Recentemente, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) advertiu que, dentro de 30 anos, até 80 milhões de pessoas a mais serão afetadas pela fome devido à mudança climática. E a agricultura é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa. A produção de mais alimentos para uma população cada vez maior prejudica o meio ambiente e o clima.
Durante muito tempo, pensou-se que métodos agrícolas em larga escala poderiam garantir a segurança alimentar de forma mais eficiente. Agora, as monoculturas de alta produtividade são as responsáveis pela destruição do solo. A indústria agroquímica, porém, vê a situação de maneira diferente. Contatado pela Swissinfo, Beat Werder, porta-voz da empresa agroquímica Syngenta, disse que: “Sem produtos fitossanitários, seria necessário cultivar uma área muito maior para atender à demanda de alimentos. As florestas teriam de ser derrubadas e a biodiversidade sofreria.”
Redução da pobreza e a proteção climática
Além disso, se o desenvolvimento for promovido em países desfavorecidos, se essas pessoas forem tiradas da pobreza e adotarem o modo de vida ocidental, as emissões de gases de efeito estufa aumentarão ainda mais.
No entanto, o Ministério das Relações Exteriores da Suíça não quer falar sobre um conflito de interesses entre a redução da pobreza e da fome, por um lado, e a proteção ambiental e climática, por outro. “Pelo contrário, esses objetivos estão estreitamente ligados”, disse um porta-voz do ministério. “Nosso objetivo é trabalhar ambos os aspectos simultaneamente, apesar de sua óbvia complexidade”.
Patrick Dümmler, do think tank Avenir Suisse, também não vê nenhum conflito entre a redução da pobreza e o meio ambiente: “O meio ambiente se beneficia de rendas médias mais altas”. Quando se alcança um certo nível de prosperidade, o desejo por uma natureza intacta aumenta. “As águas suíças ainda eram muito poluídas nos anos 1950. Foi apenas gradualmente que se repensou a situação e se desenvolveram tecnologias para o tratamento de águas residuais”.
“Quando se trata de crescimento econômico em termos de PIB, então sim, há um conflito fundamental”, observa Yvan Schulz da Swissaid. “Mas também é possível ter uma visão mais ampla do desenvolvimento”. Para ele, a agricultura agroecológica pode conciliar ambos os objetivos, já que essa abordagem se baseia em soluções que respeitam o meio ambiente e utilizam tecnologias simples, ao mesmo tempo que leva em conta fatores sociais, como a independência das pequenas famílias de agricultores.
A Syngenta afirma que a agricultura sustentável também é importante para eles. Porém, ao invés da agroecologia liberada do uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, a multinacional prefere focar no que chama de “agricultura regenerativa” (termo usado de forma diferente dependendo dos atores).
A agricultura regenerativa pode transformar a produção de alimentos, um dos principais motores das mudanças climáticas, em uma parte importante da solução, diz Syngenta. “A agricultura regenerativa limita a lavoura e a transforma em um depósito de carbono”, observa Beat Werder. O solo é protegido da erosão por uma cobertura vegetal permanente, mais água pode penetrar em um solo mais saudável e há mais biodiversidade nas bordas dos campos.
* Com informações de SwissInfo
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