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Em novembro de 2003, as trocas comerciais entre Índia e Brasil giravam em torno de 300 milhões de dólares, ou seja, um valor pequeno para trocas comerciais entre duas importantes nações. Com a atuação da Câmara de Comércio Índia Brasil (CCIB) – através da promoção de diversas delegações, missões empresariais e oficiais de brasileiros à Índia, recepção de delegações e empresas indianas ao Brasil, realização de congressos, seminários, fóruns e outras iniciativas – foram firmados diversos cases de sucesso, joint ventures, investimentos diretos, parcerias, trocas de melhores práticas, culminando assim em uma maior troca comercial.
Quem relata toda essa trajetória, com exclusividade ao Diplomacia Business, é o presidente da CCBI, o diplomata, empresário e empreendedor, Leonardo Ananda. Segundo ele, a Índia já é o 5º maior parceiro comercial do Brasil.
Leonardo Ananda destaca que a Índia vem trabalhando para ter crescimento “muito sustentável, inclusive também com grandes investimentos em energias alternativas e energias renováveis, renovando e alterando sua matriz energética”. Lembra que a Índia é uma das maiores democracias do mundo, com boa estabilidade política e preparada para o comércio internacional, inclusive a maioria da população fala inglês, o que auxilia muito o país em suas tratativas comerciais. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – Fundada em 2003, a CCIB tem quase duas décadas de atuação. Qual balanço o sr. faz da atuação da Câmara nesses anos?
Presidente da Câmara de Comércio Índia-Brasil, Leonardo Ananda – Completamos – no final do ano passado – 18 anos de atuação, sempre trabalhando para o fortalecimento e o fomento da relação bilateral entre Índia e Brasil. O nosso balanço é extremamente positivo. Para efeitos de comparação, quando a Câmara foi constituída e começou a atuar, em novembro de 2003, as trocas comerciais entre Índia e Brasil giravam em torno de 300 milhões de dólares, ou seja, um valor muito pequeno para trocas comerciais entre duas importantes nações, como Índia e Brasil.
Com a atuação da Câmara de Comércio Índia Brasil – através da promoção de diversas delegações, missões empresariais e oficiais de brasileiros à Índia, recepção de inúmeras delegações e viagens de empresas indianas ao Brasil, realização de congressos, seminários, fóruns e vários outros eventos e iniciativas que fazem parte do escopo de atuação da CCIB – conseguimos celebrar diversos cases de sucesso entre empresas indianas e brasileiras, muitas joint ventures, investimentos diretos, parcerias, trocas de melhores práticas, culminando assim em uma maior troca comercial.
Já atingimos neste último ano fiscal de 2021, a marca superior a 11 bilhões de dólares em trocas comerciais, ou seja, praticamente dobramos as trocas comerciais a cada ano de atuação da CCIB. Porém, fazemos questão de destacar que ainda estamos na ponta do iceberg e que existe um potencial muito maior na relação Índia-Brasil, e que a Câmara de Comércio Índia Brasil não medirá esforços para continuar este pleno crescimento da relação. E uma de nossas principais estratégias é continuar promovendo a Índia no Brasil e o Brasil na Índia, colocando empresários e executivos indianos e brasileiros sempre em contato, da melhor forma, para viabilizar bons negócios, reduzindo assim o desconhecimento mútuo entre as duas nações e, principalmente, trabalhar na diversificação das pautas de importação e exportação. Temos certeza de que ainda teremos muitas boas notícias para anunciar na relação bilateral Índia-Brasil nos próximos anos de atuação.
Vale destacar um dos programas do governo que foi muito bem sucedido, o Make in India, desenhado para que a Índia se torne também um hub industrial, e não apenas um hub de serviços, e com isso, vários investimentos de extrema relevância de indústrias dos mais diversos setores foram realizados na Índia nos últimos anos, impulsionando assim o seu crescimento. Além disso, a Índia tem investido muito na melhoria de sua infraestrutura, como em sua malha rodoviária, malha ferroviária, renovação de portos e aeroportos. Isso com certeza tem auxiliado a impulsionar o crescimento indiano, além de o país ter passado recentemente por uma importante reforma tributária, com a implementação do GST, facilitando muito o crescimento das empresas locais, e principalmente, favorecendo uma maior atração de investimentos de empresas estrangeiras no país.
