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Por Eva Pedersen – Embaixadora da Dinamarca no Brasil
Johanna Karanko – Embaixadora da Finlândia no Brasil
Karin Wallensteen – Embaixadora da Suécia no Brasil
Odd Rudd – Embaixador da Noruega no Brasil
Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Uma data para celebrar as conquistas, mas também para lembrar do caminho que ainda temos pela frente. Como líderes de entidades públicas e como embaixadores representantes dos países nórdicos, sentimos uma obrigação especial de mostrar para mulheres e meninas que assumir a liderança é possível – e deveria ser muito mais comum do que o é na atualidade. Mas, para facilitar mudanças, precisamos entender por que as mulheres, que em muitos países são líderes em índices de formação universitária há anos, continuam sub-representadas nos papéis de liderança da sociedade.
A falta de representatividade se torna um desafio para as meninas e mulheres que não veem referências em cargos de liderança. O desafio existe em nível global, e a diplomacia não é exceção: de aproximadamente 130 embaixadores estrangeiros atuando em Brasília, apenas 25 são mulheres. Ou seja, menos de 20%. Precisamos dar mais visibilidade sobre as lideranças femininas que já existem.
Em outubro de 2022, convidamos quatro estudantes de uma escola pública de Brasília para tomar nossos assentos como chefes de missão por um dia. Somos três mulheres embaixadoras e um embaixador e, para todos nós, foi uma experiência maravilhosa poder inspirar e incentivar jovens mulheres a se tornarem líderes. Esse é só um exemplo do que pode ser feito. A necessidade de incentivar mulheres e de promover mais visibilidade sobre os exemplos existentes de liderança feminina é urgente e fundamental.
Felizmente, existem cada vez mais mulheres em posições de liderança e o Brasil não é exceção. A nomeação da embaixadora Maria Laura da Rocha como primeira mulher a ser diretora-geral do Itamaraty no Brasil foi uma notícia recebida com entusiasmo no mundo diplomático. Também é uma alegria ver o número de ministras aumentar e ver o enfoque, por parte do Governo Federal, na diversidade, incluindo e fortalecendo a pauta da igualdade de gêneros.
Nós acreditamos que o governo pode mostrar o caminho. A Suécia foi o primeiro país do mundo a ter um governo equilibrado em termos de gênero, em 1994. No mundo dos negócios, é gratificante ver mulheres como Rachel Maia, que após uma longa experiência como CEO de marcas como a Pandora e Lacoste, hoje atua como assessora em conselhos como o da Vale e o do Banco do Brasil. A presença de mulheres como a Rachel Maia é boa para as empresas e boa para a sociedade.
A lista de executivas brasileiras de sucesso está crescendo, Mas ainda estamos ainda longe de um equilíbrio. De acordo com pesquisa realizada pela consultoria organizacional Deloitte em 2022, só 10,4% dos cargos em conselhos de administração das grandes companhias brasileiras são ocupados por mulheres. Em nível global, o número é de 20% – porcentagem melhor, mas que ainda deixa muito a desejar. Para mudar esse cenário, alguns países nórdicos têm implementado políticas em prol de uma maior participação da mulher no topo das empresas.
Ainda de acordo com levantamento feito pela Deloitte, as mulheres são cerca de 42% dos integrantes de conselhos de administração norueguês – o número mais alto registrado na pesquisa. Vale destacar que o país foi pioneiro, 20 anos atrás, em impor quota obrigatória de 40% de mulheres nos conselhos de administração de empresas listadas na bolsa de valores. Claro que existem diferentes abordagens para resolver o problema, mas precisamos debater como aumentar, de forma eficiente, a participação das mulheres na liderança, seja no setor privado ou no setor público.
Outro desafio importante é a exaustiva dupla jornada, sobretudo das mulheres que vivem em uma estrutura familiar com crianças. Em muitos países, a mulher continua trabalhando mais em casa do que o homem. Sem abordar o desafio do trabalho de cuidado doméstico, é difícil criar um espaço real para que mulheres desenvolvam uma carreira que inclua responsabilidades de liderança. De fato, estudos mostram que muitas mulheres deixam o mercado de trabalho poucos anos após retornar da licença maternidade por não conseguirem dar conta da sobrecarga de trabalho formal e doméstico.
O que fazer? Precisamos de políticas públicas e incentivos que ajudem a criar espaços de organização mais equilibrados para as famílias. Nos países nórdicos, a licença parental é dividida entre a mãe e o pai de forma mais igualitária do que antes, quando o homem comumente tirava poucas semanas. Desde outubro do ano passado, a licença parental na Finlândia é de 320 dias úteis, ou seja, quase 14 meses. Cada um dos cuidadores tem direito à licença parental equivalente a 160 dias úteis, sendo possível oferecer um máximo de 63 dias da licença para o outro.
No Brasil, o Grupo Boticário, em 2021, estabeleceu uma licença parental universal, que concede aos homens 120 dias de licença. Com políticas assim, quebra-se o estigma de que a mulher custa mais caro por ter licenças mais longas. Também ajuda a romper com os estereótipos, segundo os quais a mulher é a cuidadora e o homem o provedor da família. A licença paterna tem outra grande vantagem: os homens podem acompanhar de perto o desenvolvimento de seus filhos. Muitos homens que aproveitam a oportunidade dizem sentir-se mais conectados às crianças e mais realizados nas suas vidas afetivas.
Uma mudança fácil de implementar para equilibrar as responsabilidades em casa tem a ver com a comunicação externa com famílias. Na Dinamarca, a informação sobre a criança – por exemplo da escola, do dentista ou do médico – muitas vezes só era enviada para a mãe.
Como resultado, era a mãe que acabava lidando com questões práticas relacionadas às crianças, enquanto o pai ficava mais afastado. A partir de 2021, mudou-se esta abordagem por meio de uma lei que obriga os entes públicos a dirigir qualquer informação sobre as crianças a ambos os pais, estimulando uma melhor divisão de trabalho, assim como uma participação mais ativa por parte do pai na vida dos filhos.
Um terceiro desafio, e talvez o mais difícil de abordar de forma sistemática, são os chamados vieses inconscientes – que incluem a associação automática do gênero masculino com cargos de liderança em várias áreas profissionais. Os vieses podem prejudicar a mulher líder de várias maneiras. Helle Thorning-Schmidt, primeira-ministra da Dinamarca entre 2011 e 2015, relata como treinou sua voz para parecer ser mais grave e como se vestiu de forma mais conservadora para evitar comentários negativos sobre seu estilo.
Os vieses inconscientes também têm uma influência negativa na hora de recrutar pessoas ou promovê-las. Por isso, é muito positivo ver a ONU Mulher e iniciativas brasileiras, como o Movimento Mulher 360, trabalharem no combate aos vieses inconscientes. Tratam-se de comportamentos complexos, portanto, difíceis de regular. Mas as empresas líderes, comprometidas com essa agenda, têm o poder de inspirar mudanças.
Por último, mas não menos importante, não podemos esquecer a relevância do engajamento dos homens para atingirmos a igualdade entre os gêneros, e promover mais mulheres na liderança. A igualdade entre gêneros é um desafio para todos nós que aspiramos a uma sociedade mais rica, próspera e justa.
Como chefes de missão das embaixadas nórdicas, a liderança de mulheres é uma pauta para a qual damos prioridade. Estamos sempre à disposição para contribuir com este debate no Brasil, com exemplos da nossa região – e nos deixar inspirar pelas mulheres líderes do Brasil, e pelas promissoras iniciativas públicas e privadas brasileiras na área.