Pelo menos nas últimas três décadas a palavra sustentabilidade teve seu significado atrelado às questões ambientais.
Introduzido no âmbito da Rio-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro), o conceito surge com a ideia de “desenvolvimento sustentável” na Agenda 21, um documento que estabeleceu a importância de cada país em se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais.
Dentro deste conceito de desenvolvimento sustentável, objetivo geral de cada país integrante das iniciativas pró-clima, está a ideia de energia limpa, ou renovável, ou seja, a utilização de recursos que causem o menor impacto ambiental possível. Neste sentido, o petróleo, combustível fóssil escasso e altamente poluente, sempre foi um inimigo declarado do desenvolvimento sustentável.
Mas como promover uma mudança de paradigma energético nos países em desenvolvimento, especificamente os países da América Latina, sem produzir crises econômicas ou socioambientais? Para responder a esta e outras perguntas, a Sputnik Brasil conversou com o economista, especialista em óleo e gás e professor do Instituto de Energia da PUC-Rio Edmar Almeida.
Segundo o professor, nem todos os setores serão descarbonizados por não existirem ainda alternativas energéticas. Este é o caso da aviação e da navegação, que ainda dependem exclusivamente de combustíveis fósseis, e o setor petroquímico.
Desafios da América Latina
É verdade que os países latino-americanos já têm se alinhado diante da tendência de adoção de novas formas de geração de energia elétrica, por exemplo. Com o barateamento das tecnologias solar e eólica, os países em desenvolvimento terão novas oportunidades de negócio.
“Para esses países vale muito mais a pena exportar o gás e o petróleo que usar esses produtos para a produção de energia elétrica, por exemplo. Isso já acontece na Colômbia e na Bolívia com a exploração da energia solar. Além disso, com relação ao petróleo, para os países cujos regimes fiscais e reservas forem atraentes, vai haver uma corrida muito grande para investimentos na produção”, garantiu Edmar.
Com a demanda de petróleo mundial em queda, a competição para a venda de petróleo deve aumentar graças à seletividade do mercado internacional. A competição vai beneficiar os países produtores com menor pegada de carbono, ou seja, menor intensidade de emissão de carbono, como o pré-sal, por exemplo.
Como as energias de baixo teor de carbono têm custos mais elevados, Edmar ressaltou que isto “vai afetar diretamente a velocidade da transição energética”, já que a eletrificação dos transportes, por exemplo, está relacionada com os recursos financeiros desses países.
Na América Latina, o maior desafio será não ficar para trás no curso do desenvolvimento energético, uma vez que existe uma desvantagem tecnológica em relação aos países centrais.
O Brasil está em vantagem em relação ao restante do mundo na meta de descarbonização. Com uma matriz energética de participação de renováveis em 44% (contra 15% da média mundial), o país segue na frente quando o assunto é transportes. A alta utilização de biocombustíveis, como etanol e biodiesel, não inviabilizará a entrada de carros elétricos no país, em que mais de 80% da energia elétrica é de fontes renováveis.
O cenário otimista não inviabiliza a produção e o investimento na indústria petrolífera do país. Segundo Edmar, as oportunidades estão postas.
“Durante décadas ainda vai haver necessidade de consumo de petróleo no mundo. O Brasil pode conciliar o aumento na produção de petróleo, com uma produção de baixa intensidade carbônica para a exportação, com a descarbonização de sua economia, basta para isso uma boa política orientadora”, concluiu.
* Publicado originalmente por Sputnik.
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