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O Equador está passando por uma reforma econômica, com várias frentes: mudanças na taxação de impostos, abertura ao mercado exterior, acesso a melhores tecnologias e vacinação contra a Covid-19 em massa, por exemplo.
De acordo com o embaixador do Equador no Brasil, Carlos Alberto Velástegui, o governo do presidente Guillermo Lasso busca que os cidadãos do país tenham melhores oportunidades de emprego; “empresas e indústrias mais eficientes, mais competitivas, com maior capacidade de exportar, e abrir o mercado a uma dinâmica com possibilidades de maior consumo”.
O diplomata explica que o Estado está estabelecendo políticas de investimentos em setores prioritários e estratégicos, para que parceiros do exterior encontrem um país com propostas normativas apropriadas. Em entrevista exclusiva ao Diplomacia Business, Velástegui fala também sobre o turismo, as belas praias e montanhas do Equador, entre outros temas. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – O presidente do Equador, Guillermo Lasso, tem falado muito em novas tecnologias, digitalização. Como o país tem avançado na área?
Carlos Alberto Velástegui – O presidente Lasso assumiu em maio deste ano, e todas as suas propostas estão dirigidas para a reativação econômica do país. Essa reativação econômica compreende também tecnologia, inovações, dar passos mais relevantes para gerar um novo cenário. O presidente sempre diz “Mais mundo no Equador, mais Equador para o mundo”. Recentemente, tivemos um importante evento no Equador que convocou dirigentes das principais empresas do mundo. Compartilhamos com esses empresários as políticas e propostas que estamos construindo. Várias empresas que estiveram lá – para compreender o potencial de capacidade do país para investimentos no país – estão vinculadas diretamente com tecnologia.
Porém, esse caminho está ainda muito no início. As políticas têm de vir com propostas de legislação, pois a reativação econômica de um país é um processo com muitas “antenas” que precisam estar interligadas. Recentemente, foi aprovada uma lei que trabalha parte do processo de gestão interna no país, vinculada com tributação e normativas que vão trazer novas oportunidades para apresentar às empresas do exterior. Para nós é muito importante, e eu sempre destaco que podemos desenvolver isso aqui no Brasil, pois o Brasil tem uma área muito relevante em áreas de tecnologia, como segurança cibernética, satélites, etc. Então, estamos no início desse processo de poder estabelecer a melhor forma nosso trabalho articulado com as propostas e as políticas do governo equatoriano.
A vacinação contra a Covid também está nesse contexto de retomar a economia, não é?
Carlos Alberto Velástegui – As autoridades equatorianas preveem que para o final do mês de dezembro de 2021 tenhamos mais de 85% da população vacinada, com as duas doses. E a proposta governamental aponta para um processo que contempla a aplicação da terceira dose da vacina, o reforço. Esse processo gerou uma cooperação com vários estados. Ao contrário do Brasil, que tem a própria vacina, a Coronavac, nós precisamos ter cooperação com vários países para ter acesso às vacinas. Em poucos meses do mandato do presidente Lasso, o Equador esteve entre os países com a maior taxa de vacinação da América Latina, Caribe, e também ao nível global. Foi um esforço muito importante. Agora estamos focando na promoção da terceira dose da vacina, a dose de reforço.
Qual a importância das reformas econômicas propostas pelo presidente Guillermo Lasso?
Carlos Alberto Velástegui – As projeções de crescimento do país são por adoção de políticas econômicas, internas de reativação. O projeto todo está ligado, primeiramente, à seguridade sanitária do país para que as pessoas possam ser atores do processo. O processo está também dirigido para que o setor público seja o motor que dirija os esforços ao setor do comercio exterior, agricultura, produção interna e investimento. Para termos uma boa trajetória de desenvolvimento, precisamos de insumos e recursos que possam contribuir para melhorar a infraestrutura do país. É muito importante a presença de parceiros internacionais que possam contribuir com essa questão.
O presidente Guillermo Lasso quer reformas econômicas no país. Qual a importância dessas reformas?
Carlos Alberto Velástegui – O presidente quando ingressou no governo falou sobre a importância de mais Equador no mundo, e mais mundo no Equador. Este relacionamento significa que o Equador tem que estar aberto ao mundo e ser receptivo a todos, estar aberto ao comércio e aos relacionamentos em geral de forma pragmática. Quando falamos pragmática, queremos dizer que o Equador projeta manter relação com todos os países do mundo, uma relação de reciprocidade. Mais importante ainda é superar as condições que vinham pressionando a economia do país, o legado dos governos passados, agravado pela pandemia.
