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O Canadá está entre os maiores importadores mundiais e está aberto para um leque diverso de produtos brasileiros. Cerca de 100 empresas canadenses estão instaladas hoje no Brasil, atuando em diferentes localidades em setores como mineração, equipamentos e serviços.
“O Brasil pode se beneficiar de soluções canadenses, em especial em tecnologias aplicadas a setores como saúde, educação, energia e saneamento, entre outras”, comenta o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), Ronaldo D. B. Ramos, em entrevista exclusiva ao Diplomacia Business. Segundo ele, há presença canadense também nos ramos dos transportes, saúde, educação, alimentação, infraestrutura (saneamento, energia etc) e tecnologia, entre outros. “Os fundos de investimentos
“Temos atuado próximos aos setores de infraestrutura e investimentos, por exemplo, promovendo a troca de experiências e compartilhando oportunidades entre os agentes dos dois países”, explica Ronaldo Ramos. Segundo ele, a forte presença multisetorial nos dois países ao longo de cinco décadas permitiu à CCBC construir uma sólida rede de relacionamentos e um profundo conhecimento dos dois mercados.
“Aliamos a isso a capacidade de desenvolver estudos de inteligência comercial do mais alto nível, utilizando ferramentas tecnológicas e de pesquisa acuradas. Assim, podemos apoiar os negócios tanto de empresas canadenses interessadas no Brasil quanto de brasileiras interessadas no Canadá”, afirma. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – A CCBC existe há 45 anos. Que balanço o sr. faz desses anos da Câmara?
Ronaldo D. B. Ramos, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) – A Câmara de Comércio Brasil-Canadá é uma instituição sólida, que desde 1973 promove a aproximação entre pessoas, empresas e organismos públicos e privados dos dois países. Isso se traduz em presença efetiva no campo dos negócios, na educação, saúde, cultura e em iniciativas de parceria e colaboração bilateral. Mas acredito que um dos grandes diferenciais da CCBC é que, ao longo de sua história, ela sempre conseguiu se manter atual, acompanhando as mudanças na sociedade e nos negócios. Esse é um processo contínuo, uma filosofia que orienta nossos trabalhos desde a fundação.
Um exemplo desse olhar para o futuro foi a criação, ainda nos anos de 1970, do primeiro Centro de Arbitragem e Mediação do País, o CAM-CCBC, hoje líder absoluto de mercado e uma referência internacional no seu setor. O Centro foi pioneiro ao trazer ao Brasil o uso de métodos adequados de solução de conflitos duas décadas antes da regulamentação no território nacional. E esse é apenas um entre os muitos exemplos que eu poderia dar das iniciativas da Câmara. A junção da solidez institucional com o olhar inovador que nos orienta permitiu à CCBC se tornar um elo de ligação relevante para o desenvolvimento das relações entre Brasil e Canadá nos últimos 50 anos.
Quais são os eventos que a Câmara realizará este ano?
Ronaldo D. B. Ramos – A CCBC possui uma agenda ativa em diversas áreas da relação bilateral, tanto com projetos próprios quanto em projetos em parceria com outros organismos. Ao longo do ano organizamos várias missões comerciais. Neste semestre, por exemplo, tivemos missões nos setores de alimentos e bebidas, tecnologia – em especial inteligência artificial, e mineração. Para o segundo semestre, gostaria de destacar nossa missão no setor da saúde, que levará hospitais brasileiros para conhecerem a inovação canadense nessa área, além de nossa terceira missão presencial a um dos maiores eventos globais de inovação aplicada aos negócios, o C2 Montreal.
Nossos eventos de promoção de negócios e das relações bilaterais incluem também dois grandes festivais anuais (o Canada Day Festival e o Brazilian Week Festival), workshops e encontros periódicos temáticos liderados por nossas comissões, roadshows regionais e rodadas de negócios nos dois países.
Quantas empresas canadenses estão instaladas no Brasil, onde se encontram e em quais principais setores econômicos trabalham?
Ronaldo D. B. Ramos – Hoje são cerca de 100 empresas canadenses instaladas no Brasil, atuando em diferentes localidades e nos mais diversos setores. Somente no ramo da mineração, historicamente falando um dos mais tradicionais nas relações bilaterais, temos mais de 60 empresas distribuídas pelos segmentos de exploração, equipamentos e serviços. Mas, há presença canadense também nos ramos dos transportes, saúde, educação, alimentação, infraestrutura (saneamento, energia etc) e tecnologia, entre outros. Não podemos esquecer também dos fundos de investimentos canadenses, presentes em múltiplas obras e setores.
Como estão as exportações do Brasil para o Canadá em valores e produtos?
Ronaldo D. B. Ramos – Após atingir em 2021 o nível recorde histórico de US$ (FOB) 7,478 bilhões na corrente de comércio, ou seja, a soma entre exportações e importações, Brasil e Canadá já dão sinais de que o processo de expansão dos negócios entre os dois países deverá continuar em 2022. No primeiro trimestre de 2022, a corrente de comércio entre os dois países saltou expressivos 36,58%, de US$ (FOB) 1,39 bilhão para US$ (FOB) 1,9 bilhão. O saldo comercial foi positivo para o Brasil, em US$ 385,6 milhões.
