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Enquanto isso, a junta militar instalada com o golpe acusou a França de ter violado na manhã desta quarta-feira o espaço aéreo do Níger, fechado desde domingo (6), com um avião do exército francês proveniente do Chade, e “libertado terroristas”.
Sem fazer uma ligação direta com esta “libertação” de jihadistas, mas no mesmo comunicado de imprensa, a junta anunciou que, na manhã desta quarta-feira, “a posição da Guarda Nacional de Boukou”, na zona das três fronteiras entre Níger, Burkina Faso e Mali, “foi alvo de um ataque” cuja “avaliação ainda não foi estabelecida”.
“Estamos assistindo a um verdadeiro plano de desestabilização do nosso país”, afirma o Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP) no poder em Niamey, cujo objetivo é “desacreditá-lo” e “criar uma ruptura com o povo que o apoia, para criar uma sensação de insegurança generalizada”.
Acusações imediatamente negadas por Paris. “O voo realizado esta manhã [quarta-feira] foi autorizado e coordenado com o exército do Níger”, declarou uma fonte do governo francês. “E nenhum terrorista foi libertado pelas forças francesas.”
Estas acusações contra a antiga potência colonial na região, particularmente visada desde o golpe de 26 de julho, surgem na véspera de uma cúpula da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) na Nigéria.
Na noite de terça-feira (8), a organização afirmou que deseja continuar “a implantar todas as medidas necessárias para garantir o retorno à ordem constitucional no Níger”.
Intervenção armada
O grupo, considerado sob a influência da França, na opinião dos soldados de Niamey, ameaçou a junta com uma intervenção armada caso a diplomacia não consiga restabelecer o cargo do presidente deposto em 26 de julho, Mohamed Bazoum.
Desde então, Bazoum foi mantido em sua residência presidencial em Niamey e está bem de saúde, de acordo com familiares. Diversas autoridades e ministros do seu regime foram detidos, sendo o último caso conhecido o filho do embaixador do Níger em França, Aïchatou Boulama Kané, que se recusou a renunciar ao cargo, apesar da imposição dos militares, e foi detido na terça-feira.
O presidente nigeriano, Bola Tinubu, atualmente à frente da Cedeao, garantiu que a diplomacia é o “melhor caminho a seguir”, sem excluir a intervenção militar. “Nenhuma opção foi descartada pela Cedeao”, enfatizou seu porta-voz.
Um ultimato de sete dias foi dado aos militares que tomaram o poder no Níger em uma cúpula desta organização africana em 30 de julho, mas o mesmo não foi seguido quando o prazo expirou na noite de domingo (6).
Intransigência militar
A cúpula desta quinta-feira (10) na cidade nigeriana de Abuja deve avaliar a situação no que diz respeito à intransigência que os militares nigerianos estão mostrando atualmente. Na terça-feira, uma delegação conjunta da Cedeao, da União Africana (UA) e da ONU não pôde ir para Niamey, uma vez que sua missão foi cancelada pelos militares por motivos de “segurança”, frente à “ira” da “população”.
O adiamento da visita desta delegação se soma a mais um sinal de desconfiança por parte dos novos dirigentes do Níger: a nomeação, na noite de segunda-feira (7), de um primeiro-ministro civil, Ali Mahaman Lamine Zeine, que parece ser o primeiro passo para a nomeação de um governo.
A França, regularmente difamada durante as manifestações na África Ocidental, declarou na terça-feira, por meio de uma fonte diplomática, que apoia “os esforços dos países da região para restaurar a democracia” no Níger.
Os Estados Unidos, importante parceiro da França na luta contra os grupos jihadistas que exploram este país rico em urânio e grande parte da região do Sahel, também tentaram dialogar.
“Um regime democrático”
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, “falou” com o presidente Bazoum na terça-feira, informou o porta-voz do Departamento de Estado americano. Eles discutiram a “recente viagem” a Niamey, na segunda-feira, de Victoria Nuland, número dois na diplomacia americana. Blinken também expressou o “apoio constante dos Estados Unidos” para “encontrar um regime democrático”.
Nuland se encontrou com os autores do golpe, uma reunião em que não teve a presença do general Abdourahamane Tiani, o novo homem forte do Níger. Ela também não encontrou Bazoum. As discussões “foram extremamente francas e por vezes bastante difíceis”, ela reconheceu.
Mali e Burkina Faso, também liderados por militares que tomaram o poder pela força desde 2020 e 2022, respectivamente, mostraram sua solidariedade com o Níger. Eles alegaram que se o país fosse atacado pela Cedeao, seria “uma declaração de guerra” para eles.
Na terça-feira, os dois países enviaram cartas conjuntas à ONU e à União Africana apelando à sua “responsabilidade” para impedir “qualquer intervenção militar contra o Níger, cuja extensão das consequências humanitárias e de segurança seriam imprevisíveis”.
(Com informações da AFP)