Todos os países foram atingidos pela pandemia, mas tínhamos um legado negativo de governos anteriores. Então as condições econômicas eram mais complexas, essas condições tinham uma realidade que era de desemprego e emprego informal. O governo do atual presidente busca que os cidadãos do país tenham melhor oportunidades de emprego. Essas oportunidades têm de vir com a criação de mais empregos, isso vai estar ligado a todo o mercado, empresas, indústrias… que precisam ser mais eficientes, mais competitivas, terem mais capacidade de exportar, abrir um mercado a uma dinâmica com possibilidades de gerar maior consumo.
Então quando se fala em reativação, falamos na reativação do estado para que ele restabeleça as políticas de investimentos em setores prioritários e setores estratégicos, para que possam vir parceiros do exterior e que possam encontrar um país com propostas normativas apropriadas que possam gerar um relacionamento.
Os preços do Petróleo no Equador baixaram, o que afeta a economia do país, grande produtor e exportador de petróleo…
Carlos Alberto Velástegui – O petróleo tem subidas e descidas…o Equador é produtor sim de petróleo, o que gera maiores ingressos ao país. O petróleo é parte de nossa economia. O mercado dos commodities é oscilante, depende de muitos valores ligados com a realidade, questões de mercado, da própria Ômicron, situações políticas que podem acontecer no mundo.
As relações comerciais do Equador e do Brasil podem crescer em quantidades e também se ampliar em quais áreas?
Carlos Alberto Velástegui – Nós tivemos com o Brasil a quarta reunião de consultas políticas, um espaço de relacionamento muito importante entre as autoridades do Equador e do Brasil. Parte desse trabalho procura enfocar a atenção dos dois governos no comércio bilateral. Agora, temos aproximadamente metade desse relacionamento comercial. Os dois governos trabalham juntos para recuperar valores anteriores, do comércio anterior. Mas para isso precisamos estabelecer uma maior sinergia do relacionamento. Nossas exportações ficam um pouco constrangidas, porque somos de certa forma, competitivos com o mercado de importação do Brasil. E alguns produtos só Brasil exporta para o Equador, mas existem outras necessidades que fazem com o que o comércio não atinja ainda o esperado. Esperamos que esse relacionamento gere, a longo prazo, as metas dessa vinculação.
Entre os principais produtos que estamos exportando para o Brasil está o pescado, o camarão, as flores, madeiras, minerais de ferro, parte dos principais produtos que temos, mas é um índice de exportação ainda muito pequeno.
Recentemente foi inaugurado um restaurante equatoriano em São Paulo, o Mitad del Mundo. Fale-nos sobre a culinária equatoriana.
Carlos Alberto Velástegui – É o primeiro restaurante gourmet equatoriano no Brasil. É o esforço de um empreendedor equatoriano, que já mora no Brasil há muito tempo e abriu esse estabelecimento, permitindo que a culinária equatoriana tenha maior presença na sociedade paulista. Somos muitos equatorianos no Brasil: entre 9 mil a 10 mil. E aproximadamente 2 mil a 3 mil brasileiros no Equador.
A culinária é marcada principalmente pelo ceviche, que é comum também no Peru, com algumas diferenças entre os dois. O ceviche equatoriano é muito gostoso, tem muita variedade de peixe. Temos o encocado, feito com molho do coco, camarão e peixe. É um prato típico da província da Esmeralda, no Equador. Temos também a fritada, feita do porco; e diferentes preparações de salgados, empanadas, sopa especial com mariscos. Temos agora algumas variedades da culinária equatoriana em São Paulo, no Mitad del Mundo.
O turismo no Equador é uma referência forte do país. Como está o setor e quais lugares o sr indica para o turista conhecer?
Carlos Alberto Velástegui – O turismo equatoriano está dependendo das medidas tomadas em consequência da pandemia. Nós temos alguns protocolos sanitários que devem ser cumpridos para entrar no país. O principal deles é ter a vacinação em dia, e o certificado, teste de PCR até 72 horas antes da viagem. São esses os protocolos mais importantes para a entrada no Equador. A pandemia limitou o turismo, e o turismo está retomando no país esse ano. O fluxo de turistas vai depender também das medidas de outros países na questão da permissão dos voos, ou transportes terrestres.
O que não se pode deixar de conhecer no Equador?
Carlos Alberto Velástegui – O Equador é um país muito rico na variedade de opções turísticas, mesmo sendo um país na superfície muito pequeno. Minha sugestão é uma visita a Galápagos, a ilha insular, com muitas espécies, diferentes tartarugas, pássaros, que variam em forma de uma ilha para outra, por causa da necessidade de adaptar-se ao meio único de cada ilha. Então acho que visitar a biodiversidade de Galápagos é uma característica única no mundo, Patrimônio da Humanidade, espaço preservado pelo Equador, onde se vê espécies que não existem em nenhum outro lugar.
