Naoko Yamazaki fez história não apenas por ser a segunda astronauta do Japão, mas também por integrar a missão do ônibus espacial STS-131 da NASA para a Estação Espacial Internacional (ISS), em 2010.
Decolando do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida, o voo reuniu pela primeira vez quatro mulheres ao mesmo tempo na ISS. A ocasião também estabeleceu o recorde de missão mais longa do ônibus espacial Discovery, com duração superior a duas semanas.
Yamazaki, 50, nasceu em Chiba, perto de Tóquio, mas passou a infância na ilha de Hokkaido, ao norte. Na juventude passou a se dedicar às matérias que mais gostava, como ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Após concluir o mestrado em engenharia aeroespacial pela Universidade de Tóquio, em 1996, começou a trabalhar para a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA). Três anos depois foi selecionada como candidata a astronauta e participou de viagens espaciais internacionais do seu país.
Desde que se aposentou da JAXA, em 2011, Yamazaki trabalha para trazer a “perspectiva do espaço” sobre uma variedade de questões prementes. Membro do EarthShot Council, um projeto ambiental global, pratica o que chama de “diplomacia cidadã” do astronauta, que inclui usar a vivência e a tecnologia de ecossistemas espaciais para resolver os problemas ambientais da Terra.
No Japão, Yamazaki assessora o governo na política espacial e promove o ensino de ciências especialmente para mulheres jovens. Ela ajudou a fundar a Associação Portuária Espacial do Japão, em 2018, que promove a indústria aeronáutica do país.
Aos 50 anos, dá aulas em escolas e museus de ciências, além de contribuir com sua experiência como astronauta-cidadã-diplomata em muitos fóruns internacionais. Ao mesmo tempo trabalha como professora visitante na Universidade Joshibi de Arte and Design, ministrando um curso sobre espaço, humanidade e arte.
Até hoje apenas 68 mulheres chegaram ao espaço, entre um número estimado de 600 astronautas. Isso considerando que duas mulheres fizeram voos suborbitais em missões privadas, com a Virgin Galactic dia 11 de julho, além de Wally Funk, de 82 anos, que voou dia 20 daquele mês na Blue Origin. No Japão, além de Yamazaki, apenas Chiaki Mukai esteve no espaço sideral.
Diplomacia espacial
Em uma entrevista à PassBlue, Naoko Yamazaki contou como uma “diplomacia espacial” pode agregar muito à diplomacia, especialmente para áreas como a diplomacia ambiental e a diplomacia científica, além de assuntos planetários e espaciais.
Ela Ilustra isso lembrando uma de suas experiências. “A bordo da Estação Espacial Internacional, reciclamos água e atmosfera. E trabalhando na agricultura espacial. Este know how em um ecossistema ambiental fechado pode ser benéfico para ver como a Terra pode tornar-se mais sustentável”.
De fato, ao se pensar no surgimento dessa “diplomacia espacial”, o “Tratado sobre os Princípios Que Regem as Atividades dos Estados na Exploração e Utilização do Espaço Exterior”, de 1967, pode ser visto uma base para essa atuação. Outra convicção da astronauta japonesa é que a ONU deveria ter um papel mais ativo no acompanhamento da exploração espacial, pois “precisamos de uma ordem internacional no desenvolvimento do espaço com mais atores envolvidos”.
Dado o aumento recente da exploração comercial e voos pessoais, a ONU já afirmou em comunicado que “precisamos de uma ordem internacional no desenvolvimento do espaço com mais atores envolvidos”.
O Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (UNOOSA) foi criado em 1958 e segue atuando. Além disso, o Tratado do Espaço Exterior, que fornece a estrutura básica sobre o direito espacial internacional, tinha com os Estados Unidos, Rússia e Grã-Bretanha como os primeiros signatários, Atualmente possui 111 países aderentes, o que sinaliza um aumento exponencial no interesse sobre o tema.
Yamazaki ressalta que suas viagens ao espaço mudaram sua perspectiva sobre como deveria ser a vida no planeta Terra. “O papel dos astronautas seria enfatizar que todos nós somos membros da tripulação da Nave Espacial Terra e precisamos cooperar”, acredita.
Lembra que a primeira vez vendo nosso planeta do espaço trouxe-lhe uma nova perspectiva. “Fiquei impressionada com o milagre da Terra e com o poder dos seres humanos quando me aproximei da Estação Espacial Internacional. Quando a vi pela janela parecia um símbolo de colaboração internacional e civilização humana. Se colocarmos nossos esforços juntos, seremos capazes de tornar possível o que julgávamos impossível”, assevera.
A percepção de Yamazaki é que, à medida que a exploração espacial aumenta, a cooperação internacional pode ser a chave para gerenciar essa atividade. Ela frisa que “o espaço é uma fronteira comum e propriedade de toda a humanidade. Portanto, embora a importância da segurança espacial esteja aumentando, é uma área em que tendemos a cooperar facilmente. Por meio da diplomacia espacial, espero que o mundo seja capaz de se unir mais”.
Sua convicção é que “a aliança entre nações que compartilham valores comuns está se tornando mais importante, e a diplomacia está desempenhando um papel maior no espaço, propriedade compartilhada por toda a humanidade”.