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Por Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas
Quando foi reeleita para o cargo mais cobiçado da União Europeia, Ursula von der Leyen, que vai comandar a Comissão Europeia até 2029, pediu que a paridade entre homens e mulheres no executivo do bloco fosse respeitada. Nesta sexta-feira, 30, termina o prazo para os 27 países da UE indicarem os nomes que irão compor o próximo colégio de comissários europeus, e pelo o que tudo indica, o equilíbrio de gênero não será uma realidade. Apenas 30% dos cargos serão ocupados por mulheres. De certa maneira, a falta de um executivo paritário representa uma derrota para Von der Leyen, além de indicar enfraquecimento de sua autoridade em relação aos líderes da União Europeia.
Especialistas atribuem as escolhas à política interna e às manobras táticas, onde interesses nacionais se sobrepõem aos interesses comunitários. De fato, é um retrocesso em relação à atual Comissão, composta por 12 mulheres e 15 homens. Pelo visto, a nova Comissão Europeia, que assume em dezembro próximo, terá apenas 7 mulheres – representando a Alemanha, Estônia, Finlândia, Suécia, Espanha, Portugal e Croácia – e 17 homens. Itália, Bélgica e Bulgária ainda não indicaram seus comissários.
Uma equipe de altos funcionários dominada por homens será “um revés embaraçoso para a estratégia de igualdade de gênero da União Europeia, que em 2020, apelou a um equilíbrio de gênero de 50% em todos os níveis de gestão no executivo do bloco”, lembrou o jornal britânico The Guardian. Antes de assumir os postos, os comissários serão submetidos a sabatinas, e alguns nomes indicados podem até ser rejeitados. O novo colégio de comissários precisa também ser aprovado pelo Parlamento Europeu.
A disputa pelos cargos
A futura Comissão Europeia deve ser dominada pelos conservadores do Partido Popular Europeu (PPE), vencedor das eleições e que deve abocanhar 15 pastas, incluindo a presidência da casa. Os governos da União Europeia já começaram a negociar os cargos, na esperança de garantir uma posição importante para seus candidatos. As pastas mais disputadas – nas áreas de concorrência, comércio, indústria e política econômica – devem ser preenchidas por quem tiver uma boa relação com a presidente do executivo do bloco, Ursula von der Leyen.
Recentemente, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou que seu país deve ser reconhecido e receber as pastas da indústria, competitividade e coesão. O premiê tcheco, Petr Fiala, declarou querer “uma posição forte, de preferência na área econômica”. Outros pesos pesados do PPE – como a Polônia e a Grécia – também esperam ocupar cargos importantes em troca do apoio dado à candidatura de Von der Leyen.
Outra carteira bastante disputada é a do alargamento, que visa preparar a adesão de dez países candidatos – Albânia, Bósnia, Geórgia, Kosovo, Macedônia do Norte, Moldávia, Montenegro, Sérvia, Turquia e Ucrânia – e definir as reformas internas da UE que terão que ser implementadas nos próximos anos.
Perspectivas para o acordo UE-Mercosul
Não menos importante é o portfólio agrícola e o novo comissário da Agricultura do bloco deve pertencer ao Partido Popular Europeu, que se autodenominou “partido dos agricultores”, na campanha para as eleições europeias. Nos últimos cinco anos, a pasta esteve nas mãos de um comissário polonês. Segundo a tradição, ela agora deveria ser atribuída a um país “pequeno”. Portugal, Áustria ou Croácia estão entre os favoritos.
O novo comando da área agrícola na Comissão Europeia, que inclui as negociações UE-Mercosul, é crucial para o Brasil. Depois de 25 anos de discussões, o acordo de livre comércio entre os dois blocos foi mais uma vez adiado em 2023, sendo objeto de tensões diplomáticas, em particular entre a França e o Brasil. Para o governo brasileiro, existe a possibilidade de um desfecho positivo, mas apenas um acordo equilibrado interessa ao país.