A maior exposição já dedicada à obra da artista brasileira de origem sírio-libanesa Judith Lauand está em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp) até 02 de abril. Judith foi a primeira artista concretista do Brasil. Nascida em 26 de maio de 1922 em Pontal, no interior de São Paulo, Judith é filha de pai libanês e mãe síria. Eles se mudaram para Araraquara quando ela tinha um ano de idade. Judith morreu em 09 de dezembro deste ano, após completar 100 anos, e poucos dias depois da abertura da exposição no Masp, chamada Judith Lauand: Desvio concreto.
A artista produziu por mais de 70 anos. A exibição no museu mais importante de São Paulo revê a trajetória de Judith, que foi a única mulher a participar do Grupo Ruptura, que reuniu artistas interessados em desenvolver a arte concreta no Brasil.
Sua obra foi por vezes negligenciada e deixada em segundo plano pela crítica brasileira. A retrospectiva de seu trabalho tem por objetivo fomentar novas pesquisas e debates sobre sua produção artística.
Judith Lauand é considerada uma artista central na arte brasileira, principalmente no contexto do movimento concretista, que surgiu na metade do século 20. A exposição no Masp pretende colocar em perspectiva a transição operada por ela em meados dos anos 1950, a passagem para a geometria abstrata a partir de uma produção calcada no figurativismo.
A exposição conta com 128 obras e dezenas de documentos do arquivo pessoal da artista, atravessando seis décadas.
Formada pela Escola de Belas Artes de Araraquara, um importante polo artístico da região do interior de São Paulo, a artista se mudou para a capital paulista em 1952 com a família. Em 1954, foi monitora na 2ª Bienal Internacional de São Paulo, um marco em sua formação. Lá, ela entrou em contato com a obra de artistas como Alexandre Wollner (1928-2018) e Geraldo de Barros (1923-1998).
No ano seguinte, recebeu um convite de Waldemar Cordeiro (1925-1973) para fazer parte do Grupo Ruptura, sendo a única mulher a participar ativamente do movimento histórico. Lauand fez parte da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956, e depois no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1957.
A artista concebeu um dinamismo próprio para além dos paradigmas do concretismo, criando novas relações entre formas, linhas e cores, transcendendo regras e convenções da época, nas décadas de 1950 e 1960. Mais tarde, ela se abre para experimentações que incluíam diálogos entre imagem e palavra, passando depois a tratar da materialidade de objetos sobre a superfície, a partir da aplicação de grampos, clipes, tachinhas e outros elementos.
Apesar do rigor formal que empregou em suas composições, o ritmo e o movimento nunca desapareceram de seus trabalhos, que contrapõem elementos por meio de um equilíbrio dinâmico, gerando tensões e rupturas, outra marca de sua singularidade artística.
A mostra também aborda novas perspectivas em sua obra, reforçando a presença de questões políticas como a repressão da ditadura militar no Brasil, a guerra do Vietnã e a condição da mulher na sociedade brasileira, quando a artista atravessa temas como violência, sexualidade, submissão e liberdade feminina.
A diretora cultural da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Silvia Antibas, esteve na exposição. Ela disse que a mostra é “um resgate da arte de Judith Lauand”, e informou que o Masp vai abrir um centro de pesquisa voltado à obra da artista. “Vale destacar a vanguarda dela, uma mulher filha de imigrantes sírio-libaneses que atuou na vanguarda artística do Brasil”, disse Antibas.
A exposição da obra de Judith Lauand integra o biênio de programação do Masp dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, coincidindo com o bicentenário da Independência do Brasil em 2022.
O catálogo que acompanha a exposição está editado em português e inglês, ilustrado e com ensaios inéditos. Judith Lauand: Desvio concreto é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp; e Fernando Oliva, curador do museu, com assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial.
O Masp abre normalmente em dias de feriado, exceto nos dias 24 e 25 de dezembro (feriado de Natal) e nos dias 31 de dezembro e 01 de janeiro (feriado do ano novo).
Serviço
Judith Lauand: Desvio concreto
De 25 de novembro de 2022 a 02 de abril de 2023
Museu de Arte de São Paulo
Avenida Paulista 1578
Entrada gratuita às terças-feiras, das 10h às 20h
Quarta a domingo, das 10h às 18h
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