É a primeira vez que a corrente comercial entre Brasil e Canadá chega a esse patamar nos últimos 10 anos. Em 2012, o valor total era de apenas US$ (FOB) 1,29 bilhão, caindo para seu menor nível em 2014, quando totalizou apenas US$ 976,8 milhões. De lá para cá, porém, os resultados foram se tornando mais expressivos – apontando para uma maior complementaridade das duas economias nos anos seguintes.
Em quais setores o comércio do Brasil e Canadá pode se ampliar?
Ronaldo D. B. Ramos – Enxergamos grandes possibilidades de expansão nos negócios bilaterais tanto no comércio quanto em serviços. O Canadá está entre os maiores importadores mundiais e tem abertura para um leque diverso de produtos brasileiros. Por outro lado, o Brasil pode se beneficiar de soluções canadenses, em especial em tecnologias aplicadas a setores como saúde, educação, energia e saneamento, entre outras. Isso sem falar no campo dos investimentos. Temos atuado próximos aos setores de infraestrutura e investimentos, por exemplo, promovendo a troca de experiências e compartilhando oportunidades entre os agentes dos dois países.
Como a CCBC impulsiona os negócios entre canadenses e brasileiros?
Ronaldo D. B. Ramos – A forte presença multisetorial nos dois países ao longo de cinco décadas permitiu à CCBC construir uma sólida rede de relacionamentos e um profundo conhecimento dos dois mercados. Aliamos a isso a capacidade de desenvolver estudos de inteligência comercial do mais alto nível, utilizando ferramentas tecnológicas e de pesquisa acuradas. Assim, podemos apoiar os negócios tanto de empresas canadenses interessadas no Brasil quanto de brasileiras interessadas no Canadá.
Hoje, posso dizer com segurança, que a Câmara está apta a apoiar projetos fim a fim, desde a pesquisa inicial de mercado, passando pelas etapas de concepção e adaptação de produtos e serviços, busca de parceiros e/ou compradores, promoção de encontros de matchmaking, orientações práticas sobre as especificidades de cada país, até a efetivação concreta do negócio. Tudo de forma exclusiva e personalizada para cada necessidade. Além disso, a CCBC possui uma postura ativa, sempre buscando oportunidades de mercado e promovendo o encontro entre as partes, por meio de eventos, rodadas de negócios e missões empresariais.
Como a CCBC tem trabalhado questões como sustentabilidade e preservação do meio ambiente?
Ronaldo D. B. Ramos – Sustentabilidade e preocupação com a preservação do meio ambiente não podem ser apenas parte do discurso das empresas, muito menos vistos como diferenciais. Enxergamos que são elementos básicos de sobrevivência no mercado. Tanto internamente, na atenção com as nossas práticas de negócio, quanto externamente, no apoio e na promoção dessas discussões entre nossos associados, empregamos uma dedicação constante a esses temas.
No ambiente interno, possuímos um trabalho voltado à implementação das melhores práticas de governança corporativa, que inclui o debate sobre sustentabilidade e meio ambiente e nossa responsabilidade perante a sociedade. Em conjunto com nossos associados e parceiros, também mantemos duas comissões que promovem essa discussão: a Comissão de Meio Ambiente Natural e Urbano e a Comissão de Compliance e Integridade.
Temos ainda uma terceira via – não menos importante – nesse trabalho. Buscamos levar a público as experiências bem-sucedidas de empresas e organismos públicos e privados do Canadá e do Brasil, apresentando-os mutuamente aos agentes relacionados. Dessa forma acreditamos que estamos colaborando para o desenvolvimento de ambos nesse sentido.
Quais são as prioridades da CCBC para este ano?
Ronaldo D. B. Ramos – Uma das principais diretrizes básicas da CCBC é o fomento ao desenvolvimento econômico por meio do estímulo a negócios, parcerias e trabalhos de cooperação entre Brasil e Canadá. É uma preocupação contínua que nos norteia, mas acreditamos que mais do que nunca ela está no topo da nossa lista de prioridades, especialmente este ano, em que tentamos nos recuperar de uma pandemia que assolou o mundo nos últimos dois anos, gerou crises econômicas de gravíssimas proporções em vários países e ainda enfrentamos as incertezas de uma guerra com possíveis impactos para todos.
Então concentramos os máximos esforços para que nosso trabalho possa contribuir para a recuperação econômica, geração de empregos, renda e melhora na qualidade de vida das pessoas. Temos atuado intensamente para reativar os canais bilaterais que possam ter sido afetados pela pandemia e para compartilhar inovações e boas práticas que tenham sido desenvolvidas com sucesso.
Perfil – Ronaldo D. B. Ramos é presidente da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) desde abril de 2021. Fundador e mentor do CEOlab, é engenheiro de produção formado pela POLI-USP, especializado em liderança, gestão de equipes multidisciplinares e multiculturais, e estruturações societárias complexas. É conselheiro de administração certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e possui pós-graduações no Brasil e no exterior. Em sua trajetória, atuou na indústria de alumínio e mineração no Brasil e no Canadá, incluindo experiência em operações, fusões, aquisições e spin-offs. Atualmente é conselheiro de empresas como a Santa Helena S.A. e Terra Nuts S.A. Atua, ainda, como professor convidado da Fundação Dom Cabral.