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Dois mil e vinte e dois terá sua cota de grandes notícias na área da política externa. Algumas delas sem dúvida irão surpreender. Mas algumas já podem ser antecipadas, conforme prevê o Council of Foreign Relations, um think thank dos Estados Unidos.
Covid-19
Em diferentes momentos deste ano pareceu que a pandemia de Covid-19 estava terminando . Os cientistas produziram vacinas em ritmo recorde, mas o comportamento das pessoas e as variantes do vírus desafiavam esse otimismo. Em alguns países com amplo estoque de vacinas, muitas pessoas recusaram a vacinação.
Ao mesmo tempo, muitos países não conseguiram vacinas suficientes para seus cidadãos. Estima-se que apenas 20 por cento das 2,74 bilhões das doses de vacinas prometidas para uso global foram doadas. Sem dúvida, foi uma resposta internacional desconexa ao desafio logístico de vacinar bilhões de pessoas.
Caso não haja uma grande mudança, a Organização Mundial de Saúde (OMS) provavelmente não atingirá sua meta de vacinar 70% da população mundial até setembro de 2022. Os países de baixa renda dificilmente chegarão lá. Chegamos ao final de 2021 com menos de 5% das pessoas que vivem em países pobres já vacinadas.
A variante ômicron surgiu nos últimos meses do ano e rapidamente se espalhou pelo mundo. As pesquisas iniciais mostram que será mais transmissível que a variante Delta e menos provável de ser combatida pela imunidade natural conferida por aqueles que já contraíram Covid-19. Portanto, um novo surto de hospitalizações e mortes tornou-se inevitável. Uma boa notícia é a chegada dos tratamentos antivirais que reduzem substancialmente o risco de hospitalização ou morte. Mesmo assim, a pandemia global e suas muitas consequências devem influenciar as relações internacionais ao longo de todo o ano que vem.
Tensão entre EUA e China
Quer o termo “ nova guerra fria ” seja ou não a melhor descrição da relacionamento EUA e China, as relações entre os dois principais países do mundo lembram muito o cenário do mundo nos anos 1960-1980.
Xi Jinping deixou claro que vê a China como a superpotência em ascensão que deve remodelar a ordem global. Joe Biden prometeu que os Estados Unidos “prevalecerão na competição estratégica com a China” e fez contra Pequim a “prioridade nº 1” de sua política externa.
Nesse sentido, Biden tem atuado para se aproximar de países com o mesmo pensamento. Já enviou navios da marinha americana para o Estreito de Taiwan, condenou a repressão da liberdade pela China em Hong Kong e os abusos dos direitos humanos de uigures em Xinjiang, além de anunciar um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que ocorrerão am Pequim em fevereiro.
Nos último trimestre de 2021, Biden convocou a primeira Cúpula de Líderes do Quad, instigou a OTAN e outros aliados a fazerem declarações duras sobre a China e firmou o acordo AUKUS, com Austrália, Reino Unido e Austrália. O ponto crítico no próximo ano pode ser Taiwan, pois os Estados Unidos dizem estar preocupados com a possibilidade da China invadir a ilha.
Após a conferência entre Biden e Xi em novembro para discutir suas diferenças não houve acordos nem declarações conjuntas. Ambos os lados têm feito uma série de acusações e mantém claro suas diferenças de opinião, o que torna as relações mais difíceis.
Rússia X Ucrânia
As crescentes tensões entre a Rússia e a Ucrânia nos últimos meses de 2021 têm raízes históricas. O presidente russo, Vladimir Putin, considera o colapso da União Soviética a “maior catástrofe geopolítica do século”.
Sua política externa dá sinais constantes que busca reverter isso. Um dos passos importantes nessa direção ocorreu em 2014, quando reagiu à Revolução Laranja que removeu do poder o presidente ucraniano pró-Rússia, tomando a região da Crimeia e encorajando separatistas no leste da Ucrânia.
Putin voltou ao assunto ao dizer em meados de 2021 que russos e ucranianos são “um só povo” e que “a verdadeira soberania da Ucrânia só é possível em parceria com a Rússia”. Como dois estudiosos colocaram, a motivação é mais pragmática, pois “vê a Ucrânia como uma ponte do Ocidente que desafia seu governo”.
A OTAN está aberta à possibilidade de adesão da Ucrânia, algo que seu atual presidente, Volodymyr Zelensky , busca concretizar. Isso fez Putin avisar que a OTAN cruzaria uma “linha vermelha” se incluísse a Ucrânia e pediu “garantias legais ”de que não se expandirá mais a leste.
Sua resposta foi aumentar as forças militares da Rússia nas fronteiras da Ucrânia. A diplomacia pode fornecer uma saída para evitar uma guerra que nenhum dos lados provavelmente deseja . Mas a história está repleta de exemplos de oportunidade perdidas antes que o pior aconteça.
Avanços do Programa Nuclear do Irã
Há quase uma década o Irã está prestes a se tornar o mais nova potência nuclear do mundo. Joe Biden assumiu a presidência na esperança de evitar o confronto com essa questão persuadindo Teerã a voltar a cumprir o acordo nuclear de 2015 .
Em 2021 foram sete rodadas de negociações, mas sem avanços concretos. Em uma resposta clara, o Irã começou a enriquecer urânio a 60%, um nível desnecessário para qualquer propósito civil. No final do ano, o Irã deixou claro que muito em breve será capaz de produzir urânio suficiente para armas nucleares.
Muitos especialistas argumentam que o Irã nuclear poderia significar uma ameaça à segurança no Oriente Médio. O governo dos Estados Unidos espera que a China e a Rússia pressionem Teerã a recuar. Essa pressão pode não se concretizar. Contudo, Joe Biden não parece estar mais ansioso para usar a força militar contra o Irã do que seus antecessores.
* Traduzido e adaptado do texto publicado por Council of Foreign Relations.