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O deputado Fausto Ruy Pinato, do Partido Progressista (PP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, advogado, 42 anos, nascido em Fernandópolis (SP), destaca que a China é grande comprador de carnes e do açúcar brasileiro. “Essas usinas empregam geralmente 2 mil funcionários. Será que se diminuírem essas exportações, vão continuar a ter esses empregos? Eu sou um cara pragmático. Se é melhor fazer negócios com os EUA, vamos fazer… com a China, com a Rússia, com a Europa…”, diz o parlamentar.
“Eu sou evangélico, mas a partir do momento que eu começo meu mandato, eu não sou só um deputado, eu represento meu Estado, que representa meu país”, prossegue Fausto Pinato, em entrevista ao Diplomacia Business. Segundo o parlamentar, a China gosta de uma relação mais calma, mais amistosa, não tensa, sem muito conflito. “E a gente conhecendo, pacificava. Passavam 15 dias, alguém ligado ao governo vinha e fazia ataques desnecessários. Vão pela conversa de que a China é paga com o regime comunista, aquelas coisas de terra plana…eles confundem muito ficção com realidade. Há muito ódio e falta de pragmatismo”. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – Fale-nos um pouco sobre o trabalho da Frente Parlamentar Brasil-China.
Deputado Fausto Pinato – Na verdade, quem sugeriu para mim esse trabalho, em 2015, foi o então deputado William Woo. Acho que ele é descendente de chinês, e eu tive uma ideia, tinha também uns amigos que eram orientais, outros que não eram orientais, e decidimos formar essa Frente pra fomentar, servir como um canal junto a empresas que queriam trazer alguma coisa da China, ou queriam levar, queriam conhecer. Eu mesmo tinha uma curiosidade muito grande… o pessoal falava da China, enfim. Aí começamos esse trabalho.
Ontem mesmo fui vítima de fake news, por conta das alas ideológicas. Eu sou de centro-direita. Mas em questão de relações internacionais, ou interesse do país, nós temos que ter pragmatismo, isso é muito mais importante do que qualquer coisa… Não estou aqui para defender o sistema. As ideologias desse país atrapalharam muito, sejam elas de esquerda ou de extrema direita. A esquerda, vez ou outra está apoiando regimes como os da Venezuela, Cuba, coisas que não voltam mais. E a extrema direita criando xenofobia, preconceito, gerando ódio contra alguns países, principalmente a China, que é um grande parceiro comercial do Brasil.
Em vários momentos da pandemia, o senhor se posicionou como interlocutor junto ao governo chinês para a liberação dos insumos e produção das vacinas. Qual a importância da diplomacia parlamentar para o Brasil?
Deputado Fausto Pinato – O presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, juntamente com o Ciro Nogueira, foi fundamental. O Arthur Lira já tinha ganhado a presidência da Câmara, e o Ciro Nogueira estava na Casa Civil. Eles me pediram, de certa forma, para fazer essa interlocução junto com o Governo chinês. A China, pelo que eu venho estudando ao longo dos anos, gosta de uma relação mais calma, mais amistosa, não tensa, sem muito conflito. E a gente conhecendo, pacificava. Passavam 15 dias, alguém ligado ao governo fazia ataques desnecessários. E 85% da Coronavac e da AstraZeneca são produzidas com o IFA, da China. O IFA é a matéria prima para as vacinas. Quer dizer: totalmente desnecessários esses ataques, essa confusão fugindo da realidade.
O senhor ficou conhecido pela defesa de uma diplomacia pragmática com a China, nosso maior parceiro comercial. Qual a sua avaliação sobre as relações bilaterais Brasil-China?
Deputado Fausto Pinato – Não só com a China, eu já saí em defesa até dos Estados Unidos. Eu aplaudi quando o governo se aproximou dos EUA, de Israel. Eu sou evangélico, mas a partir do momento que eu começo meu mandato, eu não sou só um deputado, eu represento meu Estado, que representa meu país, assim como o presidente e o governador. Eu sou de centro-direita, mas se tiver um governo de esquerda, a gente tem que defender a democracia. Esses regimes, tanto de esquerda, quanto de direita, estão muito próximos dos regimes autoritários.
Como o sr. Avalia as relações Brasil-China?
Deputado Fausto Pinato – A China está fazendo investimentos em outros países, o que de certa forma arranha um pouco a relação. Muitos frigoríficos poderiam estar credenciados no Brasil, mas foram credenciados em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Entendo que a China vai depender do Brasil ainda por muito tempo, até porque ela tem uma população muito grande. Se a gente perder 10, 15, 20% de exportação, seja dos grãos, seja da carne, isso é algo que de certa forma, são milhões e milhões… que podem gerar desemprego.
Hoje eu vejo que a relação com a China está mais calma, mais pacificada, mas existe ainda uma desconfiança. Ontem mesmo eu sofri um ataque no twitter de pessoas ligadas ao Bolsonaro, muito próximos de familiares, que vão pela conversa de que a China é paga com o regime comunista, aquelas coisas de terra plana…eles confundem muito ficção com realidade. Há muito ódio e falta de pragmatismo.
Como o sr. reage a essas críticas e ataques?
