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Comunidades isoladas da Amazônia brasileira têm tido a oportunidade de produzir e gerenciar seus pequenos negócios com o apoio de uma designer apaixonada por esse trabalho: Flávia Amadeu. Essa brasiliense, de 42 anos, ministra oficinas para esses povos, capacitando-os para transformar borracha em artigos de moda, com sustentabilidade, economia criativa e conhecimento compartilhado.
Novos horizontes, abertura de mercados e a produção de artigos de alto valor e diferenciados, que ganham o mundo fashion, têm sido alguns dos resultados dessa interação da designer com esses povos, mesmo em tempos de pandemia da Covid-19. As idas e vindas de Brasília ao Acre, Pará e Amazonas diminuíram, claro, com as restrições provocadas pela Covid, mas os laços criados e a produção continuam.
“Todas as vezes que estou na Amazônia, naqueles barcos, sempre que encontro as pessoas, eu sinto dentro da minha alma a certeza do meu caminho, do meu trabalho”, explica Flávia. Ela usa borracha colorida e tecnologias sociais que ajudam a incluir mulheres e jovens na cadeia produtiva e a preservar os recursos naturais. Flávia tem reconhecimento internacional no nicho de moda sustentável. Seu trabalho – bolsas, colares, cintos, óculos, máscaras joias orgânicas, roupas, entre outros produtos – já foi visto e vendido em vários países, além do Brasil.
Empreendedorismo – Mais de 250 pessoas participaram das oficinas da designer, feitas sempre conhecimentos compartilhados. A primeira fase é de interagir, depois vem questões como empreendedorismo, autonomia, continuidade da gestão da produção, um diálogo, segundo Flávia, para dentro e fora da floresta. “Esses povos dependem de uma economia, de um mercado, mas muitas vezes não têm preparo para lidar com esse mercado”, explica, lembrando que o mercado também não possui habilidade para lidar com escala pequena, com outro tempo e outros modos de produção.
Nas oficinas, ela trabalha esse entendimento da cadeira produtiva como um todo de uma forma holística. “Sustentabilidade é um processo holístico, onde você tem de olhar desde a origem do material, as relações humanas, com o meio ambiente, até o consumidor, ou seja, é um todo”, ressalta. O carro-chefe da produção são artigos feitos com a borracha colorida, mas há o uso de outros materiais da floresta. As capacitações priorizam a gestão da produção e o empreendedorismo comunitário. O trabalho de design nas comunidades foi tema do doutorado de Flávia Amadeu, oportunidade de reflexão e pesquisa para transformação social.
Flávia gosta de retornar aos locais onde ministrou oficinas e dar sequência ao trabalho, mas segundo ela, no momento, por causa da pandemia, os trabalhos prosseguem de uma forma diferente. “Continuamos com a produção, trabalhando com as comunidades e aguardando momento melhor para a gente retornar àquelas localidades”, diz. Este ano, Flávia realizou oficina de empreendedorismo comunitário – englobando artesanato, turismo, produção de açaí, produtos e valores da floresta – com o povo Iawanawá, no Acre, já vacinado contra a Covid-19. A designer tem planos de novas capacitações e produções, mas como a pandemia trouxe novos contextos, é necessário reestruturações.
Impacto – As oficinas da designer brasiliense impactam diretamente em mais de 600 pessoas de comunidades do Acre, Pará e Amazonas, muitas onde só se chega de barco e depois de muitos dias. Curralinho, no Pará; Cazumbá-Iracema e indígenas – como os Yawanawá e os Araras – no Acre; comunidades da flona do Rio Tapajós são alguns dos povos capacitados por Flávia Amadeu, que tem ganhado prêmios internacionais e possui parceria com o JuntoPelaAmazônia, SOS Amazônia, Universidade de Brasília, dentre outras entidades que lutam pela Amazônia.
Quando Flavia começou a trabalhar com a borracha, em 2004, ela já tinha o foco na questão social. “Eu profetizei naquela época esse trabalho que faço até hoje como se fosse uma missão”, diz emocionada, destacando o prazer de estar na Amazônia. “É muito bacana, algo que vai além do racional, totalmente. Nunca tenho medo ou insegurança, mesmo em lugares sem comunicação, remotos. Me sinto segura como se tivesse ali uma fortaleza”.
Mais detalhes no site de Flávia Amadeu