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Por Share America.
Quando Queen foi a um centro de saúde em Chingola, na Zâmbia, para relatar que havia sido estuprada, ela recebeu atendimento médico e aconselhamento, mas também uma notícia desoladora. Exames laboratoriais mostraram que ela era portadora do vírus HIV.
Globalmente, mulheres que sofrem violência de gênero (VDG) têm 1,5 vez mais chances de contrair o HIV, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. “Fiquei arrasada”, diz Queen, falando por meio de um intérprete. “Eu já tinha o problema de ter sido estuprada. Era como se eu tivesse dois grandes problemas.” Mas ela recebeu medicamento antirretroviral (ARV) a fim de se manter saudável e poder continuar a sustentar seus filhos, e seu caso foi relatado à polícia.
Queen, que usou apenas seu primeiro nome para este artigo e não está na foto, agradece o atendimento que recebeu no One Stop Centre (Centro de Atendimento Único, em tradução livre) para VDG ao leste de Kabundi. De fato, isso reacendeu um sonho profissional. Hoje ela cria galinhas, mas espera ingressar no que chama de “nobre profissão” de enfermagem, “porque você ajuda as pessoas de maneira
Kasolo ensina habilidades de cursos de formação financiados pela Usaid a profissionais de saúde (Cortesia: Centro de Parada Única de VBG em Chingola)
Os profissionais de saúde que cuidaram de Queen estão entre os milhares capacitados na Zâmbia — com o apoio do governo dos EUA — a fim de identificar e responder à violência de gênero. O apoio da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) que visa a formação de profissionais de saúde na Zâmbia é feito por meio do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para Combate à Aids (Pepfar) *, um programa que salvou mais de 25 milhões de vidas desde 2003.
Bernard Kasolo, coordenador do One Stop Centre para VDG ao leste de Kabundi, afirma que as mulheres que enfrentam violência muitas vezes não conseguem se proteger da infecção e têm menos probabilidade de tomar o medicamento ARV que as mantém saudáveis, além de reduzir o risco de transmissão se tiverem HIV.
A Zâmbia tem uma das maiores taxas de infecção por HIV (11%) do mundo. E as mulheres zambianas correm um risco maior, com uma taxa de infecção por HIV de quase 14%, em comparação com 8% para os homens. A Zâmbia também é uma das 16 nações do sul da África onde uma pesquisa realizada em 2022 constatou que um terço das mulheres relatou ter sofrido violência por parte do parceiro íntimo no último ano.
Kasolo diz que a violência de gênero em Chingola é causada por homens jovens — alguns recentemente libertados da prisão — que vêm para a província de Copperbelt, na Zâmbia, para trabalhar em operações de mineração ilegal. As normas sociais nas comunidades próximas levam alguns a ver a violência de gênero “como uma daquelas coisas” e acabam não a denunciando à polícia, apesar das leis rigorosas que impedem que ocorram.
Programas apoiados pela Usaid * ajudaram a capacitar 3 mil profissionais de saúde da Zâmbia, incluindo Kasolo, bem como clérigos, professores e outros membros da comunidade visando identificar as vítimas e responder com cuidado. Eles fornecem aconselhamento aos sobreviventes e os encaminham para tratamento médico. (As clínicas na Zâmbia fornecem medicamentos ARV que reduzem o risco de transmissão do HIV).
Profissionais de saúde e líderes comunitários também denunciam agressores às autoridades para que sejam processados. O encaminhamento de agressores violentos à polícia impede futuros abusos.
Kasolo afirma que todos esses esforços estão funcionando. Há uma década, muitos sobreviventes da violência de gênero testavam positivo para o HIV. Agora, os testes positivos são raros.
“As incidências de HIV em Copperbelt estão diminuindo”, diz Kasolo, observando que a clínica garante que as pessoas fiquem a par de seu estado de saúde e tenham acesso a medicamentos. “É muito diferente de como era há uma década.”
A clínica conta com a ajuda de sobreviventes de violência de gênero, como Queen, com o intuito de lidar com normas sociais prejudiciais. Como alguém que vive na comunidade local e fala Bemba, as palavras de Queen terão ressonância. “Quando ela disser: ‘essa é uma prática ruim’, eles ouvirão”, garante Kasolo.
Queen espera que o trabalho com a clínica evite que outras mulheres sofram violência e a coloque no caminho de seu sonho de se tornar enfermeira. “Sou grata à clínica”, disse Queen, acrescentando que, sabendo de sua situação, ela pode “tomar medicamentos para melhorar minha saúde”.
Fonte: Share America.