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O deputado federal Cláudio Cajado (PP/BA) é presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Azerbaijão. Idealizador do bloco, ele trabalha para estreitar os laços diplomáticos entre os dois países.
Advogado de formação e Presidente Nacional do Progressistas, o parlamentar está em seu sétimo mandato como deputado pela Bahia, ocupando uma das vice-presidências da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Cajado já visitou o Azerbaijão várias vezes e relata na entrevista ao Diplomacia Business, como está a relação bilateral.
Falou também sobre a prática da diplomacia parlamentar e sobre como o Brasil poderia se beneficiar de um fortalecimento nas relações comerciais, em especial na área da agricultura, uma vez que os principais produtos exportado são fertilizantes, algo essencial para o nosso agronegócio.
Deputado, como foi formado o Grupo Parlamentar Brasil-Azerbaijão?
Após a abertura da Embaixada da República do Azerbaijão no Brasil em 2012, tomamos a iniciativa de formar o grupo de amizade no Congresso e desde então sou o primeiro e único presidente deste grupo.
O Grupo tem a finalidade de incentivar as relações bilaterais entre os Poderes Legislativos dos dois países. Que avaliação o senhor faz da relação entre Brasil e Azerbaijão nos últimos anos?
Sempre desfrutamos de alto nível de relacionamento entre os dois países antes mesmo da Embaixada do Brasil ser aberta em Baku e da Embaixada do Azerbaijão ser aberta em Brasília. Como se sabe, o Azerbaijão é uma jovem democracia localizada na encruzilhada entre a Europa e a Ásia, tendo recuperado a sua independência em 1991, após o colapso da União Soviética.
Vale lembrar que, em 1993, o Brasil como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU apoiou a aprovação de três resoluções que reconheciam e confirmavam a integridade territorial e a soberania da República do Azerbaijão. Foi em uma época em que o Azerbaijão enfrentava uma invasão estrangeira e vivia tempos difíceis.
No contexto das relações entre os poderes legislativos dos dois países, devo afirmar que essas relações estão em níveis muito elevados. Eu pessoalmente fiz cinco visitas ao Azerbaijão e o ex-presidente do Congresso, Rodrigo Maia, juntamente com outros membros do Congresso, também visitou, várias vezes, este belo país.
Minha última visita foi em fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia, onde participei como observador internacional durante a eleição do Parlamento do Azerbaijão. Mesmo durante a pandemia, não interrompemos nossa cooperação com o Presidente do Grupo de amizade no Parlamento do Azerbaijão, o Deputado Mushviq Mammadli. Realizamos duas reuniões online onde discutimos formas de fortalecer a cooperação entre nossos órgãos legislativos.
No Azerbaijão, assim como no Brasil, a agricultura é uma atividade de destaque. Qual a principal semelhança e a principal diferença desse setor nos dois países?
Temos várias semelhanças e diferenças. O Brasil é um país com economia predominantemente voltada para a agricultura e somos um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo. Também possuímos tecnologias avançadas nesta área e temos uma grande experiência que podemos compartilhar com o Azerbaijão. Ao mesmo tempo, o Azerbaijão, com 86.000 Km² de território e uma economia que é baseada no petróleo e gás, conta com a presença de 9 das 11 zonas climáticas existentes no mundo, o que torna seu potencial agrícola muito diversificado.
Além disso, a produção agrária no Azerbaijão é orgânica, conforme regulamentado por lei, o que torna seu produto muito especial do ponto de vista da exportação. Devido à sua localização geográfica, o país desempenha um papel importante como ponto de trânsito entre a Europa e a Ásia e pode ser utilizado pelas empresas de logística que negociam com estes dois continentes. Levando em consideração a situação atual na Eurásia, pode ser uma boa alternativa para nossos traders.
Como está hoje a relação comercial entre o Brasil e o Azerbaijão? Quais as principais exportações/importações entre estes países?
O Brasil na América Latina e o Azerbaijão no Sul do Cáucaso são os maiores parceiros comerciais quando se trata da operação de exportação e importação dessas regiões. No ano passado, a exportação do Azerbaijão para o Brasil foi de cerca de 60 milhões de dólares e a maioria desses produtos foram fertilizantes, algo essencial para o nosso agronegócio.
Infelizmente, devido às diferentes metodologias de cálculo e registro de produtos de exportação e importação existentes em nossos países, as estatísticas demonstram muito pouco volume de exportação de produtos brasileiros para o Azerbaijão, enquanto as estatísticas do Azerbaijão mostram que anualmente o país asiático compra entre 150 a 200 milhões de dólares de nossos produtos, principalmente agrícolas. Além disso, há vários anos o Azerbaijão comprou vários aviões da Embraer. Então, podemos dizer que o Azerbaijão é o maior importador de produtos do Brasil em comparação dos seus vizinhos: Armênia e Geórgia.
Deputado, fale um pouco a respeito da Escola Municipal Azerbaijão do Rio de Janeiro. Qual é o principal foco desta instituição e qual sua importância para a relação a longo prazo entre o Brasil e o Azerbaijão?
Em 2016, a cidade do Rio de Janeiro e capital do Azerbaijão, Baku, se tornaram cidades-irmãs e naquela época o Rio decidiu nomear uma escola municipal em homenagem ao Azerbaijão. É muito importante ter esses exemplos de cooperação e sei que o Azerbaijão, através de sua Embaixada no Brasil, apoia constantemente esta escola através de diferentes iniciativas e atividades.
Acredito que tal cooperação pode ser benéfica e ajudar a aprofundar a relação entre países e nações. Afina, o Azerbaijão, assim como o Brasil, é uma sociedade muito multicultural. Eu e meus colegas do Congresso e do Senado temos muitas chances de testemunhar isso.