Dessa forma, percebe-se que de fato, a Índia vem trabalhando para ter um crescimento muito sustentável, inclusive também com grandes investimentos em energias alternativas e energias renováveis, renovando e alterando sua matriz energética. Lembro que a Índia é uma das maiores democracias do mundo, com uma boa estabilidade política e preparada para o comércio internacional, inclusive a maioria da população fala inglês, o que auxilia muito o país em suas tratativas comerciais.
Qual foi a última missão empresarial promovida pela CCIB e quais foram os resultados? Quando será feita a próxima missão e para onde?
Leonardo Ananda – Nossa última missão aconteceu agora em março, e ficamos muito satisfeitos com mais essa missão empresarial promovida pela Câmara de Comércio Índia Brasil, após dois anos de pandemia, o que inviabilizou missões com grandes delegações. A última missão foi composta por três delegações diferentes: a 1ª delegação da Missão Oficial do Governo de Minas Gerais para a Índia, com presença do vice-governador Paulo Brant e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Passalio, além do presidente da Investminas, ou seja, a alta cúpula do governo de Minas Gerais; e foi acompanhada por uma delegação empresarial, ou seja, relevantes empresas de Minas Gerais que tem grande potencial de realizar negócios com a Índia, e essa missão foi muito bem sucedida e teve o foco de atração de investimentos indianos para o estado de Minas Gerais.
A outra delegação, que também compôs nas mesmas datas nossa última missão à Índia, foi uma delegação do governo federal, liderada pelo secretário de Assuntos Estratégicos do governo federal, Almirante Flávio Rocha, acompanhado por seus assessores, com foco de retomar as tratativas que foram iniciadas pelo presidente Jair Bolsonaro em sua missão oficial em 2020, a qual a Câmara também participou, levando uma delegação empresarial à Índia.
Ficamos muito satisfeitos com o sucesso dessa missão e as tratativas desenvolvidas pelas três delegações, e com certeza, será determinante para um maior fortalecimento da relação Índia-Brasil. A nossa próxima missão deve acontecer ainda no primeiro semestre desse ano, com foco no setor farmacêutico, e já temos também uma nova missão agendada para novembro deste ano.
A CCIB e a Fundação Getúlio Vargas fizeram uma recente parceria. Em que ela consiste e quais os resultados se espera dessa parceria?
Leonardo Ananda – Exato, temos grande orgulho dessa parceria que estamos iniciando com a Fundação Getúlio Vargas. Essa parceria possui diversas frentes, mas principalmente o fomento do intercâmbio acadêmico entre Índia e Brasil. Esse intercâmbio acadêmico ainda é muito incipiente, e a FGV tem saído na frente através de parcerias com escolas de negócios na Índia, e principalmente, com a promoção de cursos sobre a cultura indiana, sobre a cultura de negócios da Índia, sobre o potencial da relação Índia-Brasil, promovendo inclusive cursos de imersão à Índia.
A Câmara tem a satisfação de dar o devido suporte a essas iniciativas da Fundação Getúlio Vargas, assim como também recentemente fomos parceiros na produção de uma edição da GV Executivo Especial Índia, onde foi possível, em parceria com os professores da FGV, desenvolver artigos sobre a relação Índia-Brasil nas mais diversas áreas. Teremos boas novidades ainda nesta parceria entre a Câmara de Comércio Índia Brasil e a Fundação Getúlio Vargas, mas sempre com foco no fortalecimento da amizade e da relação entre essas duas nações.
Segundo declarações do presidente da Índia, Ram Nath Kovind, mesmo diante das adversidades com a pandemia da Covid-19, a economia do país está projetada para crescer muito este ano, devido principalmente à melhoria nos setores de agricultura e manufatura. O sr. poderia comentar essa declaração?
Leonardo Ananda – Sem dúvida, para nós que sempre acompanhamos o crescimento da Índia, fica fácil perceber que a Índia vem se preparando ao longo dos últimos anos para ter um crescimento sustentável. Os números de crescimento do PIB indiano são números realmente impressionantes. Antes da pandemia, a Índia já era a nação que mais crescia no mundo e, agora pelas projeções que foram recentemente realizadas, a Índia volta a ser a nação que mais cresce no mundo já neste ano de 2022, e isso muito em virtude de alguns programas de governo que foram implementados naquele país nos últimos anos.
