A embaixada da Áustria em Brasília está preparando um seminário inspirado nas ideias da imperatriz Dona Leopoldina, da Áustria, e um concerto com o maestro Claudio Cohen, regente da Orquestra Sinfônica Brasileira, que executará canções de Mahler, Strauss, Mozart e Bach. A fábrica de porcelana de Viena Augarten, fundada em 1718, planeja uma edição especial de peças de porcelana com temas da flora e fauna brasileira. No Museu de Ciências Naturais de Viena também haverá eventos. Tudo para celebrar o bicentenário de independência do Brasil.
As novidades são contadas, com exclusividade ao Diplomacia Business, pelo embaixador da Áustria no Brasil, Stefan Scholz. Na entrevista, o diplomata fala também sobre O papel da Dona Leopoldina da Áustria nos acontecimentos da independência do Brasil em 7 de setembro de 1822; e a respeito meio ambiente e turismo. Veja a entrevista:
Diplomacia Business – A Áustria comemora o bicentenário de independência do Brasil este ano. Como serão as comemorações?
Embaixador da Áustria, Stefan Scholz – A Áustria celebrará o bicentenário de independência com a maior exibição já feita sobre o Brasil, que acontecerá no Museu de Ciências Naturais de Viena, a partir do dia 6 de junho. Além disso, a fábrica de porcelana de Viena Augarten, fundada em 1718, como segunda do gênero, está planejando uma edição especial com temas da flora e fauna brasileira.
Mas você pode se perguntar, quais serão os planos austríacos para o Brasil? Atualmente, trabalho em um projeto de simpósio por ocasião do bicentenário do Brasil, intitulado: “Desenvolvimento positivo e social, conceitos políticos e ideias para o estado pós-colonial, o papel dos parceiros internacionais e a influência do Brasil sobre países terceiros”. O foco geral serão os currículos de história e materiais didáticos para as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio. O evento será inspirado na abordagem da Dona Leopoldina para a construção do Estado, promovendo um modelo de desenvolvimento inclusivo, científico e baseado em resultados.
O evento principal para as celebrações Áustria-Brasil será um concerto, previsto para acontecer no dia 22 de fevereiro, com o maestro aclamado mundialmente, Claudio Cohen, que conduz a Orquestra Sinfônica Brasileira tocando Mahler, Strauss, Mozart e Bach. O Claudio Cohen escolheu esses compositores austríacos para o concerto do Bicentenário em homenagem ao grande romancista e autor austríaco, Stefan Zweig, que faleceu no ano de 1942 em Teresépolis. Zweig hoje se tornou uma referência para intelectuais que fugiram dos horrores da tirania do século XX e encontram refúgio aqui no Brasil.
A imperatriz Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, primeira esposa do Imperador D. Pedro I, é bem conhecida no Brasil, inclusive em filmes e nos livros de história. Qual a importância de Leopoldina, na sua avaliação?
O papel da Dona Leopoldina da Áustria nos acontecimentos da independência do Brasil em 7 de setembro de 1822 não pode ser subestimado. Mais importante ainda é sua alta formação intelectual e sua formação socialmente consciente como princesa de Habsburgo, uma tradição que foi passada para sua neta, a Princesa Isabel, e que contribuiu para a abolição da escravatura. Os historiadores brasileiros descrevem dona Leopoldina como mãe, consorte e governante, o que rendeu à imperatriz a imagem de mãe de todos os brasileiros.
O Sr. esteve com parlamentares austríacos no Amazonas. O que mais lhe impressionou na região?
A visita do presidente do Comitê de Ciência do Conselho Nacional Austríaco permitiu reunir informações em primeira mão sobre as políticas ambientais do Brasil. O que mais me impressionou foi a visita ao Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE e a e os debates com a direção desse centro. Pude compreender muito melhor os desafios e riscos para os líderes políticos do estado do Amazonas equilibrarem o crescimento econômico inclusivo com as expectativas internacionais.
Conciliar crescimento comercial com sustentabilidade. Como os austríacos lidam com essas duas questões?
A Áustria, com baixa renda proveniente de recursos naturais, está se concentrando na indústria de tecnologia verde, que gerou vendas de 15 bilhões de euros em 2019 e empregou 51.470 pessoas. Entre os países europeus, a Áustria tem a maior parcela de energia elétrica proveniente de recursos renováveis. O crescimento médio anual das vendas é de cerca de 6% e a cota de exportação para todo o setor de tecnologia verde é de cerca de 71%. Além disso, nossa cobertura florestal aumentou nos últimos 15 anos, não por causa de uma política de reflorestamento, mas infelizmente porque um alto número de agricultores nas áreas montanhosas desistiu do trabalho duro.
A Áustria tem interesse em fortalecer as relações com o Brasil, especialmente nas áreas de ciência e tecnologia. Em 2019, foi firmado um Acordo de Cooperação Científica entre o Brasil e a Áustria, que tramita no Senado Federal. Na Áustria o Acordo está aprovado.
Qual a importância desse acordo?
Considerando a importância de relançar o crescimento econômico após a pandemia, promover a cooperação em pesquisa científica e tecnológica entre Brasil e Áustria faz parte de nossa estratégia. Por meio deste acordo de cooperação, Brasil e Áustria formarão um Comitê de Direção Conjunta responsável pela continuidade deste Acordo e pela elaboração da chamada de propostas.
O turismo internacional é um dos pilares da economia austríaca. Como está hoje esse setor na Áustria?
Como um dos destinos turísticos mais bem-sucedidos do mundo, o turismo austríaco foi bastante atingido pela pandemia – principalmente devido à alta proporção de cerca de 70% de hóspedes serem estrangeiros. O número de turistas caiu para cerca de 25 milhões e o de “mais de uma noite” para aproximadamente 98 milhões.
Nos anos anteriores à pandemia, ficávamos satisfeitos com o sucesso do turismo e números recordes. Ninguém esperava um colapso dessa dimensão. Um pequeno raio de esperança para o turismo em um momento tão difícil foi que “Férias na Áustria” ganhou importância, especialmente entre os hóspedes domésticos, e muitas pessoas puderam redescobrir as belezas de seu próprio país. No período de junho a outubro de 2021, houve 6,2% a mais de “dormidas” domésticas e, assim, um recorde para este período. Isso permitiu compensar, pelo menos parcialmente, a falta de hóspedes estrangeiros na região.
A Áustria é terra de valsas e de grandes músicos, como Schubert e Strauss. Por gentileza, fale-nos dessas influências e dos seus músicos austríacos preferidos.
A Áustria tem uma grande tradição cultural e musical conhecida mundialmente. Em particular, Viena é considerada a capital mundial da música clássica há séculos. Em nenhuma outra cidade do mundo viveram tantos compositores famosos, que escreveram música e criaram peças de música mundialmente famosas. Com três séculos, a lista de grandes compositores que produziram grande parte de sua obra na Áustria é impressionante, temos: Haydn, Gluck, Mozart, Schubert, Beethoven, Brahms, Bruckner, Johann Strauss, Mahler, Richard Strauss, Berg, Webern, Schoenberg, Lehar.
Minha orquestra austríaca favorita é a Filarmônica de Viena, seu concerto de Ano Novo realizado em Viena todos os anos no Musikverein é um dos concertos clássicos mais importantes da Europa. Eu solicitei uma inscrição em que o tempo de espera para ver o concerto é de até 10 anos. Além disso, também gosto de ouvir músicas eletrônicos como Christian Fennesz, que utiliza guitarra e laptops para misturar melodia com “samples” e “falhas”.
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