O comércio bilateral entre o Brasil e a Eslovênia cresceu mais de 28% no ano passado (comparando-se com 2019 e 2020) e está, novamente, atingindo um número recorde. “A maior parte do valor total de comércio (aproximadamente 300 milhões de euros) consiste nas exportações do Brasil para a Eslovênia (soja e derivados)”, explica o embaixador da Eslovênia no Brasil, Gorazd Renčelj.
De acordo com o embaixador, as exportações da Eslovênia para o Brasil também estão crescendo. “Os produtos farmacêuticos e manufaturados estão no topo da lista de nossas exportações para o Brasil”, comenta. Segundo Gorazd Renčelj, a Eslovênia tem apresentado planos ambiciosos para a transição verde e digital da economia, parte do amplo esforço de toda a União Europeia em tornar essas economias mais sustentáveis e para melhor utilizar as oportunidades da era digital.
“Apesar de que no momento, toda a atenção está focada nos impactos da guerra, essa transição é uma orientação estratégica de longo prazo, da Eslovênia e da Europa, e uma estrutura, na qual nossa parceria estratégica com o Brasil pode ser significativamente fortalecida”, comenta o diplomata. Ele fala também sobre a data nacional da Eslovênia e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Veja a entrevista exclusiva do embaixador Gorazd Renčelj ao Diplomacia Business.
Como serão feitas as comemorações da Data Nacional da Eslovênia?
Embaixador da Eslovênia no Brasil, Gorazd Renčelj – Eu acho que o mais importante é que nosso povo, incluindo os descendentes de eslovenos no Brasil, estejam todos juntos nessas celebrações. Nesse sentido, tivemos uma experiência fantástica em junho do ano passado, quando a Eslovênia celebrou 30 anos de independência. Os eslovenos e amigos da Eslovênia de todo o Brasil fizeram um grande espetáculo – o Cristo Redentor no Rio, os bancos da FIESP na Avenida Paulista, a Biblioteca Nacional aqui em Brasília, o estádio Mineirão em Belo Horizonte, assim como outros marcos turísticos que brilharam nas cores da bandeira eslovena.
Este ano estamos planejando algo bastante especial. Convidaremos os amigos da Eslovênia, diplomatas e outros convidados para celebrar conosco nas premissas da embaixada em Brasília. Temos trabalhado bastante nos últimos meses para podermos inaugurar essas novas premissas, um pedaço da Eslovênia na linda cidade de Brasília, em 2022, que marca 30 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Eslovênia e o Brasil.
Não posso deixar de mencionar que a celebração de nossa independência este ano acontece em um momento historicamente difícil na Europa. Enquanto os eslovenos e outras nações amorosas se mantém firme na solidariedade com o povo da Ucrânia, as memórias de nossa luta pela liberdade e independência. Nós estamos enfrentando um ataque de um agressor muito maior em tamanho e números. Defendemos nossos países recém criados e a independência prevalece acima de tudo.
Como está a cooperação econômica entre a Eslovênia e o Brasil?
Embaixador Gorazd Renčelj – O Brasil é o parceiro comercial da América do Sul mais importante da Eslovênia. Estamos muito satisfeitos com os números de comércio alcançados em 2021, que confirmam que nosso fluxo de comércio se encontra firme rumo a recuperação. O comércio bilateral cresceu mais de 28% no ano passado (comparado com 2019 e 2020) e está, novamente, atingindo um número recorde do período pré-pandemia.
A maior parte do valor total de comércio (aproximadamente 300 milhões de euros) consiste nas exportações do Brasil à Eslovênia (soja e derivados), no entanto, as exportações da Eslovênia para o Brasil estão crescendo similarmente (28%). Os produtos farmacêuticos e manufaturados estão no topo da lista de nossas exportações para o Brasil.
O comércio em serviços se mantém modesto, porém as tendências são positivas. Isso inclui turismo, onde os brasileiros estão no topo do aumento de visitantes estrangeiros na Eslovênia em 2021 (um aumento de 20% comparado com 2019).
