Exposições, mesas redondas, ciclo de cinema, clubes de leitura, encontros de ciência são algumas das atividades presenciais ou online, anunciadas pela diretora do Instituto, Raquel Romero Guillemas. A partir de sexta-feira, 17, o público poderá ver “Tres pintores hondurenhos en Brasilia -2021”, no Instituto.
Em entrevista exclusiva ao Diplomacia Business, Raquel fala sobre a proximidade do Instituto com as embaixadas, o escritor Miguel de Cervantes e como o Instituto tem se renovado para enfrentar os problemas causados pela pandemia: “As inovações tiveram que ser muitas, rápidas e efetivas: nossos usuários não mereciam menos”, explicou.
Nascida nas proximidades de Barcelona, Raquel morou em Varsóvia, na Polônia, em São Paulo e no Rio de Janeiro; em Argel, na Argélia; e em Sidney, Austrália, à frente do Cervantes. Com certeza, uma experiência bem sucedida e que tem muito a dizer aos leitores do Diplomacia Business.
Veja aqui sua entrevista.
A exposição “Tres pintores hondureños en Brasília 2021” será aberta no Instituto Cervantes. Qual a importância dessa exposição? Até quando o público poderá vê-la?
Raquel Romero – Toda exposição é importante pelo seu poder de mostrar ao outro/espectador uma visão muito particular do mundo, neste caso três olhares sobre o mundo compartilhados por três mestres da pintura hondurenha da atualidade. Juntamente a esta perspectiva do hoje, contaremos também com um olhar do sempre, contribuição do artesanato mais tradicional: poderemos contemplar algumas peças de artesanato Lenca que certamente nos dará pistas a cerca de alguns elementos que constituem os trabalhos pictóricos expostos. A exposição poderá ser visitada no Instituto Cervantes a partir do dia 17 de setembro até o final deste mês, por todos aqueles que tenham interesse de se aproximarem até aqui.
Como tem sido a relação entre o Instituto Cervantes e as embaixadas de Brasília?
Raquel Romero – A relação entre o Instituto Cervantes e as embaixadas é, em geral, boa, especialmente próxima e cordial com as embaixadas de países latino-americanos. A missão do Instituto Cervantes é a promoção da língua e cultura em espanhol, e que necessariamente abra as portas a todos aqueles que compartilham de um mesmo idioma e, por consequência, uma cultura, que não devemos esquecer, é enriquecida pela diversidade e obtém dela um de seus elementos de identidade.
Falamos de uma relação de amizade e colaboração constante e aberta a diversas iniciativas que contribuam com a cidade de Brasília e, auxiliados pela virtualidade, também com outros cenários no mundo inteiro, a imagem de uma cultura de raiz comum com manifestações distintas, diversas e ao mesmo tempo individuais de cada um dos países que formam a comunidade hispano-falante.
Quais são as novidades este ano e no início de 2022 para os alunos e o público que frequentam o Cervantes? Teremos música, cinema, novas exposições?
Infelizmente estamos, ainda, em uma situação de fechamento dos espaços culturais do Instituto Cervantes. Temos e teremos, apesar de tudo, atividades culturais diversas apoiadas pelos oito centros do Instituto Cervantes no Brasil. E, com a devida licença, aproveito para deixar manifestado que a maior rede de centros do Instituto Cervantes está no Brasil.
Tal como dizia, somos uma rede solidária que se nutre do trabalho de todos e de cada um dos centros. No caso do Brasil, a colaboração tem sido sempre próxima, mas nestes tempos descobrimos que, além da proximidade, a relação é produtiva, considerando que desde qualquer ponto da extensa geografia brasileira a nossa atividade está a um simples clique.
