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Timothy Jenkins*
Nosso mundo hiperconectado colocou mais poder nas mãos de indivíduos e outros atores não ligados ao governo, como ONGs. Na última década, os Ministérios das Relações Exteriores reagiram, tornando-se cada vez mais sofisticados em suas estratégias de comunicação. Os diplomatas precisam se comunicar diretamente com o público estrangeiro para explicar as políticas externas e mobilizar os governos e a sociedade civil para apoiar seus objetivos.
Em artigo para a revista Spectator, o escritor inglês Sebastian Faulks concluiu após uma visita literária à Rússia: “É assim que a cultura chega a partes que a diplomacia convencional não alcança”. Muitos dos fatores que influenciam a atratividade de um país estão fora do controle direto do governo. Música, herança, arte e cultura em geral, por exemplo, exercem uma poderosa atração emocional sobre a alma humana e falam muito sobre as sociedades que as produziram.
A maioria dos jornalistas do Serviço Mundial da BBC não se consideram ativos na execução de soft power nem ouvimos sobre músicos e atores britânicos pressionando Hollywood para tentar comunicar a ‘superioridade cultural’ do Reino Unido. Independentemente da intenção, esses indivíduos e instituições falam muito sobre a governança, cultura e valores do seu país e podem criar as condições certas para converter boa vontade em influência global.
O controle governamental direto sobre atividades ou instituições que influenciam positivamente os públicos estrangeiros costumam gerar suspeitas. A atividade do soft power é rapidamente prejudicada se carecer de autenticidade ou ter a aparência de propaganda governamental. Tentar direcionar conselhos nacionais, emissoras de TV ou instituições culturais para ganhos políticos pode distorcer sua eficiência operacional e impedi-los de oferecer os bens públicos que os tornam ativos no exercício do soft power em primeiro lugar.
Por exemplo, embora os objetivos do Serviço Mundial da BBC sejam acordados com o Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, a maneira como cumpre sua função central, oferecendo um serviço de notícias preciso, imparcial e independente sobre acontecimentos internacionais, fica a critério da própria BBC. A mudança de sua natureza jurídica em 2014, tornando-se independente da regulação estatal ajuda a Agência a não ser vista como um braço do governo. Atualmente, a BBC é a maior emissora internacional do mundo, transmitindo notícias pelo rádio, pela TV e pela internet em mais de 40 idiomas.
Um dos maiores argumentos para os governos manterem distância das organizações que se utilizam de soft power é que o Estado simplesmente não pode competir com a cultura popular e com redes globais de indivíduos que trocam conhecimento, arte, ideias e experiências. Conforme o professor Joseph Nye avaliou as tentativas da União Soviética de promover sua superioridade cultural durante a Guerra Fria, “a propaganda estatal soviética e os programas culturais não conseguiam acompanhar a influência da cultura popular comercial dos EUA seja em flexibilidade ou poder de atração. Muito tempo antes da queda do Muro de Berlim em 1989, este havia sido perfurado pela televisão e pelos filmes. Os martelos e os tratores não teriam funcionado sem anos de transmissão de imagens da cultura popular ocidental que violaram o muro antes da sua queda.”
Como podemos ver nesta era de política populista e marketing de mídia social, as pessoas respondem a seus pares, influenciadores e figuras públicas muito mais do que faziam quando se informavam pela TV, rádio ou impressos. As sociedades que podem trocar ideias livremente e, em seguida, defender questões específicas são as mais capazes de formar os múltiplos pontos de contato que influenciam eficazmente o público estrangeiro em grande escala.
Conforme observou o pai da diplomacia pública, Edward R. Murrow: “O verdadeiro elo crucial no intercâmbio internacional é o último metro, que estabelece o contato pessoal, uma pessoa falando com a outra”. Embora os governos devam ter cuidado para não direcionar abertamente as atividades de seus cidadãos como parte de sua diplomacia pública, os indivíduos são cada vez mais importantes para resolver alguns dos desafios mais complicados do mundo. O ex-embaixador do Reino Unido Tom Fletcher, em seu livro ‘Naked Diplomacy: Power and Statecraft in the Digital Age’, argumenta que “a diplomacia é muito importante para ser deixada para diplomatas”. O que Fletcher defende é uma nova “Diplomacia Cidadã”, onde os indivíduos assumem a responsabilidade de oferecer soluções para os problemas comuns do mundo. O recente relatório de Wilton Park, “Nova Diplomacia“, faz um apelo semelhante para que novos atores sejam incluídos na resolução de questões diplomáticas. Indivíduos que atuam no terceiro setor, no mundo dos negócios, na área do entretenimento e na educação têm um papel importante a desempenhar.
Esses novos diplomatas cidadãos, mesmo quando suas agendas são diferentes das de seu governo, desempenham um papel vital na projeção de uma imagem positiva de seu país. Sociedades engajadas globalmente têm uma enorme vantagem competitiva sobre aquelas fechadas e isoladas. No entanto, é tentador ver os diplomatas cidadãos como concorrentes ou disruptores da diplomacia convencional. Os diplomatas de países democráticos precisam defender suas convicções e confiar nos valores da sociedade que representam. Ao criar plataformas de intercâmbio cultural e de defesa para diversos atores da sociedade, os governos podem ajudar de forma mais eficaz a resolver os problemas comuns do mundo, ao mesmo tempo que promovem uma imagem melhor de seu país no exterior.
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* Timothy Jenkins é Coordenador de Políticas e Assuntos Públicos do VisitBritain, no Reino Unido. Mestre em Relações Exteriores e Diplomacia pela Universidade de Buckingham, atua como conselheiro político e escreve sobre diplomacia cidadã com regularidade.