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Por Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas
A decisão finlandesa será formalizada dia 15 de maio à organização, conforme um comunicado conjunto do presidente Sauli Niinistö e a premiê Sanna Marin. “Ser membro da Otan reforçaria a segurança na Finlândia. Enquanto membro da Otan, a Finlândia reforçaria a aliança no seu conjunto”, explicou o texto, divulgado nesta manhã.
O país, que tem 1,3 mil quilômetros de fronteiras terrestres com a Rússia, já vinha sinalizando a intenção de abrir mão da neutralidade adotada após a amarga derrota para a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Os 200 anos de neutralidade militar da vizinha Suécia também podem estar com os dias contados.
Sem levar em consideração o passado de guerras dos vikings, os nórdicos são um povo pacífico. No ranking do Índice Global da Paz, que mede a paz no mundo, suecos e finlandeses estão sempre em ótimos patamares, apesar da recente onda de violência entre gangues rivais na Suécia. No entanto, desde o início da invasão das tropas russas na Ucrânia e com as ameaças de Moscou de instalar armas nucleares na região do Báltico caso a Finlândia e Suécia entrem na Otan, a sensação de vulnerabilidade explodiu nos dois países.
Na sequência, o apoio finlandês sobre a adesão à Otan saltou para um recorde de 76%, segundo a última pesquisa de opinião divulgada pela emissora pública do país, YLE. Assim como na Suécia, a Guerra na Ucrânia fez 57% da população se tornar a favor da candidatura do país à aliança militar.
Os próximos passos
Os partidos governantes de ambos países – Suécia e Finlândia – se posicionarão sobre a questão no final de semana. Se for um sim, ambos os parlamentos terão maiorias claras a favor da adesão e o processo de candidatura pode começar.
Na quarta-feira (11), o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, esteve em Helsinque e prometeu apoio, que pode incluir meios militares. Johnson assinou um acordo de defesa e proteção mútua em caso de agressão da Rússia.
“Isso não é um jogo de soma-zero. Se a Finlândia incrementar sua segurança, não será em detrimento de nada”, declarou o chefe de Estado finlandês. Mais cedo, Johnson, esteve em Harpsund, na residência de campo da primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, onde firmaram um acordo semelhante. As garantias mútuas de segurança com a Suécia e a Finlândia, que prevê a partilha de informação e exercícios militares em conjunto, pretendem reforçar a defesa do norte da Europa diante da ameaça da Rússia, além de enfrentar novos desafios geopolíticos, como ameaças híbridas e cibernéticas.
No mês passado, o Parlamento finlandês publicou um relatório afirmando que a adesão à Otan poderia resultar em um “aumento das tensões na fronteira entre a Finlândia e a Rússia”.
“Sisu” traduz alma finlandesa
O presidente russo, Vladimir Putin, tem usado a narrativa da perspectiva de expansão da Otan para a Ucrânia para justificar a guerra. Certamente, a adesão dos países nórdicos seria vista como uma provocação pelo Kremlin.
Porém, existe um conceito que define bem a personalidade dos finlandeses: “sisu”, termo que faz referência a uma determinação acima do normal para lidar com as adversidades. Este conceito tão enraizado na cultura do país se popularizou na Guerra do Inverno, quando a União Soviética invadiu a Finlândia, no final de 1939. Por mais de três meses, o exército finlandês resistiu bravamente, apesar das forças soviéticas serem muito maiores.
A Finlândia conseguiu evitar a ocupação, mas perdeu 10% do seu território. Hoje, os finlandeses relembram o passado e se indagam se isso poderia acontecer de novo. Nos últimos anos, a Suécia tem se sentindo ameaçada com várias violações do espaço aéreo relatadas por aeronaves militares russas. Em 2014, um submarino russo foi identificado no arquipélago de Estocolmo.
Após esses episódios, o exército da Suécia voltou a ocupar a estratégica ilha de Gotland, no mar Báltico. Quando o governista Partido Social-Democrata da Suécia – maior partido do país nos últimos 100 anos – anunciar sua posição, no domingo, 15, provavelmente será o primeiro passo concreto para que o pedido formal à Otan se materialize na cúpula da aliança em junho, em Madri.