Há aproximadamente 90 adidos e adjuntos militares em Brasília. Eles e suas famílias estão ligados à AAMAB. A quantidade de adidos por nação tem a ver com o nível de integração, cooperação e reciprocidade entre os países. O coronel Carlos Sanmillán, adido militar da Argentina no Brasil, preside a AAMAB.
Segundo o coronel Carlos Sanmillán, para ser adido é preciso ser oficial das Forças Armadas, normalmente com mais de 30 anos de serviço, com conhecimento da história e idioma do país de acreditação, respeitoso com as culturas de outras nações. “Além de sua experiência como soldado, ter demonstrado ética profissional “, explica o presidente da AAMAB, em entrevista ao Diplomacia Business.
Segundo ele, os requisitos de honestidade, diligência, probidade administrativa e profissionalismo são parte específica das responsabilidades do adido e relacionam-se com os poderes conferidos pela função ou cargo.
“Para o adido militar, a excelência moral é um requisito imperativo, pois se tornará um exemplo que resultará na generalização para o país no exterior, seus compatriotas e colegas”, comenta. Veja a entrevista completa:
Diplomacia Business – O que é preciso para ser um adido militar, em termos de formação e de comportamento, ética, etc?
Coronel Carlos Sanmillán, presidente da Associação de Adidos Militares Acreditados em Brasil (AAMAB) – Ser oficial das Forças Armadas, normalmente com mais de 30 anos de serviço, com conhecimento da história e idioma do país de acreditação, respeitoso com as culturas de outras nações. Além de sua experiência como soldado, ter demonstrado ética profissional. Assim, os requisitos de honestidade, diligência, probidade administrativa e profissionalismo configuram-se como parte específica das responsabilidades do adido e relacionam-se com os poderes conferidos pela função ou cargo.
Para o adido militar, a excelência moral é um requisito imperativo, pois se tornará um exemplo que resultará na generalização para o país no exterior, seus compatriotas e colegas. Outras qualidades que devem ser possuídas estão relacionadas às habilidades interpessoais e sociais, como empatia, comunicação verbal e não verbal, inteligência emocional, habilidade de negociação, persuasão e influência, gestão e resolução de conflitos, resolução de problemas e tomada de decisão. Mas, sem dúvida, a autoridade moral é a qualidade mais necessária em um adido militar.
Quanto tempo um militar pode ficar adido no seu país e fora dele?
Coronel Carlos Sanmillán – Varia de acordo com o país de residência, em geral são de dois a três anos.
Quais as principais funções de um adido militar?
Coronel Carlos Sanmillán – Sendo a diplomacia o instrumento pacífico da política externa de um Estado, que atua por natureza num campo de ação multifacetado e plural, típico da política internacional, onde o ambiente das relações internacionais contemporâneas confere uma intensa dinâmica à atividade diplomática, e que exige cada vez mais maior preparo e especialização no tratamento de questões relacionadas às agendas política, econômica, militar, social, ambiental, tecnológica entre outras, a diplomacia militar é um segmento relevante da atuação externa do Estado.
Nesse contexto, os adidos militares têm duas funções principais: representar o Ministro da Defesa do seu país, o Comandante do Estado-Maior Conjunto e os Comandantes das respectivas Forças Armadas a que pertencem, e aconselhar o embaixador ou chefe da missão diplomática em assuntos militares ou questões relacionadas com as políticas de defesa.
Quantos adidos militares estão prestando serviço em Brasília? Quais são os países que possuem maior número de adidos no Brasil?
Coronel Carlos Sanmillán – Há aproximadamente 90 adidos e adjuntos militares. A quantidade por país tem a ver com o nível de integração, cooperação e reciprocidade entre os países, onde cada força armada (marinha, exército e força aérea) pode ter seu representante, como é o caso da maioria dos países Sul-americanos, a China, EUA, a França, o México e a Rússia. O resto tem um único agregado de defesa para representar todas as forças.
Desde quando o sr. serve no Brasil? Como vê o nosso país?
Coronel Carlos Sanmillán – Comecei minha missão no Brasil em 30 de abril do ano passado. O Brasil é maravilhoso, com pessoas simpáticas e hospitaleiras que nos ensinam a sentir o Brasil como uma amada segunda pátria. Possui ainda biodiversidade e uma série de recursos naturais que lhe permitem ter uma economia relativamente diversificada, sendo a 13ª maior economia do mundo, mas com potencial de desenvolvimento ainda maior.
Em relação à sua política de defesa, destacam-se dois pilares fundamentais: a Estratégia Nacional de Defesa com objetivos perfeitamente definidos e que os diferentes governos respeitam independentemente de sua orientação, e uma indústria de defesa que cresceu significativamente nos últimos 12 anos, acompanhando o desenvolvimento do país. Ou seja, o Brasil tem uma política de Estado, graças ao consenso, de longo prazo e com desenvolvimento sustentável, o que é invejável.
Como tem sido a relação entre os adidos militares estrangeiros e as embaixadas sediadas no Brasil?
Coronel Carlos Sanmillán – Embora nós, adidos militares, reportemos diretamente aos nossos respectivos ministérios de defesa, aqui no Brasil fazemos parte da equipe de assessores que os embaixadores têm, e devemos acompanhá-los nas atividades relacionadas à defesa. Além disso, participamos ativamente de eventos culturais e sociais que acontecem nas embaixadas, principalmente quando comemoramos um feriado nacional.
