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A Câmara de Comércio Eslovênia-Brasil – Slobraz – foi fundada em São Paulo, em 2015. A iniciativa do Escritório Comercial da Embaixada da República da Eslovênia uniu um grupo de especialistas com experiência empresarial, acadêmica e diplomática, que até então promoviam a cooperação econômica entre Brasil e Eslovênia de forma não integrada.
A Slobraz tem como objetivos fomentar e incentivar o intercâmbio comercial bilateral, facilitar os contatos e troca de informações entre empresas brasileiras e eslovenas, além de estabelecer relações com potenciais parceiros de negócio de direito público ou privado.
Falando ao Diplomacia Business numa entrevista exclusiva, o presidente da Slobraz, Matjaž Cokan, relata um pouco da história do país e como ele se tornou o terceiro país mais industrializado da Europa em apenas três décadas. Também destaca que existem boas oportunidades para o exportador brasileiro que deseja fazer negócios com o país europeu.
Confira na íntegra.
Diplomacia Business: A Eslovênia moderna é um país jovem, surgido em 1991 com o fim da União Soviética. Mesmo assim, teve uma ascensão meteórica no seu desenvolvimento. Como isso ocorreu?
Matjaž Cokan: A Eslovênia foi a primeira das repúblicas que declarou a sua independência da República Socialista Federativa da Jugoslávia em 1991, mas o país nunca fez parte da União Soviética ou Pacto de Varsóvia. Era único país socialista na Europa que não fazia parte do bloco, portanto já na época a nossa economia era mais liberal. Como um país independente, só tem 31 anos, mas ao longo de sua história já fez parte do Império Romano, Império Austro-Húngaro, Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, e por último da Iugoslávia até 1991. Dentro da federação a Eslovênia era a mais desenvolvida economicamente e a mais industrializada, mas o fim da Iugoslávia e conflito na região causaram a queda de produção industrial, do turismo e do comércio. A Eslovênia precisava se reorganizar rápido e achar novos mercados para recuperar a economia. Eu me lembro que na época a energia coletiva da população foi muito positiva, com muito orgulho e engajamento de construir algo novo. A partir da segunda metade dos anos 90, a situação começou a melhorar. Em 2004 a Eslovênia entrou na União Europeia, e desde 2007 faz parte da união monetária do Euro.
Como o senhor vê as relações bilaterais com o Brasil?
Brasil foi um dos primeiros países de reconhecer a Eslovênia como um estado soberano. Isso foi em janeiro 1992 e para Eslovênia um reconhecimento muito importante naqueles tempos tensos e inseguros. Esse reconhecimento também é resultado do engajamento da comunidade eslovena que está no Brasil há mais de 120 anos. Ano passado na comemoração de 30 anos de independência nos lembramos de todos que criaram história naquele momento. Muitas histórias são pouco conhecidas, pois aconteceram no “backstage”, mas é importante que nos lembramos e reconhecemos de todos os que ajudaram criar o nosso futuro. No final, quem faz as relações bilaterais são as pessoas.
A Eslovênia é o terceiro país mais industrializado da Europa e 60% das exportações do país estão relacionadas a serviços. Como está a balança comercial com o Brasil atualmente, sendo que ainda é pequena em relação a outros países europeus?
Brasil está no primeiro lugar de parceiros comerciais da América Latina. Por outro lado, é um mercado cujo potencial ainda não foi totalmente descoberto pelas empresas eslovenas. O saldo acumulado corrente da balança comercial de 2022 entre os dois países é um pouco acima de 400 milhões de dólares. Um crescimento de 28% comparando com mesmo período do ano passado. Os principais produtos importados do Brasil para a Eslovênia são resíduos de soja, celulose e resíduos de papel, derivados de petróleo, café, ferro e aço. Primeiros da lista da exportação eslovena para Brasil são farmacêuticos e produtos manufaturados com valor agregado.
Como a União Europeia representa 77% de todas as exportações da Eslovênia, isso é um bom sinal que comercio esloveno está buscando oportunidades e fortalecendo relacionamentos com novos mercados. Ainda tem muito espaço para crescimento de dois lados. Eu vejo as oportunidades em parcerias na área de tecnologia da informação, cooperação no setor de turismo, venda de produtos de nicho com valor agregado e logística, tendo o porto de Koper como principal entrada para mercado da Europa Central e Leste Europeu.
Qual o papel da SloBraz nessa aproximação e geração de novos negócios?
Nosso principal objetivo é contribuir com o crescimento dos negócios bilaterais. Queremos encorajar empreendedores dos dois lados para tirar as barreiras da distância da cabeça. Hoje, no mundo globalizado e digitalizado, a distância não pode ser mais a desculpa. Claro que cada país tem suas regras e particularidades e antes de fazer negócio cada empresa precisa fazer seu dever de casa.
Muitas empresas estrangeiras, por exemplo, ficam assustadas de fazer negócios no Brasil, principalmente quando se fala da parte tributária e fiscal. Precisa um pouco mais de paciência e tempo para planejamento. Brasil é um país continental e é muito importante achar o modelo certo para seu negócio. Com nosso conhecimento do mercado e networking a Slobraz pode ajudar nesses primeiros passos.
Quais os atrativos para as empresas brasileiras que desejam conhecer mais do país e gerar essa aproximação?
A Eslovênia oferece boas oportunidades para o exportador brasileiro, principalmente aquele interessado em entrar no mercado da Europa Central e Sudeste. A posição geográfica da Eslovênia e as redes locais de distribuição facilitam distribuição de produtos na região. Já mencionei o porto de Koper, o qual é estrategicamente localizado no Mar Adriático e atualmente movimenta uma média de 2,5 milhões de toneladas ano de produtos brasileiros, especialmente soja e café. Esse volume pode ser expandido consideravelmente porque o porto representa uma alternativa aos portos altamente congestionados do norte da Europa. Por exemplo, a multinacional Hisense, uma das maiores fabricantes de TV no mundo escolheu a Eslovênia como sede de produção e operações para toda Europa. A Slobraz através do seu networking pode oferecer apoio para empresas brasileiras que desejam gerar mais negócios com a Eslovênia.