Outro lugar que deve ser conhecido é a capital Quito, o centro histórico de Quito, que foi a primeira cidade a ter reconhecimento como Patrimônio Cultural Mundial da Humanidade pela Unesco, em 1978. O maior e mais extenso centro histórico da América Latina e Caribe. O mais preservado e o que tem menos modificações em suas estruturas e construções, situação muito atraente, com arquitetura, museus…. Visite também a linha imaginária do equador, que faz parte da nossa história como país, que faz parte do entendimento do globo em que nós habitamos. São também muitos apreciadas as praias do país, como a praia “Los Frailes”, muito bem conservadas…praias para a prática de esportes…
Nós amamos a avenida “Los Vulcanes” para fazer um trajeto através da serra com paisagens inacreditáveis; o Chimborazo (a mais alta montanha do Equador e do mundo, com 6.300 metros) muitas atrações que acompanham um trajeto de viagem inter-andina. Os trajetos são muito glamurosos. Temos na zona norte, a zona dos lagos, lagos maravilhosos, rodeados por muita natureza que atraem os visitantes. Uma das coisas mais importantes que existe no Equador é a hospitalidade, o estrangeiro é sempre muito bem-vindo. O equatoriano tem um apreço e atenção ao estrangeiro, quando solicitado.
Como o governo Lasso tem lidado com sustentabilidade?
Carlos Alberto Velástegui – A sustentabilidade é uma proposta que temos hoje no governo do Equador, manifestação para a preservação ambiental, não somente da região amazônica, mas de todas as outras. Cresceu muito o número de áreas de proteção ambiental, vinculadas à conscientização das pessoas pelo respeito do ambiente. É um desafio que tem nosso país para seguir esse caminho de energia limpa, renovável, em cuidar dos territórios dos países.
A luta contra a violência e o narcotráfico é contínua no Equador. Que avaliação o sr. faz dessas questões no seu país?
Carlos Alberto Velástegui – Todos os países: Brasil, Equador, Peru, Estados Unidos…têm problemas, principalmente a delinquência transnacional organizada. As redes internacionais de narcotráfico são uma das maiores ameaças para a sociedade, para os estados. Através delas há uma violência, não somente o tráfico de drogas, mas também o tráfico de armas, de pessoas, a corrupção, então tudo isso faz que a sociedade esteja exposta a um trabalho organizado, tanto interno como externo, articulando políticas regionais e multilaterais. O governo do presidente Lasso tomou uma decisão vinculada para exercer maior controle sobre essas questões internas e internacionais que operam no Equador. O Equador sempre foi um país de paz, muita tranquilidade, não é produtor de droga, mas fica evidente a presença de cartéis internacionais que utilizam o nosso país para o transporte da droga.
Quais são as prioridades da embaixada para 2022?
Carlos Alberto Velástegui – Nossa projeção para 2022 tem como base as prioridades definidas pelo presidente, a primeira delas vai ser gerar espaços que permitam a reativação econômica dentro do país. Em outras palavras, vamos tratar de apoiar o crescimento do comércio bilateral, gerar o conhecimento para buscar investimentos para nosso país, aprimorar a relação com o Brasil nos âmbitos culturais, relacionamento das nossas populações, educação, parte acadêmica, conhecer melhor um país ao outro. Queremos motivar maior presença do turismo no Equador, sempre considerando dupla via. Tudo tem que ter o melhor relacionamento. Falando do comércio, o comércio tem de melhorar bilateralmente, em ambos países. Temos muitos desejos de estabelecer passos objetivos nessa visão. Temos uma atenção especial para nossa comunidade no Brasil. Nós vamos engajar nossa comunidade nas áreas de conhecimento da embaixada e perceber as necessidades deles nesse enorme país.
Perfil
O embaixador do Equador no Brasil, Carlos Alberto Velástegui, chegou em Brasília em 15 de setembro de 2021. Tem 58 anos. Nasceu em Quito. É formado em advocacia, com pós-graduação em Comércio Exterior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possui mestrado em Política Migratória Internacional, em Buenos Aires, Argentina, além de cursos distintos, vinculados às Nações Unidas, comércio bilateral e regional. Entrou na Diplomacia em 1992 e seu primeiro posto foi no Rio de Janeiro, seguindo depois para o Panamá; Sidney (Austrália), Nova Iorque (Nações Unidas), Buenos Aires (Argentina) e Brasília.