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Na noite de segunda-feira (13), a Embaixada da França no Brasil realizou, na Residência Oficial em Brasília, uma cerimônia de Condecoração com a insígnia de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra de Ailton Krenak, um intelectual, ativista e defensor do meio ambiente e dos povos originários.
Sua condecoração é a oportunidade de reforçar o compromisso da França com a defesa dos povos originários e meio ambiente, tema prioritário da cooperação entre a França e o Brasil. Na ocasião, discursaram, o Embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain e o ativista Ailton Krenak. O evento contou também com a performance de uma cantora indígena Kaê Guajajara.
Emmanuel Lenain destacou em seu discurso que a condecoração “é a mais importante e alta da República da França”. Existente desde 1801, na época Napoleônica, era usada para condecorar méritos durante a guerra mas, “hoje em dia também é dada para civis que contribuíram com algo muito grande na sua vida e que defendem as suas crenças, os seus valores, o que, obviamente, é o caso de Ailton Krenak”, acrescentou o diplomata.
O Embaixador lembrou que Krenak participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia, e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). Como liderança histórica do movimento indígena, teve um papel fundamental também na conquista dos Direitos indígenas na Constituinte de 1988.
Lenain prosseguiu reiterando o apoio total da França e do Presidente Emmanuel Macron à luta indígena. “Nós apoiamos seu combate porque seus povos são os guardiões da floresta, da biodiversidade, e além disso, eles merecem todo o nosso respeito pela sua tradição, seu modo de vida e sua riqueza ancestral”, disse.
Além disso, nas palavras do diplomata francês, Ailton não é apenas um grande representante indígena, é também um intelectual, cujas obras artísticas e literárias são bastante apreciadas na França. “Através de suas obras, você questiona todas as incertezas da nossa sociedade moderna, começando pela sua noção de sustentabilidade. Sua sabedoria nos lembra que precisamos viver em sintonia com a natureza”, sublinhou.
Lenain finalizou seu discurso reafirmando o compromisso francês com o meio ambiente e com a luta pelos direitos dos povos originários mundo afora.
Por sua vez, Ailton Krenak, começou seu discurso elogiando as palavras do Embaixador Lenain, ressaltando que as relações entre os povos não se pauta somente pela política. “Devemos ensinar às nossas crianças gentileza com a vida, assim nós vamos ter a oportunidade de que essa diferença intrínseca possa ser exercida dentro de casa, no nosso convívio, nas nossas famílias, no nosso cotidiano, no lugar de trabalho e também naquele lugar fundamental para essa complexidade que a gente vive hoje”.
Krenak fez referência ao lema da bandeira francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), destacando a importância de reconhecer as diferenças e a diversidade de vidas no planeta. Ressaltou que “a ideia da diferença é exatamente a possibilidade de admirar o próximo, de termos curiosidade sobre os outros e que as ideias se tornem tão relevantes e interessantes que a gente quer parar para ouvir a ideia do outro”.
No que diz respeito à sustentabilidade e preservação do meio ambiente, Krenak disse que a espécie humana se tornou uma ameaça biológica para o planeta. “Nós somos cerca de 8 bilhões de pessoas sapateando o planeta. Nós precisamos pelo menos ser capazes de dançar ao invés de sapatear. Ao invés de sapatear e marchar, a gente deveria aprender a dançar”, de modo a unir ciência, tecnologia, o conhecimento sem arrogância.
Concluiu dizendo estar muito honrado com a condecoração, com as palavras gentis do Embaixador francês, com a oportunidade de fala e com as presenças tão expressivas de todos os que participaram da cerimônia.
Quem é Ailton Krenak
Ailton Krenak é um intelectual, ativista aguerrido e incansável defensor do meio ambiente e dos povos originários. Participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia, e contribuiu para a criação da União das Nações Indígenas (UNI). Como liderança histórica do movimento indígena, teve um papel fundamental na conquista dos Direitos indígenas na Constituinte de 1988.
Filósofo, professor, escritor e poeta, Krenak é o primeiro indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras. Seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo” foi traduzido para o francês em 2020.