Celebramos, recentemente, um novo marco nas relações econômicas bilaterais – uma fábrica da empresa brasileira DFA foi inaugurada em Anápolis, Goiás, em uma parceria de transferência tecnológica com a empresa Eslovena Arex. Este é um ótimo exemplo da abertura da economia brasileira, especialmente desde que lançou uma nova parceria com a empresa sediada no exterior em um setor de defesa sensível.
As perspectivas de fortalecimento dos vínculos econômicos e empresariais entre nossos países são animadoras e também por conta das novas oportunidades que nasceram da adesão do Brasil à OCDE e do Acordo de Associação EU-Mercosul, o qual a Eslovênia apoia firmemente.
A economia do futuro é uma preocupação de pesquisadores, cientistas e governantes. Como o sr. analisa essa questão: a economia do futuro no mundo e na Eslovênia?
Embaixador Gorazd Renčelj – Estamos em um momento muito difícil. Assim que o mundo e nossas economias estavam se recuperando da pandemia, eclodiu uma guerra. Qualquer guerra, mas, particularmente, uma guerra entre duas grandes nações fornecedoras de “commodities” e bens estratégicos, traz rupturas significativas e tangentes para a economia global.
É importante enfatizar que isso é a raiz da crise atual – e não, como é enganosamente representada, as sanções contra o agressor. As sanções, na verdade, têm o objetivo oposto – exercer pressão de forma que faça o agressor encerrar a guerra. O fim do conflito armado é pré-requisito para que nossas vidas econômicas voltem ao normal.
A Eslovênia, assim como outros países, sofreu por conta da pandemia e sentiu as consequências da guerra na Ucrânia. Contudo, relativamente falando, resistimos bem à tempestade – O “the economist”, por exemplo, colocou recentemente a Eslovênia entre os países que melhor lidaram com a pandemia. Nossa economia se recuperou com um crescimento de 8,1% do PIB no ano de 2021, temos no momento, historicamente, a menor taxa de desemprego e nossas finanças públicas estão em um estado saudável.
A Eslovênia tem apresentado planos ambiciosos para a transição verde e digital da economia, parte do amplo esforço de toda a União Europeia em tornar nossas economias mais sustentáveis e para melhor utilizar as oportunidades da era digital. Apesar de que, no momento, toda a atenção está focada nos impactos da guerra. Essa transição é uma orientação estratégica de longo prazo, da Eslovênia e da Europa, e uma estrutura na qual nossa parceria estratégica com o Brasil pode ser significativamente fortalecida.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem trazido consequências diretas para os países europeus? De que forma, a Eslovênia tem lidado com essa guerra? A Eslovênia tem abrigado refugiados ucranianos e também dado apoio humanitário à Ucrânia?
Embaixador Gorazd Renčelj – Primeiramente, é relevante enfatizar que a agressão russa e a guerra na Ucrânia trazem consequências inevitáveis para toda a comunidade internacional, não apenas a Europa. Em uma situação em que um membro do Conselho de Segurança da ONU age como um agressor, violando claramente a lei internacional, toda a ordem internacional está sendo desafiada.
Dito isto, as implicações são, sem dúvidas, imediatas para a Europa, nossos países e nosso povo. Uma breve olhada no mapa diz tudo – a Eslovênia, por exemplo, está a um país (Hungria) de distância da Ucrânia. Compartilhamos parte da nossa história, assim como parte de nossa identidade cultural com o povo ucraniano. Quando vemos a Ucrânia sob ataque, entendemos perfeitamente que nossos valores, nosso caminho de vida está sendo brutalmente atacados.
Acho que isso levou a essa solidariedade do povo europeu, não só daqueles que fazem fronteira com a Ucrânia, mas também a Eslovênia e outros a reagir com determinação e compaixão. A Eslovênia doou cerca de um milhão de euros de assistência à Ucrânia, e recebemos mais de 6.000 ucranianos até o momento. Número que ainda está crescendo. O Estado e a sociedade civil, organizações de caridade e muitos indivíduos estão estendendo ajuda.