Por Osmar Chohfi (*)
Realizada a partir de outubro em Dubai, a Expo 2020 tem tudo para se tornar um novo marco nas relações internacionais dos países árabes, pavimentando um caminho para trocas comerciais, tecnológicas e culturais ainda mais intensas com o resto do mundo.
A realização do evento ocorre num contexto em que os integrantes da Liga dos Estados Árabes buscam assegurar um futuro com maior protagonismo internacional, que vá muito além do tradicional papel de fornecedores de energia fóssil exercido nas últimas décadas e de mercado consumidor de produtos das nações industrializadas.
Durante a Expo 2020, os países árabes esperam ter a oportunidade de mostrar ao mundo não só o que vêm fazendo para uma transição segura de suas economias para a era pós-petróleo, com diversificação, sustentabilidade, tecnologia e inovação, como também ressaltar que estas iniciativas contém em si oportunidades de investimento e trocas bilaterais de interesse de qualquer país.
Nos últimos anos, os países árabes vêm alocando de forma perene um volume de capital impressionante em iniciativas que vão de cidades inteligentes nos principais países do Golfo, a projetos de energia solar no Marrocos e no Egito, sistemas de cultivos e criação intensivos por toda a região, Zonas Francas conjugadas com infraestrutura industrial e logística, projetos de pesquisa científica nas mais diversas áreas e até a maior floresta plantada do mundo, a ser cultivada – acredite – na quase totalidade da hoje desértica Península Arábica.
O Brasil, que já tem nos países importantes parceiros comerciais, sobretudo para produtos do agronegócio, goza da simpatia dos árabes e de uma boa reputação na região. Dessa forma, o país tem com a Expo 2020 uma oportunidade ímpar em relação às das demais nações presentes no evento, para tornar a atual parceria bilateral ainda mais consistente.
Em total linha com os interesses árabes atuais, o Brasil escolheu destacar no seu pavilhão na mostra não só os impressionantes aspectos do agronegócio responsável por avanços e garantir a segurança alimentar de parcela expressiva da população da Liga Árabe, mas também sua biodiversidade, tecnologias de produção agropecuária, e sua expertise em biotecnologia aplicada à produção de alimentos, energia limpa, manejo de recursos ambientais, além dos progresso alcançados por nosso país na área científica, tecnológica e espacial.
Seguramente, a participação brasileira nesses moldes é uma decisão acertada, dadas as evidentes sinergias de nossos talentos com as iniciativas árabes atualmente em curso para semear o futuro, além do fato de ainda haver tempo para o nosso país ter um papel de destaque no imenso intercâmbio tecnológico que os árabes estão demandando e vão continuar a demandar pelo resto do século para alcançar seus objetivos.
Aliás, há muito tempo os árabes vêm dando mostras de que desejam ter com o mundo relações que vão além das trocas comerciais, nas quais eles e seus parceiros sejam protagonistas de ações transformadoras para suas sociedades, mas também para o mundo, contexto em que se insere, por exemplo, suas iniciativas atuais iniciativas sustentáveis.
Faço votos de que o Brasil compreenda o atual momento árabe e que possa participar com todo seu potencial do movimento dessas nações em direção ao futuro.
* Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Serviu como embaixador do Brasil na Espanha e no Equador, foi secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores e representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA).
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