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Hoje o Brasil é um dos principais parceiros estratégicos da Espanha fora da União Europeia. A relação entre os dois países baseia-se na forte presença de investimento de empresas espanholas no Brasil e nas significativas oportunidades de investimento que existem. Em 2019, o Brasil foi o quarto destino dos investimentos espanhóis (8,5% do total) com 511,3 milhões de euros. Em 2020, em razão da crise econômica causada pela pandemia, os valores caíram para 9,2 milhões de euros.
As informações são do diretor executivo da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, Alejandro Gómez Gil. Em entrevista exclusiva ao Diplomacia Business, Alejandro fornece dados sobre a atuação das empresas espanholas no Brasil e explica como funciona a Câmara, entre outros assuntos. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – Com a pandemia da Covid-19 e o distanciamento social, a Câmara Espanhola optou por realizar bate-papos e eventos online. Como foi essa mudança? Baseado nessa experiência, essa forma de comunicação permanecerá?
Alejandro Gómez Gil – Levamos o desafio da pandemia como uma oportunidade para evoluir nossa forma de comunicação com os associados. Já estávamos em uma fase de transição para o digital, que foi acelerada por causa do distanciamento social. Passamos a fazer todos os nossos eventos com transmissão online, o que foi um sucesso, já que alcançamos representantes de empresas de todos os lugares do Brasil, ultrapassando os limites da nossa sede em São Paulo. Acreditamos que a transmissão online é um caminho sem volta, por isso, vamos investir em eventos híbridos e incorporar novas tecnologias.
“Amazônia in loco”, de 9 a 11 deste mês, em Belém – PA, foi um grande acontecimento. Que avaliação o sr. faz desse encontro?
Alejandro Gómez Gil – O evento Amazônia in Loco, que organizamos junto com Eurocâmaras e FinnCham, foi considerado um sucesso. Ao longo de três dias tivemos uma programação de altíssimo nível, com participação de empresários, representantes governamentais e cientistas, discutindo maneiras de levar desenvolvimento sustentável para a Região Amazônica. Conseguimos, por meio dos painéis, apresentar a pluralidade de atividades econômicas possíveis no Norte do país para o público europeu. Também pudemos, ao longo da programação, reforçar a urgência da ratificação do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, que teve 20 anos de discussão entre os dois blocos. Simultaneamente, tivemos o Salão Euro-Amazônico, com exposição dos patrocinadores, e uma rodada de negócios, que aproximou empresas brasileiras e estrangeiras.
Os Gabinetes Econômicos e Comerciais das Missões Diplomáticas da Espanha estão ligados à Câmara? São 98 escritórios, onde estão e como funcionam?
Alejandro Gómez Gil – Na realidade, podemos dizer que é o oposto. Nós, como Câmara de Comércio, temos uma conexão com o Departamento Econômico-Comercial da embaixada em Brasília. Somos a Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, o que significa que fazemos parte de uma rede de Câmaras Comerciais ligadas ao governo espanhol, por meio de órgãos como o Ministério da Indústria e a Secretaria de Estado de Comércio.
Atuamos em parceria com as outras câmaras espanholas em todo o mundo, apoiando empresas a gerarem negócios, visando o desenvolvimento econômico não só da Espanha, mas também dos países em que cada uma de nossas Câmaras estão sediadas.
No Brasil, trabalhamos em parceria com o ICEX (España Exportación e Inversiones) e o Departamento Econômico-Comercial da embaixada que possui dois escritórios, em Brasília e São Paulo. O embaixador é nosso presidente honorário, neste momento na pessoa do Excelentíssimo Fernando García Casas.
A Câmara Espanhola funciona há 65 anos. Como foi esse início e quais suas maiores conquistas? Tem quantos funcionários e em quais setores?
Alejandro Gómez Gil – A Câmara Espanhola surgiu há 66 anos como uma entidade que reunia, principalmente, empresas de importação e exportação de produtos espanhóis como vinhos e embutidos. O perfil de nossos associados ampliou-se para outras áreas nos anos 1990, quando a economia brasileira se abriu para o exterior, inclusive com o incentivo para investimentos e parcerias público privadas na concessão de infraestrutura, setor bancário e tecnologia. Acreditamos que nossa maior conquista nesses anos é a capacidade de acolher nossos associados, entendendo suas expectativas e atendendo suas necessidades. Somos uma equipe enxuta de 10 pessoas, mas altamente qualificada, com profissionais nos departamentos de Comunicação & Marketing; Comercial, Estratégia & Relacionamento com Associado; Eventos; Comitês; e Administrativo e Financeiro.