Deputado Fausto Pinato – Algumas eu respondi, sim, eu respondo o seguinte: morria mais gente antes ou depois da vacina? Os hospitais estavam mais lotados, antes ou depois? Existe uma confiança maior das pessoas irem para rua trabalhar? Existe uma maior conscientização das pessoas para usarem máscara? Para quem falava que era uma gripezinha… Aí eles começam a falar “comunista”…. porque esse pessoal não tem argumento. Não é isso, ou não? E eu volto a dizer: eu não sou comunista, eu não sou de esquerda, mas a China para o agronegócio é importante.
A maioria do açúcar vendido vai para a China. Essas usinas empregam geralmente 2 mil funcionários. Será que se diminuírem essas exportações, vão continuar a ter esses empregos? Eu sou um cara pragmático. Se é melhor fazer negócios com os EUA, vamos fazer… com a China, com a Rússia, com a Europa… Eu sou um crítico perrengue de ideologias de esquerda e de extrema direita. Isso leva ao ódio, à insanidade e interfere, e muito, nos verdadeiros interesses do país.
A China conseguiu eliminar a pobreza extrema de seu território e tem se configurado em um país de grande avanço tecnológico, deixando para trás a economia baseada na agricultura de algumas décadas atrás. O que o Brasil pode aprender com esse exemplo?
Deputado Fausto Pinato – A China conseguiu eliminar a pobreza extrema de seu território e tem se configurado em um país de grande avanço tecnológico, deixando para trás a economia baseada na agricultura de algumas décadas atrás. O que o Brasil pode aprender com esse exemplo? Eu acho que não tem que aprender. Cada país tem a sua peculiaridade.
A China é um país milenar, que teve um grande avanço, mas já foi um país muito sofrido, foi invadido, o pessoal passou fome. A história da China é complicada, até hoje tem essa questão de Taiwan, bom, enfim… O que eu vejo é o seguinte: a gente tem que copiar o que está dando certo. O Brasil não usa todo seu potencial para o agronegócio. E temos, graças a Deus, tem terras muito férteis. O Brasil deveria, de certa forma, passar uma segurança para a China e outros países importadores de alimentos.
Eu me lembro que na década de 60, os jovens foram incentivados a virem para as cidades. Hoje eu faria o contrário, eu incentivaria os jovens a voltarem para o campo. Nós podemos ser sim uma potência para o agronegócio, e sendo uma potência no agronegócio, nós temos um escambo, até nas tratativas diplomáticas, de avançar em algumas tecnologias que estamos atrasados. Nós temos a Embrapa, por exemplo, com alta tecnologia para o agronegócio.
Eu vejo direto a China e os EUA trocando farpas. São duas super potências querendo manter a dianteira do mundo. A gente não tem que tomar partido, não… Ver gente tomando partido, me irrita muito. Eu vou sempre defender a democracia no Brasil. A China, com milhões de habitantes… será que a democracia dava certo lá? Não sei. Cada um bebe a água que mata sua sede. O Brasil não é igual a China, igual o Japão… No Brasil a gente tem árabe e judeu sentando na mesma mesa, aqui é mistura de italiano, com português, alemão. Nós somos um país de todos. Então aqui nós temos que ser iguais a ONU, ficar bem com a Europa, com os EUA, China. Aí entram esses terras-planas, juntam com esse Trump, essa teoria da conspiração, de que vai virar jacaré, eu não sei, eu acho que está precisando mais de psiquiatras e tratamento para algumas pessoas desse país.
Deputado, além de presidir a Frente Brasil-China o senhor também lidera a Frente BRICS. Qual sua análise sobre a atuação diplomática do Brasil, no contexto atual do multilateralismo?
Deputado Fausto Pinato – Primeiro que queria parabenizar esse atual ministro França [embaixador Carlos Alberto Franco França, ministro das Relações Exteriores do Brasil]. Com o antigo ministro do MRE, e por conta dessa ala ideológica, o Bolsonaro não deu muita ênfase ao BRICS.
Para o contexto do Brasil no agronegócio, o foco está no Oriente, tentar melhorar as exportações, na Ásia, no Oriente, mantendo sempre uma boa relação. A ideologia deixou de melhorar a plataforma. O BRICS estava aí. O Brasil é um país importante. No início, estavam Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul. O Governo não deu importância para esse projeto que, para mim, é de suma importância, que com certeza já estaria crescendo grandes projetos, privados ou públicos, de interesse nacional e internacional.
A senadora Kátia Abreu defende uma melhor estruturação dos diplomatas na Ásia/África. Como o sr. vê a proposta da senadora?
Deputado Fausto Pinato – Eu acho que ela está certa. A gente fica com esses diplomatas, esses embaixadores, tentando fomentar negócios nessas regiões… Os do Brasil aqui, nós vemos muitos bons diplomatas, mas todos querem ir pra França e Estados Unidos. Não que esses países não sejam importantes, estrategicamente falando, mas pensando em aumentar a balança comercial, melhorar alguns segmentos, com certeza deveríamos olhar mais as questões do Oriente Médio e Ásia.
O sr. gostaria de acrescentar algo mais?
Deputado Fausto Pinato – Gostaria de agradecer por essa entrevista e gostaria de pedir: pessoal vamos nos pautar… defendo o agronegócio. Em questão de política internacional, a gente tem que agir com racionalidade, e a política é feita de discordância, de opiniões diferentes, mas sem ódio. Podemos não concordar um com o outro, mas vamos ouvir… e uma discussão pode ser calorosa, mas sempre respeitosa. Chegamos a um ponto em que eu falo: eu sou contra a facada no Bolsonaro, foi um absurdo, mas também sou contra a morte da Marielle. Então é isso.