Vale destacar um dos programas do governo que foi muito bem sucedido, o Make in India, desenhado para que a Índia se torne também um hub industrial, e não apenas um hub de serviços, e com isso, vários investimentos de extrema relevância de indústrias dos mais diversos setores foram realizados na Índia nos últimos anos, impulsionando assim o seu crescimento. Além disso, a Índia tem investido muito na melhoria de sua infraestrutura, como em sua malha rodoviária, malha ferroviária, renovação de portos e aeroportos, e isso com certeza tem auxiliado a impulsionar o crescimento indiano; e passou recentemente por uma importante reforma tributária, com a implementação do GST, facilitando muito o crescimento das empresas locais, e principalmente, favorecendo uma maior atração de investimentos de empresas estrangeiras no país.
Dessa forma, percebe-se que de fato, a Índia vem trabalhando para ter um crescimento muito sustentável, inclusive também com grandes investimentos em energias alternativas e energias renováveis, renovando e alterando sua matriz energética, além de ser válido destacar que a Índia é uma das maiores democracias do mundo, com uma boa estabilidade política e preparada para o comércio internacional, inclusive sendo um país com a maioria da população que fala inglês, o que auxilia muito o país em suas tratativas comerciais.
A Índia tomou várias iniciativas para garantir que seu crescimento nos próximos anos seja verde, limpo, sustentável e confiável. Quais são essas iniciativas principais?
Leonardo Ananda – Sim, como mencionei na resposta anterior, esse é um dos principais pontos de preocupação para que a Índia mantenha esse crescimento sustentável. Diversas políticas públicas estão sendo implementadas de incentivo à investimentos nessa área de sustentabilidade, principalmente voltados para energias alternativas e energias renováveis. A Índia tem se destacado como sendo um dos países em que pode ser observado um maior número de investimentos em energia solar e energia eólica, para citar alguns exemplos.
Além disso, o país também aprovou recentemente leis que incentivam o maior uso de biocombustível, principalmente o uso do etanol, inclusive através de uma parceria super estratégica com o Brasil – país referência na produção de etanol, assim como a Índia é um dos maiores produtores de açúcar do mundo. Ou seja, a Índia possui plantações já consolidadas de cana de açúcar, o que facilita o processo de se ter também uma boa produção de etanol, além de estar havendo uma transferência de tecnologia de empresas brasileiras para empresas indianas, o que viabiliza maior capacidade de produção de etanol em solo indiano, e inclusive, um aumento do percentual de etanol que pode ser misturado a gasolina e utilizado como combustível.
São várias iniciativas como essa, que tem acontecido na Índia nos últimos anos, sempre pensando na manutenção de seu crescimento sustentável e também na solução de um dos problemas mais graves que os grandes centros urbanos indianos vêm enfrentando nos últimos anos, a poluição.
A Índia tem registrado grande número de startups. Como tem sido esse progresso e em quais áreas são mais preponderantes?
Leonardo Ananda – Primeiro vale ressaltar que a Índia é referência em tecnologia de informação e inovação no mundo. O Vale do Silício Indiano é principalmente as cidades de Bangalore e Hyderabad, que são referências mundiais e sede das principais empresas de tecnologia do mundo. Tanto empresas indianas quanto empresas internacionais possuem centros de inovações, laboratórios, centros de estudos e de desenvolvimento nestas cidades. Dessa forma, a Índia sempre gerou um ecossistema favorável para a inovação e para a criação de novas soluções para os problemas que o país e o mundo vêm enfrentando.
Dessa forma, a Índia é uma das maiores formadoras de startups do mundo, e inclusive com várias dessas startups se tornando unicórnios em tempo recorde, nas mais diversas áreas de atuação e nos mais diversos setores. Somente nos primeiros quatro meses de 2021, o país conseguiu nove novos unicórnios, e até junho, 16 passaram por esse processo, fazendo com que o número de startups na Índia atingisse a marca de 50 unicórnios no país. As fintechs, startups que trabalham para otimizar o processo tradicional dos serviços financeiros, representam a maior segmentação dos unicórnios indianos, sendo que até abril do mesmo ano, mais de 19% dos unicórnios indianos correspondiam à fintechs.
