro tem que conhecer Lima, seus bairros, museus e restaurantes; visitar Trujillo e Chiclayo e ver suas catedrais e templos de barro pré-colombianos; ir para as praias de mar quente de Tumbes e Piura; andar de teleférico até a cidade de Kuelap, da cultura Chachapoyas; explorar os centros coloniais de Arequipa e Cusco, com suas igrejas e mosteiros barrocos; descobrir a paisagem incomum de Machu Picchu; caminhar pelos picos nevados e lagoas da Cordillera Blanca; respirar o ar do Lago Titicaca, nas alturas dos Andes; pegar um cruzeiro por alguns dias na Amazônia peruana. Resumindo: são necessárias várias viagens para conhecer esses lugares e muito mais.
Gastón Acurio é referência de chef que promoveu e promove a culinária peruana. Existem outros chefs peruanos fazendo escola de culinária mundo afora como o Gastón? A que o sr. atribui tanto prestígio que tem ganhado os pratos peruanos? O sr. sabe quantos restaurantes peruanos existem no Brasil e onde essa presença é mais marcante?
Embaixador Rómulo Acurio – De fato, Gastón Acurio foi e é um grande divulgador da cozinha peruana no mundo. Hoje pode-se dizer que todas as grandes capitais do mundo têm mais de um restaurante peruano de qualidade. Em Santiago, no Chile, por exemplo, há centenas de restaurantes peruanos. Paris, Roma, Tóquio, Pequim…todas têm. Assim como Gastón, muitos outros chefs peruanos continuando se destacando, incluindo Virgílio Martinez, Misha Tsumura, Pedro Miguel Schialfino, Jaime Pesaque, Rafael Osterling, Jose del Castillo, Pia León e muitos outros, cujos restaurantes aparecem todos os anos nos rankings de cozinha do mundo.
A presença da culinária peruana também é visível no Brasil, claro. Calculamos que existam cerca de 60 restaurantes peruanos em todo o país, sendo pelo menos 30 em São Paulo e 10 no Rio. Também em Brasília, entre seis ou sete lugares oferecem comida peruana de qualidade, em diferentes versões, tradicional, peruana-fusão, peruano-chinês ou peruano-japonês.
Que estímulos os pequenos, médios e grandes empresários têm para investir no Peru?
Embaixador Rómulo Acurio – Os principais incentivos para investir no Peru são e continuam sendo a estabilidade macroeconômica, um clima de investimento positivo e estabilidade legal para as empresas. O Peru possui 22 acordos de livre comércio, 30 acordos de promoção de investimentos recíprocos e acordos para evitar a dupla tributação com o México, Canadá, Japão, Brasil, entre outros. O Peru também faz parte da Aliança do Pacífico, APEC e TPP e já está a caminho de ingressar na OCDE.
Da mesma forma, devemos destacar o crescimento do PIB peruano de 13,3% em 2021 e com previsão de 4,1% entre 2022 e 2026. Nossas reservas internacionais líquidas superam 77 milhões de dólares. Por outro lado, o risco país peruano está abaixo dos países emergentes e da média regional, o que tem levado as principais agências de rating a continuarem nos avaliando positivamente.
O que se espera da cooperação cultural entre o Peru e o Brasil? Que novidades nessa área, o sr. pode nos anunciar?
Embaixador Rómulo Acurio – O Peru é um país antigo, origem de várias civilizações, com múltiplos monumentos e objetos de arte, museus e coleções de cerâmicas, têxteis e jóias de ouro e prata da época pré-colombiana. A esse patrimônio se soma o legado do Vice-Reino do Peru, que foi o centro da América do Sul hispânica, que deixou importantes obras de arquitetura, pintura, literatura e arte popular, ainda hoje visíveis.
Mas o que é importante notar é que essa história está muito viva e continua a ser renovada pelos artistas e criadores peruanos de hoje, muitos deles jovens, em vários campos como música, artes visuais, moda, arte mural, cinema e, claro, arte gastronômica, que é outro grande espaço de recreação do Peru contemporâneo.
Queremos mostrar no Brasil a conexão que existe e continua se renovando entre a cultura ancestral e a cultura contemporânea do Peru, e fazê-lo por meio de exposições, livros, filmes e seminários que anunciaremos gradativamente.
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