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Foram realizadas nos dias 28 e 29 de novembro, em Brasília, reuniões com a presença de ativistas/representantes da sociedade civil da Rússia. Grigory Vaypan, Tamilla Imanova e Daria Guskova, contaram como o atual conflito com a Rússia silencia a população e perpetua o sistema ditador no país, sustentando uma guerra sem fim e mantendo o líder russo, Vladimir Putin, no poder.
Os três são membros da sociedade civil russa, dois advogados de direitos humanos e uma jornalista independente que tiveram de deixar o país, na sequência da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022 e, desde então, têm trabalhado no exílio.
Vaypan é um jurista formado que tem dedicado sua vida aos Direitos Humanos e já foi, inclusive, agraciado com o renomado Prêmio Moscow Helsinki Group. Imanova foi premiada com a Iniciativa Marianne, e tem defendido casos ilegais de tortura e detenções no Memorial de Direitos Humanos. Já a jornalista independente Guskova tem experiência na mídia da oposição russa.
Os ativistas destacam que na Rússia não existe democracia. O simples fato de expor uma ideia, ou falar algo não quisto pelo Governo, pode resultar em prisão. Segundo Vaypan, qualquer pessoa pode acabar atrás das grades, “você não precisa ser um líder da oposição; basta ser um cidadão comum”. A repressão do Governo russo para com sua população é o que mantém a guerra de pé e, consequentemente, é o que permite que Putin continue no comando.
Para Vaypan, Imanova e Guskova é necessário que seja feita uma transição no Governo Russo. O projeto “Os 100 dias depois de Putin” liderado pelo Memorial trabalha na linha de frente para desenhar roteiros para uma transição democrática na Rússia. Como lembrado pelo ativista, a falta de democracia no país europeu é algo que se alastra desde o colapso da União Soviética. O caminho para a liberdade é longo, mas uma coisa é certa: “Se não enfrentarmos o nosso passado, nunca teremos uma Rússia diferente”.
De acordo com Vaypan, é crucial compreender que o conflito armado ucraniano não tem precedentes em décadas, tanto em termos de números quanto em termos de sua natureza. “Falando em números, é uma guerra que já viu mais de 200 mil pessoas mortas, mais de 800 mil feridos, mais de 8 milhões de refugiados, mais de 300 mil casas e outros edifícios destruídos na Ucrânia. Treze cidades foram completamente destruídas”.
Em termos de escala, “este é um conflito armado que o mundo não vê há pelo menos décadas, distinguindo-de das guerras Iugoslavas do início dos anos 90 por se tratar de uma guerra criminosa, uma guerra de agressão, criada pelo ditador da Rússia, que, na verdade, lançou esta guerra em 2014, com a anexação da Crimeia para consolidar o seu poder a nível interno”, disse.
“Existem três fatores que permitem a Putin continuar a travar esta guerra: medo, propaganda e dinheiro do petróleo. Ele está subornando o povo russo para lutar nesta guerra, usando esta combinação de medo, propaganda e muito dinheiro para manter e alastrar esse conflito”, ressaltou Vaypan.
O ativista garante, portanto, ser essencial apoiar a Ucrânia para combater Putin em prol de uma paz sustentável e duradoura.
Sobre o trabalho feito pelo Memorial, Imanova explicou que desde que foi fechado na Rússia no ano de 2021, a entidade, que conta com mais de 20 organizações, foi reorganizada e expandida para todos os continentes. Atualmente, por estarem mais dispersos, podem trabalhar de forma mais eficaz a nível mundial.
O Memoria dos Direitos Humanos começou em 1987 como uma organização voltada para abordar os crimes da era soviética. “Esses crimes nunca foram exaltados e, como resultado, essa cadeia de impunidade levou a novas atrocidades e, infelizmente, temos as testemunhado todos os dias”.
Imanova observou que todos os meios de comunicação da oposição estão bloqueados na Rússia, sendo impossível obter acesso se não usar serviços VPN. “O fato das autoridades russas privarem as pessoas da informação é assustador, e se gasta um montante absurdo de dinheiro para isso”.
A defensora de direitos humanos informou que a televisão é a principal fonte de informação de grande parte da população russa. “A televisão só notifica o que é de interesse do governo, deixando as pessoas alienadas sobre o que de fato acontece nos dois lados da guerra”.
Jornalista independente, Daria Guskova, disse, entretanto, que alguns russos estão cansados de sentir medo e estão se posicionando mais contra o governo de Vladimir Putin.
“As ações do líder russo têm influência direta no bem estar da população”, contou. Os que frequentam hospitais públicos muitas vezes questionam sobre a falta de qualidade do atendimento e falta de medicamentos, por exemplo. “E o que pode ser falado? Somente que Putin está gastando tanto dinheiro nessa guerra infundada que não sobra pra gastar com o que realmente importa”.
Guskova enfatizou a dificuldade diária dos cidadãos frente à censura, afirmando que não importa a idade, opondo-se ao governo, as consequências são desastrosas.
Os ativistas, em passagem pela América do Sul, estiveram antes em Buenos Aires, na Argentina, e em São Paulo, para disseminar o que, de fato, está acontecendo no território russo, fora do que a mídia relata. Outro objetivo do trio é também compartilhar suas visões sobre os crimes de violação de direitos humanos na Rússia.
*As opiniões expostas nesta matéria pertencem aos ativistas Grigory Vaypan, Tamilla Imanova e Daria Guskova.