Isso ocorre muito em virtude de uma trajetória muito favorável para o fomento de empresas da área de tecnologia, visto que a Índia sempre se preocupou em fazer com que essas empresas tivessem condição, cenário e ecossistema para o seu crescimento, inclusive com a implementação de políticas públicas, como desoneração de folha de pagamento para funcionários de empresas de tecnologia, redução da cobrança de tributos para essas empresas, incentivo a exportação de serviços, dentre várias outras políticas que foram implementadas nos últimos anos. O resultado é que grandes empresas indianas se tornaram referência no mundo, como TCS, Infosys, HCL, Wipro, KPIT, dentre tantas outras que hoje são referência no desenvolvimento de novas tecnologias, e na gestão de tecnologias já existentes.
Como estão as relações comerciais entre o Brasil e a Índia, e em quais segmentos elas devem crescer?
Leonardo Ananda – As relações comerciais entre Brasil e Índia estão vivendo uma retomada de crescimento após dois anos de pandemia, apesar que vale ressaltar que mesmo em anos de pandemia as trocas comerciais entre os dois países cresceram não como estava previsto anteriormente, em virtude do momento pandêmico, mas mesmo assim mantiveram crescimento. Atingimos o valor recorde das trocas comerciais agora em 2021, superando 11 bilhões de dólares e temos uma projeção de atingir 15 bilhões de dólares já neste ano de 2022.
A Câmara de Comércio Índia Brasil vem trabalhando na diversificação dessa pauta e na geração de parcerias, joint ventures e na atração de investimentos indianos para o Brasil e brasileiros para a Índia, pois acreditamos que dessa forma, teremos um crescimento sustentável da relação bilateral. As projeções e as perspectivas são as melhores possíveis para os próximos anos, e assim, acreditamos que em pouco tempo, Índia e Brasil serão importantes parceiros comerciais. Neste último ano, a Índia já se tornou o 5° maior parceiro comercial do Brasil, e acreditamos que em pouco tempo, o Brasil também será um dos mais importantes parceiros comerciais da Índia, e as trocas comerciais entre esses dois países irão ultrapassar nos próximos cinco anos, 50 bilhões de dólares.
Perfil de Leonardo Ananda – Diplomata, empresário e empreendedor, Leonardo Ananda tem 41 anos, é casado e pai de Ravi, de quatro anos. Apaixonado pela Índia e por negócios internacionais, estudou Relações Internacionais na PUC-MG e Direito na UFMG, com especialização em Direito Internacional e em Política e Estratégia. Em 2017, após cumprir um importante papel para o desenvolvimento da relação cultural e comercial entre Brasil e Índia por meio da Câmara de Comércio Índia Brasil, fundada por ele e seu avô em 2003, Leonardo Ananda foi incumbido de expandir os valores e costumes indianos no estado do Rio de Janeiro, quando foi nomeado Cônsul Geral Honorário da Índia no Rio de Janeiro.
Atualmente, é presidente da Câmara de Comércio Índia Brasil e possui anos de experiência na promoção da Índia no Brasil nos âmbitos empresarial, institucional e cultural, com mais de 40 viagens ao país asiático. Com forte atuação no desenvolvimento dessa relação bilateral, liderou e contribuiu para o sucesso de diversos projetos entre os dois países, incluindo a organização de mais de 30 delegações oficiais e empresariais de brasileiros na Índia. Entre essas, a Missão Oficial de Minas Gerais à Índia, que ocorreu em março de 2022, com três delegações: Governo de Minas Gerais, Governo Federal e empresarial; sendo as duas primeiras com foco principalmente na atração de investimentos indianos para o estado de Minas Gerais, e a terceira, com foco de retomar as tratativas iniciadas pelo presidente Jair Bolsonaro em sua Missão Oficial em 2020.
Além disso, exerce atividades de voluntariado e trabalho social como diretor social da Associação Amigos da Índia e como membro do conselho fundador do Ramakrishna Vedanta Center, em Belo Horizonte/MG. Ele também é membro do Conselho Consultivo Open Mind Brasil, projeto que reúne diretores e presidentes das maiores empresas do país com o objetivo de formar uma comunidade colaborativa entre os tomadores de decisão da cadeia produtiva brasileira.