O embaixador da Alemanha, Heiko Thoms, e o governador do Ceará, Camilo Santana, devem se reunir em breve, em Fortaleza, para debater o projeto que levará água limpa para 700 mil pessoas daquela capital e de outras cidades cearenses. A intenção é fortalecer o projeto, iniciado há dois anos, no valor de 57 milhões de euros, sendo 50 milhões de euros da Alemanha e 7 milhões de euros da União Europeia. A informação foi dada com exclusividade pelo embaixador Thoms para o Diplomacia Business.
“É uma cooperação muito intensa e de longo prazo. Começamos há dois anos e agora vamos continuar essa cooperação”, explicou o diplomata. Segundo ele, por meio desse projeto, a água limpa já chegou para 100 mil pessoas da capital e do interior do Ceará. “Nossas cooperações sempre foram de acordo com que o Brasil demandou. E para todas as áreas: sustentabilidade, mudanças climáticas, energia, principalmente”, disse.
De acordo com Heiko Thoms, a Alemanha é o país europeu com maior cooperação com o Brasil: “temos um portifólio de cooperação com o Brasil de mais de 2 bilhões de euros. Mais importante é a cooperação nas áreas de sustentabilidade e meio ambiente. Cerca de 50% dos projetos que temos aqui são nessas áreas”. Segundo o embaixador, há muita preocupação com o desmatamento, sobretudo no Pará e em Mato Grosso do Sul. “O meio ambiente é um tema muito importante para todos os alemães. Na Alemanha, não é uma questão da direita ou esquerda, a todos os partidos políticos interessa”.
Amazônia
O embaixador Heiko Thoms, de 53 anos, nascido em Wolfsburg, na Baixa Saxônia, na Alemanha, serviu em organismos internacionais como a União Europeia, ONU, em Nova Iorque, e na Otan, em Bruxelas. Diplomata de carreira, especializou-se em assuntos do Oriente Médio. Fala árabe, persa, inglês, francês, alemão e português. De Bruxelas, veio para Brasília. Ser embaixador da Alemanha no Brasil foi uma surpresa que ele não esperava, mas diz gostar muito do país. Em pouco tempo, ele começou a aprender e a falar bem português. “O Brasil é tão fascinante, tão interessante, tão diverso. Eu aprendo coisas novas, todos os dias”, comenta.
O diplomata já esteve duas vezes em Manaus. A primeira para entregar respiradores aos hospitais daquela capital, no início do ano. Depois integrou uma comitiva de embaixadores, levada ao Amazonas pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Conheceu São Gabriel da Cachoeira e Maturacá, na fronteira do Amazonas com a Venezuela. O diplomata alemão se encantou com a floresta densa e o encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Também conheceu Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro e São Paulo.
Casado com Anahita Thoms, advogada de comércio internacional, o embaixador tem dois filhos, de cinco e 10 anos de idade, e é maratonista. “Brasília é uma cidade muito agradável, especialmente para uma família com filhos pequenos. Gostamos de esportes, de correr, de tênis, vela”. Seus pratos prediletos: “moqueca de peixe, feijoada e cozinha mineira”. No Amazonas, gostou de tambaqui e pirarucu.
Santa Catarina
De acordo com o embaixador Heiko Thoms, cerca de 40% da população de Santa Catarina tem origem alemã, assim como 25% dos habitantes do Rio Grande do Sul e 10% dos moradores do Paraná. Estima-se em 7 milhões no Brasil o número de pessoas com origem alemã e em um milhão o número de brasileiros que falam alemão.
A maioria dos alemães que investem no Brasil atuam na indústria. “São responsáveis por 25% do PIB industrial brasileiro. São mais de mil empresas alemãs no Brasil, eu diria alemãs-brasileiras, porque geralmente os gerentes são brasileiros”, comenta o embaixador.

Merkel
Na conversa com representantes do Diplomacia Business, na sede da embaixada da Alemanha, Heiko Thoms falou sobre Angela Merkel: “é uma líder extraordinária. Está há 16 anos no cargo, um recorde, será o chanceler de mais longo tempo na história da Alemanha. Vamos ver se teremos novo governo dia 5 de dezembro, senão ela permanece um pouco mais”.
Na avaliação do embaixador, Angela Merkel foi uma gerente de crises muito diligente. “Tivemos algumas grandes crises, como a financeira em 2008, a de refugiados em 2015, difícil para o nosso país, e outras crises menores. Ela gerou tudo de forma muito profissional”.
Eleições
O diplomata comentou que a Alemanha precisa de reformas: “a vida no século XXI é diferente da vida no século XX. Temos de preparar o nosso país para os desafios do futuro com reformas econômicas. Esse é o grande desafio do novo governo”. A seu ver, a boa notícia dessas eleições é que os partidos extremistas diminuíram, “tanto os da Direita e como os da Esquerda. Vimos que os grandes partidos tradicionais não são tão grandes como antes. Vamos ter pela primeira vez uma colisão de três partidos”.
Diferentemente do Brasil, na Alemanha há duas cédulas para votação, uma com o voto para o candidato e outra com o voto para o partido. E ainda não existe o voto eletrônico no país.
Reciclagem
De acordo com o embaixador Heiko Thoms, o índice de reciclagem de embalagens de aço na Alemanha ultrapassa a 90%. O uso de matérias-primas secundárias também alcança volumes significativos na produção de aço, com mais de 45%; na produção de papel, 74%; e na produção de vidro, 90%. “Antes, o que importava era apenas descartar o lixo. Agora, as pessoas já perceberam que resíduos são matérias-primas valiosas que podem ser recicladas, aproveitadas para novos produtos ou pelo menos usadas como fonte de energia. E, claro, o melhor resíduo é aquele que nem sequer é gerado”, comentou.
Destacou que, desde julho de 2021, produtos descartáveis de plástico estão proibidos em toda a União Europeia. Ou seja, copos de café “para viagem”, talheres descartáveis ou canudos de plástico não podem mais chegar ao mercado. “Mesmo as cadeias de fast food deverão oferecer futuramente embalagens reutilizáveis. Esse é um passo importante contra o grande volume de lixo plástico que, no fim, costuma ir parar nos oceanos”, afirmou o diplomata.
A seu ver, é relevante que empresas já considerem o ciclo completo de vida do material desde o design dos seus produtos. “Para isso, temos padrões ecológicos de design válidos em toda a União Europeia. Mas não apostamos somente em normas. Existem outros incentivos, por exemplo, o Ecodesign, prêmio do governo federal alemão como o qual promovemos inovações sustentáveis”, explicou, lembrando que um dos últimos vencedores desse prêmio desenvolveu um processo inédito para fabricar outra vez novos tecidos e roupas resistentes usando restos velhos de jeans.
Ainda segundo o embaixador, na Alemanha, nas últimas décadas, desenvolveu-se um setor de descarte de resíduos eficiente, com ao todo cerca de 250 mil empregos e um faturamento anual em torno de 50 bilhões de euros. “Esse setor dispõe de alto know-how técnico e conta com as mais diversas experiências. Diante disso, existe grande interesse por parte das nossas empresas alemãs em ajudar o Brasil a ajudar sua tarefa nesse campo”.
Deixe seu comentário