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O próprio organizador da Conferência reconheceu: na ausência da Rússia, esta cúpula para a paz na Ucrânia é só um “primeiro passo” para a resolução do conflito. Não se esperam grandes progressos, o objetivo declarado é, além disso, modesto: “inspirar um futuro processo de paz” e resultar, na melhor das hipóteses, num roteiro para futuras negociações. Estas, com a Rússia.
A Ucrânia espera com este encontro obter o mais amplo apoio possível ao seu plano de paz de dez pontos, apresentado no final de 2022 pelo presidente ucraniano. A começar pelos pontos mais consensuais: a liberdade de navegação no Mar Negro, a segurança das instalações nucleares, em particular a central eléctrica de Zaporíjia, e o regresso ao seu solo de dezenas de milhares de crianças ucranianas deportadas pela Rússia.
Para Kiev, é crucial não ficar isolado de Moscou no caso de negociações com a Rússia. “Um plano de paz apoiado por uma centena ou mais países seria muito difícil de contestar”, explicou o chefe da administração presidencial ucraniana no início da semana. A ideia é manter viva a causa ucraniana e preparar-se para o próximo passo que poderá ser dado com a Rússia. Foi o que sugeriu a presidência ucraniana.
Países do Sul ausentes por não terem sido convidados por Moscou
Mas, por enquanto, Kiev está lutando para expandir o apoio diplomático de que a Ucrânia necessita: além dos países ocidentais, potências emergentes como a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul mostraram-se relutantes, até mesmo hostis, a esta cúpula organizada sem a Rússia. Não ter recebido um convite de Vladimir Putin foi a razão apresentada pela China para faltar à reunião.
Até o último momento, os europeus trabalharam arduamente para convencer os seus homólogos dos países do Sul a virem para a Suíça. Mas nem o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, nem o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva – embora presentes em Genebra há poucos dias – quiseram ir ao complexo hoteleiro Bürgenstock. Ambos os países estarão representados.
De resto, estarão presentes os líderes franceses Emmanuel Macron, o alemão Olaf Scholz, a italiana Giorgia Meloni e o britânico Rishi Sunak. Tal como os principais chefes de estado e de governo europeus. O mesmo vale para a vice-presidente americana Kamala Harris.
Perante a perspectiva de preparar possíveis conversações, o Kremlin deu as suas condições para iniciar as negociações: a retirada total do exército ucraniano das áreas cobiçadas por Moscou e que Kiev renuncie a qualquer aproximação com a Otan. O que equivaleria ao rendimento de Kiev. Volodymyr Zelensky rejeitou o que chama de “ultimato” comparável aos de “Hitler”.
Rússia responde com ameaças
Embora as autoridades russas não tenham sido convidadas, a presença da Rússia é definitivamente sentida, mas sob a forma de ameaça já que muitos sites relacionados à cúpula na Suíça foram atacados por hackers pró-Rússia. Neste contexto, os organizadores prepararam um extenso sistema de segurança para proteger os diversos líderes e personalidades presentes.
Para evitar ameaças físicas, nada é deixado ao acaso: o espaço aéreo está fechado durante quase 60 quilômetros em torno da montanha Bürgenstock e quase ninguém é permitido perto do complexo hoteleiro. Quatro mil soldados e centenas de policiais estão mobilizados.
Mas isso não assusta um morador da região, que foi até o limite da zona restrita para tentar ver o chefe de Estado ucraniano. “Porque me interessa”, explica. “Se há tantas pessoas importantes vindo…”
Por Jérémie Lanche, correspondente especial da RFI em Stansstad