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Por Pedro Merheb
Ontem, 10 de outubro, a China comemorou o 112º aniversário da Revolução Xinhai, que destronou a monarquia imperial pela Proclamação da República como forma de governo. Em 2021, quando do centenário da revolução, o líder supremo da república chinesa, Xi Jinping, apelou a todos os chineses dentro e fora da China para que seguissem unidos, levando adiante o espírito do seu pai fundador, Sun Yat Sen.
A decrepitude da dinastia Qing, que desde 1636 reinava sobre as terras chinesas, se agravava a cada dia com o saldo da primeira guerra sino-japonesa e o fracasso das reformas tardias promovidas pelo imperador. Em adição, a filosofia que embalava os Estados Nacionais na Europa não demorou a agir sobre os chineses, que encontraram nela as respostas para uma nação fragmentada e carente de uma liderança respeitável. A revolução que trouxe o colapso da monarquia chinesa, apesar da sua eclosão doméstica, foi auspiciada pelo pensamento de um exilado político que passou dezesseis anos organizando a resistência internacional que encontraria, em 1911, a sua vitória.
Empurrado à clandestinidade após uma rebelião mal-sucedida, Sun Yat Sen tenta seu primeiro exílio em Londres e é sequestrado pela delegação imperial chinesa na Inglaterra para que fosse repatriado e executado em solo chinês. Sua situação, porém, comove a imprensa e a sociedade política britânicas, que passam a demandar sua imediata libertação. Solto doze dias depois, Sen era uma pessoa pública entre os acadêmicos e jornalistas, e a circulação do seu testemunho “Um sequestro em Londres” exponenciou a sua popularidade e, por conseguinte, a da sua causa.
De lá, avançou para o Oeste, de onde conquistou a simpatia e fundos dos chineses distribuídos desde Nova York até São Francisco, Tokyo, Singapura e Bangkok ao longo dos seus anos de militância itinerante. Ele estava em Denver quando, em 10 de outubro 1911, a primeira insurreição em Wuchang despertou a cadeia de rebeliões pelas províncias imperiais que consumou a revolução Xinhai e a queda da Dinastia Qing. Desembarcando dois meses depois em pleno natal, Sen viu a recompensa pela sua tenacidade durante dezesseis anos de exílio ao ser eleito o presidente provisório da recém-nascida República da China sob os chamados “três princípios do povo” que governavam seu pensamento e ação: nacionalismo, direitos civis e bem-estar social.
Mesmo após a transição política vivida em 1949, os fundamentos consagrados pelo nacionalismo chinês originário seguem imortais na condução política da sociedade chinesa pelo Partido Comunista. Assim como a China, guardadas as devidas idiossincrasias de cada processo revolucionário, o Brasil, em 1930, elevou um civil à chefia suprema do Estado para corrigir os rumos políticos e socioeconômicos da nação, introduzindo preceitos cardinais que nunca abandonaram nossa história constitucional em todas as suas transformações, quais sejam, sobretudo, a unidade e o desenvolvimento nacional.
Em Beijing ou em Brasília, em Wuchang ou São Borja, o legado das virtudes paralelas ao nacionalismo são sentidos por todos os herdeiros que colhem, no presente, as glórias vicejadas no passado.