Por Rajeswari Pillai Rajagopalan*
A recém-criada parceria trilateral de segurança entre a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos (AUKUS) tornou-se instantaneamente, de modo até compreensível, controversa. A planejada aquisição de submarinos com propulsão nuclear aumenta claramente o peso da Austrália no que tange a sua capacidade armamentista contra o crescente poder naval da China, que tem feito exibições agressivas nos últimos anos. Mais importante, também contribui para um maior fortalecimento de outros grupos minilaterais no Indo-Pacífico, incluindo o “Quad” blobo que envolve Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos.
A resposta formal da Índia ao AUKUS foi dada pelo Ministro das Relações Exteriores Shri Harsh Vardhan Shringla, que afirmou em entrevista que a nova aliança “não é relevante para o Quad, nem terá qualquer impacto em seu funcionamento.” Contudo, para muitos analistas, o novo arranjo deve diluir a importância ao “Quad”, como é conhecido o Diálogo de Segurança Quadrilateral, formalizado pelos países em 2007.
Só que, na realidade, a formação da AUKUS é relevante por algumas razões. Seus próprios líderes, ao anunciar a parceria de segurança trilateral, enfatizaram a importância de colaborações contínuas, como a ASEAN, o Quad e outros aliados da região do Indo-Pacífico. Isso envolve diretamente a França, que tem uma participação material direta na região por causa da Polinésia Francesa. Os membros do Quad compartilham a visão de garantir o respeito à liberdade e o Estado de Direito na região, e o AUKUS também se baseia em princípios semelhante.
Nos últimos anos, tem havido um boom no número de parcerias minilaterais no Indo-Pacífico, todas sem dúvida complementando-se mutuamente, com um senso comum de propósito. A própria Índia faz parte de vários deles. Curiosamente, essas novas parcerias envolveram um ou dois dos parceiros do Quad, expandindo a matriz estratégica para envolver um ou dois membros de fora dessa aliança. É uma estratégia usada com o objetivo de trazer mais países para endossar o propósito central desses grupos minilaterais: fazer frente à China.
Eles têm sido parcerias mais políticas e diplomáticas, com militares realizando exercícios conjuntos a fim de fortalecer a interoperabilidade para responder a uma série de contingências possíveis que podem surgir na região. O AUKUS tem um componente militar mais forte com os planos da Marinha da Austrália de adquirir submarinos nucleares, como um esforço trilateral.
Aparentemente, o objetivo de longo prazo do AUKUS é complementar ao Quad e outras parcerias diplomáticas naquela região do mundo- incluindo trilaterais como Austrália-Índia-Japão, Índia-Japão-EUA, Austrália-Índia-Indonésia , Austrália-França-Índia e Índia-Itália-Japão. Enquanto alguns desses miniblicos reforçam os laços dos países Quad, outros envolvem países de outras regiões do planeta, em um esforço para trazer mais parceiros para sua órbita, expandindo e envolvendo parceiros que compartilham interesses estratégicos regionais semelhantes.
O AUKUS, nesse sentido, não é diferente. Os esforços atuais para construir um número maior de coalizões com ideais políticos e interesses estratégicos compartilhados acabam gerando um consenso político e estratégico maior. Esses são marcos importantes. Além disso, se essas parcerias podem aumentar o poder militar de forma decisiva como um meio de dissuasão eficaz contra a China, tais medidas devem ser bem-vindas. Uma Austrália com capacidade militar é do interesse de toda a região.
As Filipinas apresentaram uma das respostas mais substantivas sobre como AUKUS corrige o desequilíbrio estratégico regional. O Secretário de Relações Exteriores, Teodoro L. Locsin, Jr., disse que “As Filipinas acolhem a decisão da Austrália de estabelecer uma parceria de segurança trilateral reforçada com os Estados Unidos e o Reino Unido”. Acrescentou que “há um desequilíbrio nas forças disponíveis para os Estados membros da ASEAN, com o principal equilibrador a mais de meio mundo de distância. O aumento da capacidade de um aliado estrangeiro de projetar poder deve restaurar e manter o equilíbrio, e não desestabilizá-lo”.
Entre os outros países da ASEAN, a resposta ao AUKUS parece ser mista. A Malásia, por exemplo, decidiu enviar seu ministro da Defesa à China para entender primeiro a reação chinesa. Isso ocorreu apesar de a Malásia e muitos dos países do Mar da China Meridional reclamarem de várias invasões de espaços aéreos e navais pela China. Poucos meses atrás, comentando sobre voos de aeronaves militares chinesas sobre águas disputadas ao largo do estado de Sarawak, o ministro das Relações Exteriores da Malásia, Hishammuddin Hussein, afirmou que os aviões estavam “violando o espaço aéreo e a soberania da Malásia”. Parece que a Malásia tem, uma abordagem mista, mantendo negociações com a China e também possui laços estreitos com a Austrália, recentemente aprimorando seu relacionamento com uma “Parceria Estratégica Abrangente”, o que também torna sua reação ao AUKUS surpreendente.
Por sua vez, o analista Sreemoy Talukdar destacou que o “AUKUS é um passo significativo para administrar a turbulência geopolítica no Indo-Pacífico, que irá complementar e não diminuir a importância do Quad”.
O surgimento do AUKUS é um desenvolvimento importante porque significa o aumento da capacidade de parceiros estratégicos. Uma Austrália forte e capaz é do interesse da Índia, do Quad e da região Indo-Pacífico mais ampla. Também é significativo porque o Reino Unido agora está firmemente entrincheirado no Indo-Pacífico posicionando-se contra a China.
* Rajeswari Pillai Rajagopalan é diretora do Centro de Segurança, Estratégia e Tecnologia da Observer Research Foundation, na Índia
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