Nesta quinta-feira (23), ocorreu o 10º Fórum Lide do Agronegócio. O evento é promovido pelo grupo de líderes empresariais (Lide). Os temas deste ano foram a imagem do Brasil no cenário global, as inovações tecnológicas e sustentáveis com foco em ESG e a evolução da agricultura sustentável no país.
Em sua participação no painel de abertura, André Corrêa do Lago, embaixador do Brasil na Índia afirmou que os produtores brasileiros precisam se preparar para oportunidades que surgirão nas próximas décadas.
“Um ex-colega meu escreveu um artigo dizendo que, de certa forma, perdemos o trem em nos preparar para a negociação com a China. Não podemos fazer isso com a Índia, precisamos negociar nosso papel com essa que se tornará a 3ª economia do mundo”, disse ele, que está no país há 18 meses.
“O Brasil tem de pensar mais na Índia. O que os brasileiros podem fazer hoje a respeito dessa pauta?”, questionou, antes de responder: “Têm de começar a negociar já o papel que o país poderá ter nas próximas décadas nessa economia que será a terceira maior do mundo”.
Ele acredita que Brasil e Índia precisam desenvolver uma agenda conjunta, porque enfrentam desafios complementares. Estando em hemisférios diferentes, os países têm safras em partes do ano diversas e isso permite a complementaridade.
Além disso, segundo o diplomata, os brasileiros deveriam trabalhar para uma produção especialmente voltada para os mercados indianos. Ele citou dois exemplos: os pulses (leguminosas secas) e as maçãs.
“A Índia tem enorme população vegetariana, e quando a produção de pulses caiu, o país abriu a importação. A Embrapa começou pesquisas e, nos anos seguintes, começamos a consolidar produção como maior exportador de determinados tipos de feijão para lá”, enfatizou. “Temos de produzir para a Índia, não podemos olhar para esse mercado que vai, inevitavelmente, crescer em centenas de milhões de consumidores, apenas como uma oportunidade complementar.”
Por sua vez, a Índia necessita de tecnologia, maior cooperação internacional e produtos de outras origens. Isso envolve diretamente o Brasil, um dos líderes mundiais no agronegócio. Alguns passos importantes já foram dados, como as negociações com o Mercosul, que inclui a pauta agrícola.
O diplomata reitera que uma aproximação do Brasil com a Índia será essencial para o setor agrícola brasileiro num futuro próximo. Entre os indicadores elencados por ele está o crescimento da classe média indiana, que já supera a da União Europeia.
Outra questão destacado por Corrêa foi o aumento na mistura de etanol à gasolina feito pela Índia, que se semelhante ao que é feito no Brasil. “Acho que essa questão é o símbolo máximo porque junta todas as agendas – agricultura, tecnologia, ecologia, melhora social.”
Balança comercial
De acordo com Secex (Secretaria de Comércio Exterior) as relações comerciais entre Brasil e Índia no setor agropecuário não são expressivas.
Entre janeiro e agosto, o Brasil exportou o correspondente a US$ 527 milhões (R$ 2,8 bilhões). Os principais produtos foram óleo de soja, açúcar, etanol e feijão.
A Índia é uma grande fornecedora de insumos agroquímicos para o Brasil. As importações brasileiras nessa área chegaram a US$ 320 milhões (R$ 1,7 bilhão) até agosto, deixando os indianos na terceira posição entre os maiores fornecedores de agroquímicos para o Brasil.