Como a Câmara se sustenta financeiramente e quais as principais vantagens para os associados em fazer parte da instituição?
Alejandro Gómez Gil – A Câmara Espanhola, como entidade empresarial, tem sua receita proveniente das cotas associativas, assim como outras contribuições de seus sócios, por exemplo, patrocínio de eventos. Oferecemos uma série de benefícios para nossos associados, sempre com a intenção de fomentar a geração de negócios, aproximação institucional com a Espanha e o Brasil, e conteúdos setoriais relevantes. Entre eles, destacamos: participação em eventos, discussões em comitês setoriais, intermediação de contatos com departamentos de interesse dentro das empresas, divulgação de marca e descontos em produtos e serviços de parceiros.
Quantas empresas espanholas hoje estão com investimentos no Brasil? Em quais regiões ou cidades eles se concentram? Em quais ramos?
Alejandro Gómez Gil – Hoje o Brasil é um dos principais parceiros estratégicos da Espanha fora da União Europeia. A relação entre os dois países baseia-se na forte presença de investimento de empresas espanholas no Brasil e nas significativas oportunidades de investimento que existem. Em 2019, o Brasil foi o quarto destino dos investimentos espanhóis (8,5% do total) com 511,3 milhões de euros. Em 2020, em razão da crise econômica causada pela pandemia, os valores caíram para 9,2 milhões de euros.
Os principais setores de atuação de empresas espanholas no Brasil são: telecomunicações (30,90%); serviços financeiros (exceto seguros e fundos de pensão) (21,29%); fornecimento de eletricidade (8,14%); seguros e fundos de pensão (6,14%); armazenagem e atividades de apoio ao transporte (4,25%); atividades auxiliares aos serviços financeiros (3,82%).
No total, são cerca de mil empresas, com atuação em todas as regiões do país.
Como estão as relações das empresas espanholas com o Brasil? O que é preciso para ampliar mais e fortalecer essas parcerias?
Alejandro Gómez Gil – O Brasil é o segundo maior destino de investimentos espanhóis na América Latina, ficando atrás somente do México. Todos os anos, a Câmara Espanhola realiza uma Pesquisa de Clima de Negócios e Investimentos com nossos associados. Na edição 2021, tivemos respostas otimistas sobre intenção de investimentos: 37,5% das empresas que responderam à pesquisa estão otimistas com o ambiente de negócios no país.
A enquete também aponta uma estabilidade no número de companhias que planejam expandir seus negócios em 2021. Enquanto cerca de 34% têm a intenção de aumentar os investimentos em pelo menos 20% ainda neste ano, 53,57% pretendem manter o volume de negócios. Marketing, tecnologia e vendas estão entre as prioridades de investimento para 60% dos entrevistados. A mesma pesquisa aponta que as empresas espanholas indicam como dificuldades para atuar no mercado brasileiro: a situação política e econômica (66,67%); os marcos regulatórios (40,74%); e a necessidade de fortalecimento das agências reguladoras (24,81%).
Quais são os principais projetos da Câmara para 2022?
Alejandro Gómez Gil – Em 2022, vamos dar um passo ainda maior na nossa transição digital, o que irá colaborar com a extensão de nossas atividades para todas as regiões do Brasil. Há alguns meses temos estudado a tendência do metaverso, acompanhando o desenvolvimento dos gigantes da tecnologia, como o Facebook. Um dos nossos maiores projetos para o próximo ano está relacionado com esse tema, com o lançamento de um metaverso próprio da Câmara Espanhola, que abrigará área para associados divulgarem seus produtos ou serviços, espaço institucional, auditório para eventos virtuais e até sala virtual para networking. A plataforma será aberta a associados e convidados.
Perfil
Alejandro Gómez Gil, nascido em Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, 48 anos, Engenheiro Informático pela Universidade de Deusto, Bilbao, Espanha. Iniciou sua trajetória profissional no Brasil nos anos 2000. Atuou, principalmente, como country manager de empresas espanholas do setor de tecnologia. Em 2018, assumiu a direção executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, à época presidida por Sérgio Rial. Atualmente trabalha sobre a coordenação de Marcos Madureira, presidente desde 2019.