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Todas as terças-feiras nos períodos da manhã e da noite uma mistura de sons, sotaques e dialetos pode ser ouvida nos corredores do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Ceebja Paulo Freire, no Centro de Curitiba. São palavras, frases e expressões ditas em idiomas distintos, que vão do espanhol falado na Venezuela, passando pelo de Cuba, o árabe da Síria, ou o crioulo e o francês dos haitianos, chegando ao inglês, predominante entre a maioria.
Além da diversidade linguística, os trajes e costumes também distinguem o grupo. No entanto, há uma característica em comum entre eles e os demais frequentadores da instituição de ensino: são alunos. A diferença é que vieram de longe para o Brasil e buscam aprender a língua portuguesa por meio do curso de Português para Falantes de Outras Línguas (PFOL), oferecido pela rede estadual de ensino do Estado.
Ao todo, são 70 alunos matriculados, divididos em quatro turmas, três à noite e uma pela manhã, que foram reestruturadas no início do ano, quando os grupos foram formados.
“Não quero falar apenas o portunhol, mas o português na maneira correta e estou me esforçando para isso”, diz o advogado venezuelano Juan Merengote, que chegou à capital paranaense há menos de seis meses, e tem como meta obter fluência para, quem sabe, deixar o trabalho como caixa de supermercado e voltar a advogar. “Posso também trabalhar como professor ou em algo melhor, afinal, já sou fluente em espanhol e inglês e estarei qualificado para novos desafios”.
Por causa da crise econômica e humanitária da Venezuela, Juan deixou para trás toda a família, que afirma “guardar no coração”.
Mesmo motivo que trouxe Antonella Bello e Quisbel Jose Marquez ao Paraná. Ambas, há mais tempo no Brasil, já dominam o português, mas não arredam o pé das aulas.
“Aprender a língua me transformou. Quando cheguei aqui há três anos, eu era outra pessoa. Muito tímida por não entender o que as pessoas diziam e não conseguir me comunicar. O que a gente aprende na rua não ajuda. É muito diferente de vir para a escola, porque aqui você aprende a ir fundo no conhecimento, na pronúncia”, diz a atendente de padaria, que vive com o marido e dois filhos em Curitiba e que ainda sonha em voltar ao país de origem. “A vida de imigrante é muito difícil. Não gostaria de viver assim para sempre”.
Antonella, de 24 anos, já conhece bem o modo de falar em português. Agora quer aprender a escrever corretamente para ter mais oportunidades. “Eu trabalho como auxiliar de limpeza e sem uma boa escrita, nada dá certo. Aos poucos, estou aprendendo a escrever algumas palavras”, afirma.
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METODOLOGIA DINÂMICA – Somente na turma matutina são oito venezuelanos, que não estudam apenas gramática. Aprendem mais sobre cultura brasileira, costumes, como se comunicar em determinadas situações. Isso faz parte de uma metodologia desenvolvida pela professora Vivian Célia Brunnquell, graduada em Inglês e Português e especialista em Didática do Ensino Superior.
“Quero que aprendam a morar no Brasil. Por isso, trabalho com situações reais: como comprar, cumprimentar, falar das dores em uma consulta médica. É como se fosse um curso básico de inglês para crianças”, explica a professora.
Por meio dos recursos educacionais digitais, como apostilas virtuais, é possível treinar a oratória, e os alunos podem praticar em casa e tirar as dúvidas em sala de aula. O Colégio Paulo Freire possui um laboratório de informática, para que os estudantes sejam inseridos na plataforma Leia Paraná, recurso de leitura que pode ser acessado pelo celular, tablet ou computador, online e off-line, onde aprendem a ler e a ouvir em português.
Também é pelos meios digitais que os estudantes têm acesso a um dicionário online – para conferirem a pronúncia de cada palavra. Além disso, é possível fazer uma série de atividades online. “Por exemplo, clique no vídeo, veja a legenda em português e ouça no seu idioma. E podem inverter, o que permite com mais facilidade obter a fluência na língua portuguesa”, continua a professora.
E se a Língua Portuguesa é diversa e regionalizada, portanto, complexa, a premissa da professora Vivian é de que os alunos estrangeiros precisam interpretar cada texto que leem. “O português falado no Brasil é difícil e nós temos variantes linguísticas e um regionalismo muito acentuado. Tentamos trazer tudo isso para a sala de aula com muito dinamismo. Vou adaptando o que estão lendo para as realidades deles. Coisas que para nós são simples, para eles, muda tudo”, diz.
A diretora do Colégio Estadual Paulo Freire, Solange Valente, conta que busca acolher os alunos para que eles se sintam confortáveis no ambiente escolar. Como as matrículas podem ser efetivadas em qualquer época do ano e o curso é tido como emergencial, isso é permitido. “Nosso aluno está aqui e ele precisa com urgência aprender a falar o nosso idioma, porque as aulas acontecem em apenas um dia na semana. Ele precisa se sentir bem enquanto está aqui, até para poder absorver melhor o conteúdo”, ressalta.
Faz parte da política da instituição ampliar o método de ensino, ultrapassando os muros escolares. Como, por exemplo, oferecer as noções básicas do dia a dia de um estrangeiro vivendo no Brasil, como aprender a preencher um currículo, ou mesmo compreender a papelada que envolve a documentação para que se possa inclusive regularizar a situação dele no país para que possa ingressar no mercado de trabalho.
MAIS OFERTA DE VAGAS – Atualmente, 24 as escolas estaduais no Paraná oferecem aulas de português para estrangeiros, em 16 municípios com cerca de 800 alunos atendidos. Todas estão inseridas no FPOL, o programa criado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed) com o objetivo de ajudar estrangeiros a aprenderem a língua portuguesa e se familiarizar com o idioma e o modo de falar dos brasileiros.
Os interessados em se matricular na escola podem se dirigir pessoalmente no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos Ceebja Paulo Freire, na Rua Brigadeiro Franco, 2.532, Água Verde, Curitiba. Também pelo site www.educacao.pr.gov.br. É possível encontrar mais informações sobre os cursos e inscrições no site da Escola Digital do Paraná ou entrando em contato pessoalmente com as escolas estaduais que oferecem o curso PFOL.
Fonte: Agência Estadual de Notícias do Paraná.