A história da Ucrânia remonta a 5500 anos A.c. quando a civilização Trypillya já ocupava aquelas terras. Entre os artefatos encontrados na região pertencentes àquela civilização estão ovos decorados à mão, atualmente conhecidos como as Pessankas, tradição que continua sendo seguida durante a páscoa, entre os ucranianos, inclusive por aqueles que estão no Brasil, principalmente no Paraná.
Com o país hoje consumido pela guerra, a páscoa na Ucrânia – dia 24 de abril, no calendário das tradições ortodoxas – ficou em outro plano, menos importante, já que a sobrevivência e a luta pela soberania da nação estão em primeiro lugar. Contudo, o encarregado de negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, acredita que mesmo diante de tantas tragédias, algumas famílias ucranianas ainda vão pintar os ovos e fazer o tradicional bolo para lembrar a páscoa, cujo nome que vem do latim “pascha” e que significa passagem, libertação.
Em entrevista ao Diplomacia Business, o diplomata conta a história do país, desde o nascimento na nação e suas duras lutas. “Nossas terras são férteis, por isso sempre tinha alguém que queria invadi-las”, comenta.
Crônica de Nestor – A capital, Kyiv, nasceu em 482 D.c, mas estudos arqueológicos indicam que na localidade existiu uma povoação mais antiga. Segundo a lenda, três irmãos vikings Kyiv, Khorev e Shchek, junto com a irmã Lybid, chegaram àquelas terras e fundaram Kyiv, cujo nome foi em homenagem ao mais velho (dos irmãos). A Crônica dos Anos Passados, ou Crônica de Nestor, a mais antiga sobre a formação do povo eslavo oriental, se refere à capital ucraniana. O texto diz que Santo André abençoou as montanhas de Kyiv.
Durante o reinado do príncipe de Kyiv, Volodymyr – o Magno, a Ucrânia tornou-se o maior estado da Europa com mais de 5 milhões de habitantes em 800 mil km2. “Na época, as fronteiras do estado chegavam ao Mar Báltico, no norte; ao Mar Negro, no sul; às montanhas de Cárpartos, no oeste; e ao rio Volga, no leste”, explica o encarregado de negócios.
Anatoliy Tkach explica que foi o príncipe Volodymyr quem introduziu a fé cristã na Ucrânia. “A cristianização promoveu a unificação dos povos eslavos em um estado único, deu impulso para o desenvolvimento da economia, educação, espiritualidade e cultura”, explica o diplomata. Segundo ele, foi uma época de prosperidade da Ucrânia, seguida de fases de lutas internas pela posse do trono e consequentes divisões. Esse período é citado no canto III da obra “Os Lusíadas”, do escritor português Luiz Vaz de Camões (1572). No texto são mencionados os Rutenos, um dos nomes dos habitantes da antiga Ucrânia: “Entre este Mar e o Tanáis vive estranha gente, rutenos, mocos e livônios”.
Pereiaslav – Em 1654, o Tratado de Pereiaslav com o império moscovita preserva a autonomia interna da Ucrânia. “Mas a Moscóvia não cumpriu o acordo”, conta o encarregado de negócios ucraniano, destacando muitos detalhes da história. Lembra que a Revolução Russa de 1917 encorajou a Ucrânia a iniciar a luta pela independência. No dia 22 de janeiro de 1918, Rada, o conselho central ucraniano proclamou a República Popular Ucraniana (RPU), como estado soberano e independente. O primeiro presidente Mykhaylo Grushevsky, historiador e professor universitário, foi eleito.
O povo ucraniano separado durante séculos se libertou. A Ucrânia Oriental abandonou o império russo; e a Ocidental, o império austro-húngaro, congregando suas terras em um estado ucraniano único. “Naquele tempo, os bolcheviques não permitiram o jovem estado ucraniano sobreviver. A Ucrânia foi invadida pelas forças armadas comunistas e em 1922 foi integrada à URSS”, explica o encarregado de negócio, lembrando que foi um período dramático.
Holomodor – Entre 1932 e 1933, na Ucrânia, “no celeiro da Europa”, sem nenhuma catástrofe natural, 7 milhões de pessoas morreram de fome, na tragédia conhecida como Holodomor (morte pela fome). Em 1º de setembro de 1939, começa a 2ª Guerra Mundial. Os historiadores estimam que a Ucrânia perdeu 2,5 milhões de militares e 5,5 milhões prisioneiros de guerra e civis em campos de concentração. “Durante a guerra, morreram cerca de 20% da nossa população. Sobreviveram apenas 3% do total de ucranianos recrutados no verão de 1941”, relata Anatoliy Tkach.
Em 16 de junho de 1990, o parlamento ucraniano aprova a Verkhovna Rada (Ato de Soberania), o primeiro passo para o país livre e independente. A independência foi proclamada em 24 de agosto de 1991, confirmada em 1º de dezembro de 1991, em referendo nacional. Outros fatos se seguiram. Agora, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia gera mortos, feridos, destruições, e prejuízos econômicos de ambos os lados, repercutindo negativamente na economia de todo o mundo.