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Em entrevista à AFP, Najib Mikati sublinhou que não pode “descartar uma escalada”. “Estou cumprindo o meu dever de evitar que o Líbano entre em guerra”, assegurou.
“O Líbano está no centro da tempestade”, disse referindo-se aos conflitos menores na fronteira sul do país, alimentando preocupações de que o movimento Hezbollah do Líbano, apoiado pelo Irã e um aliado do Hamas, possa abrir uma nova frente com Israel.
Desde o início da guerra, desencadeada pelo ataque sangrento sem precedentes do Hamas em Israel, em 7 de outubro, o Hezbollah pró-iraniano e seus aliados reivindicaram disparos contra Israel a partir do sul do Líbano, alegando querer apoiar o movimento islâmico palestino.
Mikati, que de fato lidera o país sem presidente há um ano, disse que não era capaz de dizer se o Hezbollah, com o qual mantém contatos, quer uma nova guerra com Israel.
“Tudo está ligado aos desenvolvimentos na região”, disse, estimando que, na ausência de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, os riscos de uma “escalada regional” eram grandes.
Os analistas acreditam que uma intensificação da ofensiva israelita na Faixa de Gaza poderia levar o Hezbollah a intervir mais abertamente. Seu líder, Hassan Nasrallah, deverá fazer um discurso pela tevê pela primeira vez desde 7 de outubro na sexta-feira (3).
“Até hoje, vejo que o Hezbollah está agindo com sabedoria e razão”, mas, ao mesmo tempo, “não posso tranquilizar os libaneses”, sublinhou Najib Mikati. Em 2006, Israel e o Hezbollah travaram um conflito sangrento que deixou mais de 1.200 mortos no Líbano, a maioria civis, e 160 em Israel, a maioria soldados.
Caos fronteiriço
O Hezbollah, que possui um arsenal mais poderoso do que o próprio exército do Líbano, até agora limitou-se a atingir a região da fronteira norte com Israel, que contra-atacou.
Os conflitos na fronteira Líbano-Israel mataram pelo menos 62 pessoas no lado libanês, de acordo com uma contagem da AFP, a maioria combatentes do Hezbollah, mas também quatro civis, incluindo o jornalista da Reuters Issam Abdallah. Já autoridades israelenses relataram quatro mortes, incluindo um civil.
Mikati disse que qualquer escalada poderia estender-se para além do Líbano. “Não posso descartar uma escalada porque há uma corrida para chegar a um cessar-fogo antes que a escalada se espalhe por toda a região”, disse Mikati. “Temo que o caos possa engolir todo o Oriente Médio”, disse também.
O Hezbollah e facções palestinas aliadas no Líbano trocaram tiros com Israel quase diariamente nas últimas três semanas. Grupos apoiados ou afiliados ao Irã também lançaram ataques contra Israel a partir da Síria e tiveram como alvo as forças dos EUA estacionadas no Iraque e na Síria.
O Líbano testemunhou uma onda de atividade diplomática no início da escalada, com altos funcionários visitando o país. Mikati também fez uma viagem oficial no domingo ao Qatar – que está mediando os esforços de paz na guerra Hamas-Israel.
O Catar desempenha “um importante papel de mediação”, disse Mikati à AFP. “A mediação quase teve sucesso na sexta-feira passada, mas foi interrompida quando os israelitas iniciaram operações terrestres em Gaza”, disse ele.
Libaneses cansados de guerras
O Líbano, sem dinheiro, enfrenta a possibilidade de uma guerra sem ter liderança, uma vez que as divisões políticas deixaram o país sem presidente durante um ano. Enquanto Mikati chefia um gabinete interino durante cerca de um ano e meio com poderes limitados, instou os legisladores libaneses a “elegerem um presidente o mais rápido possível”. Membros do parlamento divididos falharam 12 vezes na eleição de um presidente durante o ano passado.
“Os libaneses estão cansados do conflito, não querem entrar em nenhuma guerra e querem estabilidade”, disse Mikati, num país que teve uma guerra civil de 1975-1990, viveu 22 anos de ocupação israelita e novamente uma guerra em 2006 com Israel.
Apesar da relativa calma nos últimos anos, no final de 2019 o país mergulhou numa crise econômica sem precedentes, empurrando a maior parte da população para a pobreza.
(Com informações da AFP)