Atividades: na próxima sexta-feira iniciaremos um ciclo de mesas redondas sobre a “Novela Negra”, que contará com a participação do Dr. Paulo Thomaz como moderador, além de autores como Patrícia Melo, Leonardo Padura, Alexis Ravelo e Gustavo Forero. Teremos ciclos de cinema, colaboração de bicentenários, clubes de leitura, encontros de ciência, reflexão à cerca do mundo e seus oceanos 500 anos após a primeira circum-navegação da terra, participação das feiras literárias, educativas, colaboração com instituições locais, estaduais e federais, com outros centros culturais,…tudo isso pode ser acessado por meio dos sites e redes sociais do centros.
Quantos alunos, professores e funcionários o Cervantes possui em Brasília? Como está sendo lidar com todos, em tempos ainda de pandemia? Que inovações vocês tiveram de fazer?
Raquel Romero – Contamos com um número considerável de alunos, por volta de 800 por ano, que podem se inscrever em cursos gerais, cursos de preparação pra os exames oficiais de espanhol ou cursos especiais de temáticas variadas. Nossa equipe docente está composta por 12 profissionais formados especificamente no ensino do espanhol como língua estrangeira em diferentes universidades e com uma ampla experiência. Graças à sua dedicação e a sua vontade por seguir avançando como profissionais pudemos fazer da necessidade o desfrute máximo de uma oportunidade de gerar novos focos e ampliar nossos cursos levando-os, graças à internet, a aqueles usuários possíveis que, por diversas razões, não podiam assistir aos nossos cursos presencialmente.
Certamente a equipe administrativa e cultural do Instituto Cervantes fez a sua parte, trabalho sem o qual o restante das áreas não iria conseguir seguir em frente. De uma hora para outra os espaços tradicionais foram fechados e adentramos espaços desconhecidos até este momento. As inovações tiveram que ser muitas, rápidas e efetivas: nossos usuários não mereciam menos.
Tornamo-nos expertos nas redes sociais, em aplicativos para a comunicação e se abriu um mundo de possibilidades de colaboração, novos contatos, cenários diversos… muitas coisas mudaram. Agora enfrentamos um novo desafio: Com essa abertura a um novo mundo poderá ser aproveitada em uma hipotética volta à normalidade pré-pandemia?
Qual a importância de Miguel de Cervantes (que dá nome ao Instituto) na cultura mundial?
Raquel Romero – Miguel de Cervantes é, indiscutivelmente, a figura mais importante das letras clássicas em espanhol, quem sabe até das letras em espanhol. Miguel de Cervantes é um desses escritores clássicos no bom sentido do termo, assim como os seus personagens. Dom Quixote, Sancho e Dulcinéia são, sem dúvida, imagens cheias de conteúdo, conhecidos do Oriente ao Ocidente como portadores de valores universais, capazes de dialogar com qualquer cultura e em qualquer época. A obra ápice de Cervantes, “El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha”, é uma novela moderna que pode ser lida e entendida por leitores daqui e de lá, de um século e de outro, e seu valor literário e humano permanece intacto, eu diria que melhorado por cada olhar.
Miguel de Cervantes também é um homem da modernidade: foi soldado, cobrou impostos, foi preso, foi mantido em cativeiro, quis conhecer as Américas, viveu e conheceu seu país, foi ferido e morreu pobre.
Quem é Raquel Romero Guillemas – tem 58 anos, nasceu em La Pobla de Lillet, pequena comunidade da Catalunha, perto de Barcelona. É graduada e doutora em Letras pela Universidade de Lleida (Espanha). Foi leitora oficial de espanhol na Universidade de Varsóvia, cidade na qual iniciou sua relação com o Instituto Cervantes, há 24 anos. Da Polônia veio para o Brasil, onde foi professora do Instituto Cervantes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Voltou a Varsóvia como Coordenadora Pedagógica, depois subdiretora académica do Instituto Cervantes. Em 2011, começou a dirigir centros do Instituto Cervantes, em Argel; e em 2017 o de Sidney, onde ficou até 2020, ano em que retornou ao Brasil, mais concretamente para Brasília, em setembro de 2020.
Deixe seu comentário