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É difícil para quem está a distância entender o tamanho da importância de olhar para fardos de água mineral embalados, à disposição no meio de uma sala, em meio à ansiedade pela abertura de uma fronteira para deixar uma zona de guerra.
O que estamos implementando é a proteção de nacionais brasileiros no exterior. Isso se desdobra em duas vertentes. Primeiro, proteção para que sejam retirados da zona de conflito. A segunda é proteger os brasileiros da crise humanitária que está assolando Gaza”
Os olhos das filhas de Hasan Rabee, hospedadas com ele em um apartamento na cidade Khan Yunis, eram o retrato da importância de coisas simples em momentos de tensão enquanto o pai descrevia o momento em vídeo. “Estávamos loucos para beber água boa. Obrigado à equipe da embaixada, que conseguiu nos mandar alimentação e bastante água. Dá para muitos dias”, comentou Hasan.
Cerca de 95% da população de Gaza não tem água potável disponível. Devido à extração excessiva do aquífero costeiro e à infiltração pela água do mar e esgotos, a água da torneira é salgada, poluída e imprópria para beber.
O bloqueio das fronteiras e os bombardeios frequentes em Gaza nesse período ampliam os problemas de abastecimento de água e energia. A situação de conflito encarece os valores de todo tipo de alimentação ainda disponível em mercados.
“O que estamos implementando é a proteção de nacionais brasileiros no exterior. Isso se desdobra em duas vertentes. Primeiro, proteção para que sejam retirados da zona de conflito, o que já fizemos. A segunda é proteger os brasileiros da crise humanitária que está assolando Gaza”, explicou o embaixador Alessandro Candeas, responsável pelo escritório da Representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia.
“Temos um canal direto de diálogo com eles. Percebemos que estava começando a faltar água e ia faltar alimento. Enviamos recursos e eles conseguiram comprar água, alimentos, remédios. Isso nos dá mais tempo e tranquilidade até que seja aberta a fronteira e eles possam sair”, completou.
Hasan integra um grupo de brasileiros hospedados pelo Governo Federal num apartamento próximo à fronteira com o Egito, em Khan Younis. Outro grupo está numa casa em Rafah. Todos esperam que a passagem de fronteira se abra para que a repatriação seja concluída. De lá, eles serão transportados até o aeroporto de logística mais propícia no Egito e voltarão ao país num avião da Presidência da República, que já está à espera deles em Roma, na Itália.
Desde o início da fase mais aguda do conflito, o Escritório do Governo Federal em Ramala garantiu transporte de zonas mais perigosas para a zona de fronteira, instalou os brasileiros em locais considerados mais seguros e avisou as autoridades dos países em conflito da localização (para evitar bombardeios), utilizou a verba consular para alimentação, água e remédios e propiciou acompanhamento psicológico para os que estão nessa fase de ansiedade e tensão típicas de uma zona de conflito.
“Obrigado por estarem conosco. Estamos tendo acesso a comida, alimentação, água e remédios”, descreveu Shahed Al Banna, em vídeo gravado dentro de um supermercado em Rafah, enquanto fazia a feira. No carrinho, água, suco, verduras, biscoitos e macarrão instantâneo.
AMPLA ATUAÇÃO – Para pressionar pela abertura das fronteiras, a atuação do Brasil tem sido em várias frentes. Embaixadores, ministros e servidores do Itamaraty em Israel, Egito e Gaza atuam para coordenar o trabalho com as autoridades. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teve conversas diretas com os presidentes de Israel, do Egito e da Autoridade Palestina. Presidente do Conselho de Segurança da ONU em outubro, o Brasil também convocou reuniões e tenta aprovar uma resolução que permita a formação de corredores humanitários na região.
VOLTANDO EM PAZ – Desde o início da Operação Voltando em Paz, o Governo Federal já resgatou 916 brasileiros e trouxe 24 animais de estimação em segurança em trajetos entre Tel Aviv, em Israel, e o Brasil.
AJUDA HUMANITÁRIA – Nesta terça, uma aeronave KC-30, da Força Aérea Brasileira (FAB), desembarcou em Roma com 35 purificadores de água e dois kits de medicamentos e insumos de saúde, suficientes para atender até 3 mil pessoas ao longo de um mês.
Os itens se somaram a outros 5 purificadores transportados pela aeronave VC-2 (Embraer 190) da Presidência da República, que está na capital italiana desde sexta-feira (13/10). Em conjunto, os 40 purificadores têm capacidade de tratar mais de 220 mil litros por dia.
Tanto os purificadores quanto os kits com medicamentos seguirão para o Egito na aeronave que levará os insumos humanitários e fará o resgate dos brasileiros que estão em Gaza.
Conforme informações do Ministério da Saúde (MS), cada kit de assistência humanitária é composto por medicamentos e insumos, como anti-inflamatórios, analgésicos, antibióticos, além de luvas e seringas. Ao todo, são 48 itens em cada kit, somando 267 quilos de materiais. Eles são preparados para atender a populações em situação de emergência em saúde pública.