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A revista francês L’Obs traz uma reportagem mostrando aspectos o que pode se chamar de “diplomacia feminina”. A própria Organização das Nações Unidas há muito defende a ideia de haver um maior envolvimento de mulheres em todas as áreas, inclusive nas negociações internacionais. Parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a proposta é explícita no ODS 5, “igualdade de gênero”.
Sabidamente, as mulheres ainda são minoria no corpo diplomático mundial, com alguns países não tendo histórico de nenhuma ministra das Relações Exteriores ou equivalente. Ao mesmo tempo, Madeleine Albright, dos Estados Unidos, e mais recentemente a alemã Angela Merkel e a chilena Michelle Bachelet, tem demonstrado a força positiva da diplomacia conduzida por mulheres.
A L’Obs argumenta que “uma política externa feminina começa pela integração das mulheres nos processos de decisão de seus países e nos espaços internacionais, como as reuniões de cúpula do G7”. Não se trata de uma questão ideológica reducionista, mas a perspectiva que isso colaboraria pela igualdade de gênero no mundo, acredita a revista.
Um dos exemplos dessa mudança na política mundial é o caso de sucesso da Suécia, que desde 2014 a coloca mulheres no centro do debate de praticamente todas as decisões diplomáticas. Além disso, países, como Canadá, França e México, também ampliaram decisivamente o espaço feminino nas relações internacionais.
Margot Wallström, ex-ministra sueca das Relações Exteriores, é uma das principais defensoras desse conceito de diplomacia feminina. Ela defende que a presença de mulheres é um facilitador das grandes negociações internacionais, capaz de criar outros tipos de interações informais.
“Quanto mais mulheres, mais paz”, resumiu a ministra sueca. Segundo ela, a experiência do seu país “mostrou que quando elas estão em volta da mesa para assinar acordos de paz, as soluções surgem com mais facilidade e os compromissos firmados tendem a durar”.
O argumento de Wallström ecoa um estudo Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores, em tradução livre”, que fez uma análise de dados internacionais abalizando a habilidade feminina para negociações diplomáticas. O levantamento afirma que isso seria explicado pelo fato de que as mulheres frequentemente adotarem uma “abordagem mais colaborativa” e teriam mais facilidade para ultrapassar barreiras culturais.
“A probabilidade de chegar a um acordo é maior pois as mulheres são consideradas negociadoras honestas”, argumenta a L’Obs. “Como elas atuam muito mais fora das esferas de poder e geralmente não controlam as forças de poder, são vistas como mediadoras mais imparciais que os homens”, defende ainda o periódico.
Essa “diplomacia feminina” certamente ainda tem muitos desafios pela frente. Os dados apresentados pela revista francesa aponta que “entre 2015 e 2019, as mulheres constituíram, em média, 14% dos negociadores, 11% dos mediadores e apenas 7% dos signatários dos principais processos de paz no mundo”.
Outro aspecto destacado pela reportagem é a capacidade das mulheres de mobilizar redes comunitárias para estabelecer acordos. “No Afeganistão, as poucas mulheres membros dos conselhos de paz locais conseguiram negociar diretamente com os chefes rebeldes e facilitar a liberação de reféns, a partir de um primeiro contato com as esposas dos talibãs”, lembra a revista. “Elas também atuaram contra os discursos extremistas nas escolas e organizações comunitárias, pois tinham acesso a espaços sociais nos quais os homens não são aceitos”, assevera.
Existe ainda um relatório da ONU Mulheres, que destacou o vínculo que existe entre a igualdade de gênero e a construção e manutenção da paz. Numa análise de 40 processos de paz, entre 1990 e 2013, ficou evidenciado que, nos casos em que as mulheres ocupavam posições de influência sobre as negociações, os acordos sempre foram assinados. Além disso, ficou evidenciada uma relação positiva entre a influência das mulheres nas negociações e a probabilidade de que tais acordos fossem implementados.
Com informações de Rádio França Internacional.