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Programando o Futuro é uma Organização Sociedade Civil (OSC) do Distrito Federal, que há mais de duas décadas realiza atividades em todo o território nacional, desenvolvendo projetos em parceria com entidades da sociedade civil, empresas e poder público que já beneficiaram milhares de pessoas.
Vilmar Simion Nascimento, era programador na Caixa Econômica Federal. Ele percebeu que o lixo eletrônico seria um grande problema. Decidiu dedicar-se a encontrar soluções com outros três amigos, que fundaram a Programando o Futuro. Hoje ele é o coordenador geral da OSC.
O empreendedor social conta que eles sempre realizaram seus projetos focados em três eixos: empoderamento digital, economia circular e meio ambiente, tendo como viés o desenvolvimento local, a qualificação para o mundo do trabalho e fortalecimento das redes e tecnologias de apoio à sociedade civil.
Seu objetivo é tornar-se a principal referência nacional em logística reversa, metareciclagem e economia circular até o final de 2022.
Em entrevista ao Diplomacia Business, Vilmar fala do surgimento do projeto e explica como ele funciona.
Diplomacia Business: Como surgiu o “Programando o Futuro” e quantos alunos já formou?
Vilmar Nascimento: A ONG “Programando o Futuro” foi fundada há 21 anos. Começou em Valparaíso, Goiás, mas hoje tem atuação em todo o território nacional. Sempre trabalhamos com economia circular, com lixo eletrônico, mas focamos, acima de tudo, na inclusão digital.
Quando começamos, há duas décadas, talvez 80% da população brasileira não tinha acesso a computadores, não tinha acesso à internet. Com isso, automaticamente não tinha acesso a serviços públicos. Ensino à distância pela internet era uma coisa nova, muito recente Mas a gente já enxergava que aquilo era um direito do cidadão. Então, posso dizer que nascemos para trabalhar com isso para permitir que a população tivesse acesso às tecnologias da informação e comunicação. Ao longo desses anos, montamos mais de três mil telecentros no Brasil inteiro. São escolas comunitárias de informática, com computadores para uso livre. Também capacitamos mais de 20 mil alunos, em cursos diversos, mas principalmente os de inclusão digital e informática básica.
Um dos pilares do programa é a “economia circular” e a “metareciclagem”, o que significam esses conceitos?
Nós sempre desenvolvemos esse dois conceitos. Metareciclagem tem a ver com reaproveitar ao máximo os computadores, os equipamentos eletrônicos e estender ao máximo a vida útil deles. Quando o governo tira de uso porque não vai mais utilizar, a gente reaproveita esse material, faz manutenção e tudo mais. Depois desse processo, doamos para organizações sociais, escolas, telecentros, bibliotecas etc. Isso é a metareciclagem, reaproveitar, trocar peças e fazer a instalação adequada para novo uso.
A economia circular é um passo além da reciclagem. Não apenas recebemos os componentes, a gente participa da cadeia da economia circular. Por exemplo, hoje a HP, maior fabricante de impressoras do país, utiliza o nosso plástico reciclado para produção desses equipamentos. Desde que elas são projetadas, já pensam que será montada com material reciclado. Assim, quando elas não têm mais condições de uso, são totalmente reciclada e voltam como parte de um equipamento novo. Essa é a base de uma economia circular.
Além disso, também produzimos os fios para impressoras 3D a partir de plástico reciclado. Com esses fios é possível fazer um monte de coisas, souvenirs, bijuteria. Fazem até alguns botões para peças produzidas pelo programa Moda Connect.
Um dos focos é a reutilização de lixo eletrônico. O Brasil é o quinto país que mais produz esse tipo de lixo no mundo. O que precisaria mudar para que fosse mais eficaz essa reciclagem em território nacional?
No Brasil hoje em dia já existe uma legislação que rege a reciclagem. Temos a Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010. Ano passado foi emitido um decreto que regula o sistema de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Nós atuamos com base nos termos desse decreto, que orienta os fabricantes a montarem estruturas para aumentar o volume de lixo eletrônico processado. Nos próximos anos vamos ver muitos fabricantes instalando locais de coleta na cidade, onde a população pode deixar o seu lixo eletrônico.
Queremos fazer mais atividades para educar a população, sensibilizar sobre a necessidade de descarte adequado do lixo eletrônico. Acredito que vai haver cada vez mais organizações como a nossa funcionando em todo o Brasil. Essas ações visando a montagem de infraestrutura, de educar a população vai possibilitar que cresça o volume de lixo eletrônico processado no país.
O projeto também promove atividades culturais e esportivas. Como as duas coisas estão ligadas?
Sim, a gente sempre desenvolveu atividades culturais e esportivas. Sabemos que educar a população para o descarte adequado de lixo eletrônico é o principal gargalo para aumentarmos o volume de material processado. Por isso, ao longo do ano fazemos palestras, workshops, exposições, sempre chamando atenção para isso.
Também somos convidados para colaborar em outras ações. Ocorrem muitos eventos culturais na cidade, como foi o festival de cinema, o festival Porão do Rock e o Green Move. Nesses eventos de renome, de grande porte, os organizadores ajudam a divulgar a temática da sustentabilidade. Outras vezes a gente convence os produtores de eventos, como foi na Campus Party, um grande evento de tecnologia. Eles ofereceram descontos ou até ingressos grátis para as pessoas que descartassem ali seus eletrônicos. Na última edição, foram 800 ingressos doados para quem fizesse esse descarte e nós arrecadamos mais de 10 mil quilos de eletrônicos.
A mesma coisa ocorreu no Circuito Candango de Skate e com outras atividades. Condicionar a entrada à doação de lixo eletrônico é uma maneira de educar