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Por Diego Wen
Representante de Taiwan no Brasil
A invasão da Ucrânia pela Rússia é um sinal de como as autocracias não se importam em causar morte e destruição. A guerra é uma violação dos direitos humanos e do princípio da solução pacífica de disputas internacionais, conforme codificado na Carta das Nações Unidas, que ajudou a manter a ordem internacional baseada em regras e manteve o mundo em relativa paz desde o fim da Guerra Fria.
As consequências humanitárias e econômicas da guerra também mostraram que, em um mundo globalizado, as crises não podem ser contidas dentro das fronteiras nacionais. Portanto, é quase inviável impedir que ameaças semelhantes à segurança global aconteçam em outros lugares. Taiwan – uma democracia que abriga mais de 23 milhões de pessoas e que represento com orgulho – continua enfrentando enormes desafios impostos pela China.
Mesmo sem nunca ter governado Taiwan, a República Popular da China (RPC), desde meados do século 20, prometeu assumir o controle de Taiwan e se recusou a renunciar ao uso da força. Durante décadas, os taiwaneses mantiveram a calma em salvaguardar o status quo de paz e estabilidade no Estreito de Taiwan. No entanto, à medida que o poder econômico e militar da China se fortaleceu, ela se tornou cada vez mais agressiva em flexionar sua força militar para intimidar Taiwan, ameaçando assim nosso modo de vida democrático. Isso inclui enviar aviões de guerra e navios através da linha mediana do Estreito de Taiwan e invadir nossas zonas de identificação de defesa aérea. Também intensificou táticas de zona cinzenta, como a desinformação e coerção econômica, na tentativa de desgastar nossa vontade de lutar.
O expansionismo da RPC não para em Taiwan. O uso de atividades nos mares do leste e do sul da China é projetado para expandir seu poder e substanciar suas reivindicações territoriais. Além de assinar um acordo de segurança com as Ilhas Salomão no Pacífico Sul, a RPC tem assegurado portos para uso militar futuro no Oceano Índico. Todas essas manobras estão causando sérias preocupações e percebe-se que está se cada vez mais difícil de manter a paz.
Garantir a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan é de interesse de todos. Metade do tráfego comercial de contêineres do mundo passa por lá diariamente. Taiwan produz a maioria dos semicondutores do mundo e desempenha um papel fundamental nas cadeias de suprimentos globais. Qualquer conflito na área teria consequências desastrosas para a economia global.
Nos últimos anos, os fóruns bilaterais e multilaterais enfatizaram repetidamente que a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são indispensáveis para a segurança global. Embora todos possamos concordar que a guerra deve ser evitada, a melhor forma de fazê-lo requer inclusão, diálogo e, acima de tudo, unidade.
As Nações Unidas continuam sendo a melhor plataforma para o discurso global. Funcionários da ONU falam frequentemente de soluções conjuntas, solidariedade e inclusão no enfrentamento das questões de nosso tempo. Taiwan está mais do que disposta e apta a participar desses esforços.
No entanto, Taiwan continua a ser excluído da ONU devido à distorção da Resolução 2758 da Assembleia Geral da ONU pela China. Esta resolução não afirma que Taiwan faz parte da RPC e tampouco permite que representem o povo de Taiwan na ONU e suas agências especializadas. Na verdade, a resolução apenas determina quem representa o estado membro China, fato que a comunidade internacional e a própria China reconheceram após a votação relevante em 1971. A subsequente deturpação da Resolução 2758 contradiz os princípios básicos sustentados pela Carta da ONU e deve ser retificada.
A 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que se concentrará no tema “reconstruir a confiança e reacender a solidariedade global”, é oportuna à luz de uma série de grandes desafios globais. Por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU foram concebidos como um projeto compartilhado para paz e prosperidade. No entanto, o relatório de progresso dos ODS mais recente mostrou que apenas 12% das metas dos ODS estavam no caminho certo, enquanto o progresso em 50% permaneceu insuficiente. E em mais de 30%, paramos ou até regredimos.
Embora não haja respostas fáceis, o primeiro passo é o diálogo. Como uma instituição verdadeiramente global, a ONU pode servir como defensora do progresso. Pedimos à ONU que defenda seu princípio de não deixar ninguém para trás, permitindo que Taiwan participe do sistema da ONU, em vez de excluí-la das discussões sobre questões que requerem cooperação global. Um bom primeiro passo seria permitir que indivíduos e jornalistas taiwaneses participassem ou cobrissem reuniões relevantes, bem como garantir a participação significativa de Taiwan em reuniões e mecanismos relacionados aos ODS.
A guerra na Ucrânia provocou um novo senso de união mundial. Com incrível bravura e resiliência inspirou os países ao redor do mundo, fator crucial para resistir à agressão da Rússia e preservar valores universais, como direitos humanos e paz global, de forma mais ampla. É vital conscientizar a China e outros governos autoritários de que serão responsabilizados e exortá-los a resolver as diferenças por meios pacíficos. Permitir que Taiwan participe de forma significativa no sistema da ONU beneficiaria os esforços do mundo para abordar questões globais prementes. Isso também demonstraria a determinação da ONU de se unir pela paz global em um momento crítico quando o futuro do mundo está em jogo.
Somos mais fortes juntos. Agora é a hora de agir de acordo com esse princípio fundamental, incluindo Taiwan.