A AfroChamber – Câmara de Comércio Afro-Brasileira, atua há quase 50 anos na promoção das relações econômicas, de comércio, investimentos e intercâmbio tecnológico com os Países Africanos, Continente com 1,4 bilhão de habitantes.
Em entrevista ao Diplomacia Business, o presidente da AfroChamber, Rui Mucaje, relatou um pouco da história da Câmara, que tem quase cinco décadas de existência, analisou o cenário econômico do mundo em meio à pandemia e falou das possibilidades de estreitamento comercial do Brasil com os países africanos.
Diplomacia Business: Como surgiu a AfroChamber?
Rui Mucaje: A AfroChamber foi fundada em 1972 pelo empresário e deputado federal Adalberto Camargo (in memoriam) numa época em que era quase inexistente o comércio com o Continente Africano e promoveu a primeira Missão Empresarial do Brasil para aquele destino, no ano de 1973.
Desde então tem participado de forma significativa para o êxito das políticas de abertura de mercados e estímulo às exportações, definidas pelos sucessivos governos da República do Brasil, tendo organizado diversas missões comerciais para os países do continente africano, bem como recepcionado diversas autoridades e delegações africanas em visita ao Brasil, algumas das quais em consonância com solicitações emanadas do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Quais são os objetivos da Câmara de Comércio Afro-Brasileira para os próximos anos?
Rui Mucaje: Naturalmente é sempre bom falar do futuro e nós queremos cada vez mais criar oportunidades para os países africanos e buscar novas opções no pós-pandemia. A pandemia de Covid-19 fez com que a gente repensasse muitas coisas. São praticamente dois anos que vivemos nessa nova realidade.
Nosso planejamento é justamente promover cada vez mais os países africanos, em especial, aqueles que estão fora do radar do Brasil, mas que tem boas relações com países de primeiro mundo.
O Brasil, apesar de ser muito bem aceito, ainda não se apresenta muito aos mercados africanos. Naturalmente, também é função da Câmara auxiliar as empresas brasileiras a marcar presença no continente africano.
Como a pandemia afetou as missões comerciais para a África e as feiras, que sempre abrem muitas oportunidades?
Rui Mucaje: Grande parte das feiras e eventos na África são multissetoriais. São eventos que tem um impacto muito grande nas economias dos países e uma forma de receber investimentos e empresas do exterior e são altamente celebrados em África e, naturalmente por conta da pandemia, a grande maioria das feiras africanas não foram realizadas e sim transferidas para o próximo ano.
Muita gente viaja para participar das feiras e a própria Covid-19 tem sido um desafio para o continente africano. Entendemos que a realização das feiras de negócios vai ser total no próximo ano e, na realidade, algo essencial.
Vai ser necessário que a África se reestabeleça e comece a pensar em diminuir a dependência de produtos e serviços que venham do exterior pois está buscando investimentos, não só de capital, mas de recursos humanos, assim como a formação desses recursos. Eu acho que o Brasil pode ser um grande parceiro nessa política, inclusive na realização das feiras. Nós temos grandes empresas que fazem feiras em diversos setores. São eventos que trazem renda para o país. Nós estamos totalmente envolvidos na promoção e criação de novas feiras na África, em parceria com empresas brasileiras.
O Brasil tem mudado um pouco seu foco, diversificando as parcerias. Recentemente buscou uma aproximação com a ASEAN. O que ainda é necessário para estreitar relações comerciais com a África?
Rui Mucaje: Acho muito positivo essa ideia de o Brasil buscar essas aproximações e num primeiro momento, é muito interessante que elas sejam promovidas através de blocos africanos. Os países asiáticos, por exemplo, têm crescido muito, reunindo as maiores populações a nível mundial. Eles também são responsáveis por uma grande parte da produção de bens e serviços do mundo. Naturalmente, pode se usar também esse mesmo desejo de aproximação de intercâmbio com as nações africanas.
A África está aberta para os negócios, para o compartilhamento de experiências. O Brasil tem muitas experiências para gerar resultados econômicos. Sendo assim, não estamos falando de um favor que será feito para o continente africano, mas um trabalho conjunto sendo desenvolvido para promover o crescimento.
Fazer acordos com blocos econômicos e também com cada país individualmente, não ficando com o foco muito direcionado para os países da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que são poucos. É importante visualizar que a maioria dos países africanos são anglófonos ou francófonos, sendo quase inexistente a comunicação em francês no Brasil. Além disso, é bom entender que é perfeitamente possível negociar em inglês com esses países.
O Continente Africano tem 54 países, com realidades distintas. Como o senhor avalia a relação Brasil-África no campo do Comércio Exterior?
Rui Mucaje: Nós trabalhamos em parceria com o continente africano sem nos ater ao número de países que dependendo da Instituição são 54 ou 55.
Quando o empresariado brasileiro pensar na África, precisa entender que são vários países, cada um com suas peculiaridades que precisam ser levadas em consideração. O povo africano é muito do relacionamento, do olho no olho, do aperto de mão. Então o Brasil precisa se apresentar mais na África para construir esse relacionamento.
Há um trabalho desconhecido da comunidade empresarial brasileira que mostra algumas ações que vem sendo tomadas pelo governo brasileiro de aproximação, sobretudo em projetos que permitem a segurança alimentar. Porém, não são ações conhecidas por grande parte da população brasileira. Vale a pena saber que o Brasil é, sim, próximo da África.
A corrente de comércio do Brasil com a África está em torno de 11,6 bilhões. A África importa cerca de 7,9 bilhões do Brasil e exporta por volta de 3,7 bilhões para o Brasil. Entendemos que esse fluxo de negócios poderia ser bem maior. Mas para que isso ocorra é necessário um pouco mais de investimento em pessoas e planejamento, gerando uma política adequada ao continente. Falta um pouco de conversa na direção desse tipo de política e, naturalmente, pelo tempo que temos de trabalho na AfroChamber, podemos gerar muitas dessas oportunidades.
Antes da pandemia eu fui para o Sudão e não vi produtos brasileiros nas prateleiras dos supermercados. Por outro lado, tive a alegria de ver, nesta mesma visita, máquinas e equipamentos do Brasil chegando ao Sudão.
Isso deveria ser intensificado, pois o produto que é fabricado no Brasil é bom e mais acessível para o consumidor africano.
O Estado brasileiro é muito parecido com os Estados da África, com muitas singularidades que precisam ser trabalhadas para que a gente gere mais negócios. A AfroChamber se apresenta como alternativa para uma maior aproximação do empresariado brasileiro com os players africanos.