A Associação de Adidos Militares Acreditados no Brasil (AAMAB) foi fundada quando? Com quais objetivos e onde funciona?
Coronel Carlos Sanmillán – A AAMAB é uma entidade social sem fins lucrativos, regida por um Estatuto e pelas disposições legais que lhe sejam pertinentes, e que iniciou suas atividades sociais em 07 de setembro de 1952 comemorando este ano o seu 70º aniversário. É composta por Agregados e Adjuntos Militares das Forças Armadas ou Forças de Segurança com Estatuto Militar, credenciados junto às embaixadas estrangeiras no Brasil. Os objetivos da AAMAB são:
- Facilitar o entendimento e as relações dos Adidos com as diversas instituições e autoridades brasileiras, particularmente com os integrantes das Forças Armadas.
- Estimular a identificação e conhecimento mútuo entre seus membros, pelo trato e intercâmbio de opiniões, em aspectos que contribuam para o interesse comum das funções que os mesmos desempenham.
- Unir esforços para consolidar os laços de amizade e cooperação entre seus membros e familiares, que transcendam e se mantenham além do tempo que perdure a missão dos seus sócios.
- Prestar assistência social a entidades regulares, mediante doações de bens, legados, recursos financeiros e outras contribuições, com expressa autorização da assembleia geral.
Sua sede e foro estão estabelecidos na cidade de Brasília-DF. Anualmente, após a eleição da Diretoria para o Ano Fiscal seguinte, é aprovado e exarado em Ata o endereço de fixação da sede, na embaixada do país de origem do presidente eleito. É por isso que este ano o local é a embaixada da Argentina.
Quais são as prioridades da AAMAB?
Coronel Carlos Sanmillán – Suas prioridades são a coordenação e cooperação mútua; tendo como finalidade fundamental cultivar a solidariedade entre seus membros e aqueles com quem se relacionem; incentivar à prática de atividades recreativas e eventos de confraternização entre seus associados, sendo-lhe vedada qualquer atividade de natureza político partidária e religiosa. Este último conceito é essencial para garantir a existência da associação, além de considerar e respeitar a igualdade entre todos os associados. Se isso tem que ser resumido, nosso lema o deixa claro: “AMIZADE E COOPERAÇÃO”
Quais são os próximos eventos planejados pela AAMAB, onde e quando se realizarão?
Coronel Carlos Sanmillán – As principais atividades são as reuniões da Assembleia Geral Ordinária no começo e final do ano, onde são aprovadas as atividades e o orçamento e é eleita a nova diretoria para o ano seguinte, o jantar de boas-vindas aos novos integrantes e despedida das autoridades das Forças Armadas brasileiras, as visitas a diversas instituições, como ao Supremo Tribunal Militar, ao Palácio do Governo, Congresso Nacional, as viagens de observação de interesse militar a diversas partes do país, torneios esportivos com familiares e com militares brasileiros, a Festa das Nações onde cada país apresenta suas comidas típicas, a festa de aniversário dos 70 anos da AAMAB e a entrega de medalhas aos adidos que cumprem sua missão e às autoridades brasileiras que se destacaram pela cooperação.
Além disso, coordenamos em fevereiro a ajuda dos associados aos atingidos pelas enchentes em Salvador. Todas estas atividades sempre contam com o apoio do Ministério da Defesa e das Forças Armadas sem os quais não poderíamos cumprir com nossa agenda. Ao longo do ano, são realizadas reuniões das esposas para celebrar os aniversários, e encontros informais de despedida dos adidos que saem do país, acompanhando-os ao aeroporto para desejar-lhes um feliz regresso à pátria e dizer “ATÉ BREVE!”
Perfil – Coronel Carlos Sanmillán – Graduou-se pelo Colégio Militar da Nação como 2º Tenente da Arma de Infantaria em dezembro de 1989. Desde então exerceu funções dentro do Exército relacionadas à sua especialidade. Foi comandante da Companhia de Forças Especiais; 2º comandante do Regimento de Assalto Aéreo; comandante da Companhia de Comandos 601; comandante do Regimento de Infantaria de Selva 28; vice-diretor da Escola de Tropas Aerotransportadas e Operações Especiais; e diretor da Escola de Tropas Aerotransportadas e Operações Especiais.
Possui as aptidões especiais de paraquedista militar, comando, mergulhador do Exército, Selva e Assalto Aéreo. O coronel Carlos Sanmillán tem treinamento especial de instrutor de comando, instrutor de Mergulhador do Exército, instrutor de selva, chefe de Lançamento, Alta Infiltração e Forças Especiais.
É oficial de estado-maior e graduado em Estratégia e Organização. Concluiu o curso de Direito Internacional Humanitário na Universidade Católica São Tomas Moro e os cursos básico e avançado de Estado Mayor, Planejamento Militar Conjunto no nível operacional, Coordenação Cívico Militar em Operações Complexas e Comunicação Institucional. Desenvolve o seguinte trabalho de pesquisa e tese: “Espaços vazios na República Argentina: riscos e ameaças à região patagônica”, ESG ano 2004.
Recebeu as seguintes condecorações e distinções: – “Nações Unidas”, pela sua participação na UNPROFOR – CROÁCIA – Out 92/Abr 93 e “Nações Unidas”, pela sua participação na UNFICYP – CHIPRE – Out 05/ Abr 06. “Distinctive Staff Officer”, atribuído pela Escola Superior de Guerra. Atualmente é adido militar na embaixada da Argentina e presidente da Associação de Adidos Militares Acreditados em Brasil (AAMAB).
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