
No entanto Carvalho destaca que os recursos não são muito fartos e que “talvez já tenham sido empenhados no período recente”. Segundo ele, uma forma de ampliar os recursos seria incluir mais membros no agrupamento.
O poder de barganha e negociação do Brasil é importante, desde que o país tenha políticas claras ligadas ao nosso próprio desenvolvimento e autonomia”, indicou.
“O Brasil deve avaliar se apoia com mais ênfase as propostas de ampliação do grupo, com entrada de países associados e também de novos membros plenos, algo que é mais complexo, dadas as peculiaridades desse arranjo singular que funciona há mais de dez anos e desde então só admitiu um sócio novo, a África do Sul. Entre os candidatos vale notar que há países com grandes reservas cambiais e em busca de novos caminhos na diplomacia internacional, caso em especial da Arábia Saudita”, afirmou o especialista.
Carvalho aponta que a China é “a grande fonte de recursos”, principalmente em infraestrutura, lembrando que Pequim já tem investido na América Latina. “Certamente está interessada em avançar nas relações com o Brasil”, acredita.
Além disso, o professor avalia novo potencial de parcerias com Índia e Rússia, dois países que voltaram a se aproximar após o início da operação militar russa na Ucrânia. De acordo com o especialista, ambos os países “têm setores de alta tecnologia muito relevantes e interesses grandes no Brasil”.
“A Rússia tem a indústria militar e investe muito no seu agronegócio. A Índia tem importante setor de tecnologia de informação e de fármacos. Com os dois países, e também com a China, o Brasil pode e deve desenvolver projetos que atraiam investimentos em áreas de fronteira tecnológica que favoreçam o aprendizado e as parcerias com as empresas brasileiras”, disse Carvalho.
O professor ressalta ainda que a Índia enfrenta o desafio de avançar em parcerias que gerem mais segurança “frente ao peso crescente da China” e que a Rússia pretende explorar relações que “escapem do cerco pelos Estados Unidos”.
“O poder de barganha e negociação do Brasil é importante, desde que o país tenha políticas claras ligadas ao nosso próprio desenvolvimento e autonomia”, indicou.
‘Brasil pode fortalecer BRICS seguindo seus próprios interesses’
Carvalho afirma que os membros do BRICS mantêm a liberdade na defesa de seus interesses particulares e que o grupo só se manifesta de forma clara em pautas consideradas unânimes ou que não incomodem nenhum deles.
“É o caso do requerimento de Brasil e Índia para serem membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]”, cita o professor. “O Brasil pode fortalecer o BRICS seguindo seus próprios interesses e procurando estabelecer cooperação com os demais membros.”
Para além do BRICS, o especialista diz que o Brasil tem espaço para relacionamento com instituições como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Segundo ele, o peso geopolítico e geoeconômico do Brasil se ampliou com a instabilidade internacional e os conflitos entre EUA e seus agora dois inimigos a combater e cercar, China e Rússia. O especialista avalia que atualmente o país atrai muito interesse também devido a pautas ecológicas e ameaças climáticas.
“Nossas dificuldades são internas, vale citar duas: dificuldades para elaborar projetos consistentes e convincentes, pois temos uma tradição de projetos mal elaborados, que acabam parados ou atrasados, com orçamentos inconsistentes; e temos demonstrado grande dificuldade para propor projetos de atração de ajuda e investimento que se articulem com projetos de desenvolvimento de nosso interesse”, afirma, acrescentando que há grande disponibilidade de recursos de investidores privados em busca de negócios rentáveis.
*Publicado originalmente em Sputnik.
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