O jazzista brasileiro, Ricardo Vogt, ganhador de três Grammy Awards por suas participações nos discos de Esperanza Spalding, já vive há cinco anos com sua esposa e filhos em Zhongshan, cidade na Província de Guangdong, no sul da China.
Nascido em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, Vogt morou nos Estados Unidos por mais de dez anos, durante esse período, ele se consagrou como um músico de jazz, faturando três Grammys, viajando pelo mundo para se apresentar em diversos festivais de prestígio e colaborando com os músicos mais renomados do mundo.
“Eu estava acompanhando artistas famosos como Esperanza Spalding, Eliane Elias, e estava trabalhando com Milton Nascimento, Sérgio Mendes, gravei músicas para filmes. Eu estava ocupado, e não podia seguir minha carreira solo, só que eu vi essa oportunidade na China”, disse.
“Quando me mudei para cá, em Zhongshan, comecei focando no meu projeto com minha esposa, Veronica Nunes. Somos um duo, ela canta e toca cavaquinho.”
A nova vida musical do guitarrista gaúcho na China tem dado “muito certo”. Por cinco anos, ele rodou o mundo para mostrar o seu jazz. Os convites, além de festivais musicais, incluem grandes eventos políticos e comerciais no país asiático.
“Com certeza, a minha carreira está se desenvolvendo aqui. Abri uma empresa, uma editora fonográfica, gravando um projeto de músicas chinesas com ritmos brasileiros. Isso é uma inspiração que só posso ter estando na China.”
Segundo ele, o país agora tem um bom ambiente jazzístico.
“Eu vejo um crescimento do jazz e muitas oportunidades. Eu acabei de tocar no primeiro Festival de Montreux, em Hangzhou, que é um grande festival de jazz no mundo, e as pessoas foram super calorosas.”
Zhongshan se localiza na Grande Área da Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, que é uma das regiões mais economicamente desenvolvidas do país. Porém, em comparação com Guangzhou, Shenzhen e Hong Kong, a cidade é relativamente “pequena”, onde seus habitantes têm uma vida mais tranquila e pacífica.
“Em 2015, vim para a China para uma turnê musical com minha esposa. Naquela turnê, me apaixonei pelo modo de vida daqui. Eu saía do hotel muito cedo pela manhã e via que todos tinham um sorriso no rosto, e eu disse a minha esposa, quero ter uma casa aqui e viver essa vida.”
“No ano seguinte, fomos convidados a voltar à China para um outro show, e depois, nos ofereceram um trabalho aqui, para ensinar um coro de crianças a cantar música brasileira, e naquela hora pensei que desta vez deveríamos ficar.”
Nesse lugar, o guitarrista gaúcho também conheceu vários músicos locais, o que foi muito importante para que sua carreira solo pudesse decolar. Eles montaram bandas, alugaram um estúdio e experimentaram vários gêneros musicais.
“Para mim, o importante são as amizades que a gente faz. Eu já morei em cidades grandes, como Boston e Nova York, mas lá todo mundo está focado em suas próprias coisas.”
“Aqui, tenho tantos amigos maravilhosos e a minha casa está sempre aberta. É uma vida de verdade, que só uma cidade pequena pode te dar”, acrescentou.
Meses antes, o jazzista recebeu um convite do jornal municipal de Zhongshan para compor uma música para a cidade, e a imprensa também pretende fazer um documentário sobre a sua vida na China.
“É uma honra muito grande para mim, em qual outro lugar isso poderia acontecer? Eu fiz essa música com todo o meu coração, o melhor que poderia ter feito.”
Nesses cinco anos, Vogt também testemunhou grandes mudanças na cidade, como a construção de uma ponte que liga Guangdong, Hong Kong e Macau e de outro grande projeto de autoestrada entre Shenzhen e Zhongshan, com um túnel submarino de 6,8 quilômetros.
“Eu estou num lugar geograficamente estratégico pela facilidade de conexão com o mundo. Tenho várias opções de aeroportos internacionais aqui, como Guangzhou, Shenzhen e Hong Kong, é uma cidade pequena que está entre as cidades mais incríveis do mundo.”
“O Brasil e a China, mesmo que haja uma longa distância, me impressiona como os chineses demonstram muito interesse pela nossa cultura, e nós queremos contribuir aqui para o fortalecimento desse intercâmbio, através da música, isso é o que posso fazer.”
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