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Na noite da terça-feira (28), os embaixadores da Alemanha, Bettina Cadenbach, e de Israel, Daniel Zohar Zonshine, receberam convidados na sede da embaixada alemã, em Brasília, para uma cerimônia em homenagem ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
A data marca o aniversário da libertação pelas tropas soviéticas do Campo de Concentração e Extermínio Nazista de Auschwitz-Birkenau, em 27 de janeiro de 1945. O Dia Internacional de Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto foi proclamado oficialmente pela Assembleia Geral das Nações Unidas em novembro de 2005.
O evento contou com os discursos dos embaixadores Bettina Cadenbach e Daniel Zonshine, além do emocionante depoimento da sobrevivente Ariella Pardo Segre, uma italiana de origem judaica, que fugiu, junto de sua família, da perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Bettina Cadenbach, Embaixadora da Alemanha no Brasil, enfatizou que manter acesso à memória do que aconteceu na época do nacionalsocialismo é uma tarefa perene. “Trata-se de transmitir a verdade da história e dos fatos, verdade que nós todos temos que enfrentar”. A diplomata aproveitou sua fala para lembrar que foi graças a David Ben-Gurion e Konrad Adenauer, 20 anos após a libertação de Auschwitz, que Alemanha e Israel estabeleceram relações diplomáticas.
“As relações entre a Alemanha e Israel são uma das parcerias internacionais mais significativas. Porém, ela é sobretudo uma parceria que se tornou amizade. Essa amizade e a responsabilidade histórica da Alemanha estão sempre entrelaçadas. A responsabilidade de nunca mais permitir o que aconteceu durante o Holocausto”, afirmou Cadenbach.
A Embaixadora finalizou reafirmando o compromisso da Alemanha no apoio inabalável à Israel. “Quanto à segurança, o mesmo o direito à existência de Israel, está ameaçado, e não existe neutralidade para nós, estamos e ficaremos ao lado do país irmão”.
O Embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, em seu discurso destacou a importância da data, salientando ser essencial preservar a memória do período que exterminou judeus e outros grupos para garantir que, no presente e no futuro, os casos não se repitam, além de promover o respeito à dignidade humana sem antissemitismo.
“Podemos observar hoje, por exemplo, tendências preocupantes de outros lugares que nos lembram da importância de preservar e proteger nossos valores fundamentais. Mesmo 80 anos depois, o Holocausto ainda faz parte da nossa vida, tanto em Israel quanto no mundo inteiro”.
Zonshine enfatizou também que “à medida que o tempo passar e não houver mais pessoas que vivenciaram o Holocausto, que sobreviveram a ele, será mais difícil colocá-lo em sua devida perspectiva”, portanto, é de suma importancia a conscietização da data para evitar a intolerância e a prática do antissemitismo, até a sua total erradicação.
Ariella Pardo Segre, uma sobrevivente italiana, de origem judáica, do Holocausto, contou a todos sobre sua sofrida, porém vitoriosa luta pela sobrevivência do começo ao fim da tenebrosa Segunda Guerra Mundial. Ela contou que em setembro de 1943, teve início a jornada da família judia italiana atravessando os Alpes rumo à Suíça por causa da perseguição nazista.
Pardo explicou que depois de todo o percurso pelos Alpes, sua família convenceu as autoridades suíças a permitir sua entrada. Ao chegarem a um campo de refugiados, a família foi dividida e Ariella foi viver junto de outras meninas.
Alguns anos depois, voltaram para a Itália, onde ficaram no campo de refugiados em uma praça de Bolonha até conseguirem voltar para sua antiga casa. Na década de 60, ao se apaixonar por um imigrante que fez do Brasil sua morada, Ariela decidiu se mudar para o país sul-americano, onde vive até hoje, dividindo a vida com o marido, filhos e netos.
Memórias de um mundo perdido
Como lembrado pela Embaixatriz de Israel no Brasil, Liora Zonshine, quando a Segunda Guerra assolou a Europa, milhares dos judeus presos nos campos de concentração pensavam compulsivamente em comida. Muitos deles, principalmente mulheres, também escreveram coleções de livros de receitas, incluindo receitas com as quais elas poderiam apenas sonhar. Para a ocasião do Dia Internacional, a talentosa Liora preparou diversas “receitas de um mundo perdido”, incluindo uma sopa servida aos cativos no próprio campo de concentração de Auschwitz.
Nas palavras de Zoshine, o termo cozinha platônica foi cunhado pela historiadora Mina Pachter em seu livro de receitas, escrito em 13 estados. Alguns meses antes de morrer de fome, Mina Pachter completou um livro com 70 receitas. Yolanda Schiffels, em outubro de 1944, em Bergen-Belsen, escreveu receitas de Sertor, torta de nozes, bolo de roche. Beth Herzberg, no limiar da morte de fome em Bergen-Belsen, documentou as refeições de repolho no campo todos os dias.
O livro de receitas de Malka Zimet, escrito no acampamento de Lansing, perto de Mauthausen, é difícil de decifrar. O papel era precioso e Zimet escrevia receitas de guloseimas em alemão e tcheco, em folhetos de propaganda e em fotos de Adolf Hitler.
Rizis Kishak, por sua vez, no campo de conversação de campanha na França, imaginou e ilustrou em outubro de 1941, no auge da fome, um cardápio rico e completo para a refeição da noite de Yom Kippur.
Essas valentes mulheres mencionadas pela Embaixatriz de Israel são apenas alguns exemplos de muitas outras que, mesmo em um momento tão difícil, delicado e tenebroso, não deixaram a fantasia e o vislumbre de dias melhores para trás.